Visitantes transatlânticos
Todos os anos milhares de turistas visitam Portugal, vindos das mais diversas proveniências. Chegam em busca da nossa gastronomia, das belas e diversificadas paisagens, da história e cultura, das praias, do clima e claro, dos preços (ainda) bastante comportáveis para os habitantes da maioria dos países desenvolvidos. Em 2018 foram os ingleses que em maior número nos visitaram, seguidos por franceses, alemães e espanhóis. Apesar de andarem longe dos lugares cimeiros, o INE indicou que a afluência de visitantes transatlânticos tem vindo a aumentar (principalmente americanos e canadianos). No entanto, os humanos não são os únicos a cruzar o grande oceano que nos separa das Américas... outros animais também vão aparecendo por cá.
Se alguns destes visitantes chegam ao nosso território por meios antropogénicos e bastas vezes permanecem, dando origem a populações invasoras mais ou menos auto-sustentáveis, há os que o fazem por meios próprios e que tendem a desaparecer tão rapidamente como apareceram.
Garça-verde (Butorides virescens) Herdade da Aroeira - Almada (09-11-2018)
Apesar de não existirem registos desta ave no nosso país até 2018, muitos já conheciam a garça-verde através da divulgação de vídeos onde é vista a utilizar pedaços de pão como isco para capturar peixes. Cerca de dez dias após a tempestade Leslie atingir Portugal (13-10-2018), foi registada uma destas garças na Quinta do Lago (Loulé) e mais dez dias passados foi descoberta uma segunda ave na Herdade da Aroeira (Almada). Possivelmente terão chegado à nossa costa empurradas pela tempestade e imediatamente procuraram habitats favoráveis. A ave de Almada foi observada pela última vez no início de novembro do mesmo ano e a algarvia teve a última observação registada dia 08-04-2019. Que destino terão? Podemos apenas especular...
Falsa-tartaruga-de-mapa (Graptemys pseudogeographica) Herdade da Aroeira - Almada (01-05-2019)
O comércio de animais exóticos tem crescido nas últimas décadas, levando a que múltiplas espécies de "animais de estimação" existam hoje no nosso país, geralmente confinados a gaiolas, terrários ou aquários. Mas, quando um destes animais deixa de ser desejado (seja porque cresceu mais do que se esperava, porque dá muito trabalho, porque come muito, ou por qualquer outra razão), muitas vezes acabam por ser "libertados" na natureza. Estes são autênticos crimes ambientais que podem acarretar consequências devastadoras para a nossa biodiversidade autóctone.
Tartaruga-da-florida (Trachemys scripta elegans) Parque da Paz - Almada (07-04-2016)
Um caso paradigmático é o da libertação de várias espécies de tartarugas exóticas nos nossos cursos de água. Estes animais crescem mais e mais depressa que os nossos cágados-mediterrânicos (Mauremys leprosa) e cágados-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), atingem a maturidade sexual mais cedo e procriam em maior quantidade. Todas estas vantagens competitivas estão a ter um impacto negativo nas espécies autóctones.
Borboleta-monarca (Danaus plexippus) Vila Nova de Milfontes (25-06-2016)
Muitos conhecidas pela espectacular migração que protagonizam na América do Norte, desconhece-se como é que as monarcas chegaram ao nosso país. Há quem afirme que podem ter voado até cá desde os arquipélagos da Madeira ou dos Açores (há muito que existem colónias nas regiões autónomas), outros insinuam que terão sido introduzidas pela mão humana. Tendo a sua presença começado a ser estudada apenas no início da década de 2000 no Algarve, o certo é que aproveitando-se da existência de uma planta também ela exótica (Gomphocarpus fruticosus - pertencente à mesma família das plantas das quais as suas lagartas se alimentam no continente americano, a Asclepia curassavica), esta vistosa borboleta tem vindo a formar colónias mais para norte. Até onde poderá chegar? Trará com ela consequências para as nossas espécies autóctones? É algo a descobrir nos próximos anos.
Mergulhão-caçador (Podilymbus podiceps) Sesimbra (20-01-2018)
Já este caçador de pequenas dimensões foi avistado por cá apenas três vezes... aparentemente aves que chegaram a nós pelos seus próprios meios, tendo atravessado o atlântico para chegarem a uma terra onde se instalaram sós, apenas para desaparecerem ao fim de algum tempo sem que seja conhecido o seu destino. Terão partido? Terão fenecido? Ainda estarão entre nós, escondidos nalguma barragem no interior do país? Como sempre, muitas perguntas, poucas respostas...
[EN]
Transatlantic visitors
Every year thousands of tourists visit Portugal, coming from many different origins. They come in search of our gastronomy, the beautiful and diversified landscapes, history and culture, beaches, climate and of course the (still) quite affordable prices. In 2018 were the English who in greater number visited us, followed by French, German and Spanish. Although far from the top, the influx of transatlantic visitors has been increasing (mainly from the United States and Canada). However, humans are not the only ones to cross the great ocean that separates us from the Americas... other animals also appear here.
If some of these visitors come to our territory by anthropogenic means and often remain, creating more or less self-sustaining invasive populations, there are those who do so by their own means and who tend to disappear as quickly as they appeared.
Picture 1
Green Heron (Butorides virescens) Herdade da Aroeira - Almada (09-11-2018)
Although there are no records of this bird in our country until 2018, many already knew the green heron through the dissemination of videos where it is seen using pieces of bread as bait to catch fish. About ten days after the storm Leslie reached Portugal (13-10-2018), one of these herons was observed in Quinta do Lago (Loulé) and ten days later a second bird was discovered in Herdade da Aroeira (Almada). They possibly have reached our shores pushed by the storm and immediately sought favorable habitats. The Almada bird was last observed at the beginning of November of the same year and the Algarve one had the last observation registered on 08-04-2019. What destination will they have? We can only speculate...
Picture 2
False Map Turtle (Graptemys pseudogeographica) Herdade da Aroeira - Almada (01-05-2019)
Exotic animal trade has grown in recent decades, leading to the existence of multiple species of "pets" in Portugal today, usually confined to cages, terrariums or aquariums. But when one of these animals ceases to be desired (either because it has grown more than expected, because it gives a lot of work, because it eats a lot, or for whatever other reason), it often ends up being "liberated" in nature. These are true environmental crimes that can have devastating consequences for our native biodiversity.
Picture 3
Pond Slider (Trachemys scripta elegans) Parque da Paz - Almada (07-04-2016)
A paradigmatic case is the liberation of several species of exotic turtles in our waterways. These animals grow bigger and faster than our Mediterranean Pond Terrapin (Mauremys leprosa) and European Pond Terrapin (Emys orbicularis), they reach sexual maturity sooner and breed in greater numbers. All these competitive advantages are having a negative impact on native species.
Picture 4
Monarch Butterfly (Danaus plexippus) Vila Nova de Milfontes (06-25-2016)
Well known by the spectacular migration that they carry out in North America, it is not known how the monarchs arrived to our country. There are those who claim that they may have flown here from the archipelagos of Madeira and Azores (there have long been colonies in these islands), others suggest that they must have been introduced by human hand. Although its presence began to be studied only in the beginning of the 2000s in Algarve, the fact is that they have takem advantage of the existence of an exotic plant (Gomphocarpus fruticosus - belonging to the same family of plants from which its caterpillars feed in the American continent, the Asclepia curassavica) and this flashy butterfly has been forming colonies more to the north. How far can they get? Will it have consequences for our native species? It's something to find out in the next few years.
Picture 5
Pied-billed Grebe (Podilymbus podiceps) Sesimbra (01-20-2018)
This small hunter was only seen here three times... apparently birds who came to us by their own means, having crossed the Atlantic to reach a land where they settled alone, only to disappear after some time with unknown destiny. Did they leave? Are they deceased? Could they still be among us, hidden in some dam in the interior of the country? As always, many questions and few answers...