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bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

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Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

29
Nov20

Livros de bichos - Aves em papel

Da última vez que escrevi aqui sobre livros, foquei-me nos guias de campo, tendo apresentado aqueles que mais utilizo. Hoje quero mostrar algo diferente... ao invés de guias que ajudem a identificar os animais que vemos no campo, trago alguns livros onde podemos encontrar conhecimento acerca desses bichos. Mais uma vez, como o meu principal foco são as aves, é neste grupo que tenho feito um maior investimento em literatura.

 

All the birds of the world

All the Birds of the World, Josep del Hoyo (Editor) - Lynx 2020

Tal como o seu nome indica, este grande livro (expressão de duplo sentido) apresenta-nos pela primeira vez todas as aves do mundo num único tomo. As espécies aceites por qualquer uma das quatro maiores autoridades taxonómicas estão representadas por bonitas ilustrações, onde são mostradas as variações derivadas do dimorfismo sexual, bem como as várias formas e subespécies. São também mostrados os nomes comuns (em inglês) e científicos das aves, bem como os mapas de distribuição actualizados à data presente.

All the birds of the world

Cada espécie é acompanhada de um QR code através do qual podemos aceder à respectiva página na plataforma eBird, onde podemos encontrar mapas de registos, fotografias, vídeos, sonogramas e diversas outras informações relevantes.

eBird

eBird

Este livro pode ser adquirido na página da editora Lynx e está em promoção, custando de momento 65€.

 

Aves de Portugal - Ornitologia do território continental, Catry, P., Costa, H., Elias, G. & Matias, R. - Assírio & Alvim (2010)

Nas 941 páginas deste excelente livro, os quatro autores lograram compilar grande parte do conhecimento documental acerca da avifauna portuguesa, complementado pela sua extensiva experiência de campo.

Após uma breve caracterização geral de Portugal ao nível do relevo, hidrografia, clima e população, é-nos apresentada uma descrição e enquadramento histórico dos diversos biótopos que podemos encontrar pelo país. Nas páginas seguintes, naquele que - para mim - é talvez o capítulo mais valioso deste compêndio, podemos deliciar-nos com uma fantástica resenha histórica da ornitologia do território continental, ainda que apresentada pelos autores como "um modesto ensaio sobre tão fascinante tema", com o "propósito de homenagear todos os que contribuíram para o estado do conhecimento actual sobre as nossas aves". Depois, são-nos indicadas as aves cuja presença já foi registada no país, com uma completa descrição da sua distribuição, habitat e abundância, biologia da reprodução, movimentos e fenologia, alimentação e taxonomia, bem como algumas outras informações consideradas relevantes.

Única no que diz respeito a bibliografia portuguesa, esta é uma obra que eu recomendo vivamente a qualquer pessoa que tenha interesse por aves selvagens, mas está infelizmente esgotada há vários anos, não existindo previsão para uma reedição. Devido a uma intensa procura nos últimos anos, mesmo na internet não tem sido possível encontrar exemplares à venda. Quem sabe ainda exista um ou outro perdido na banca de algum alfarrabista.

 

New Generation Guide: Birds of Britain and Europe

New Generation Guide: Birds of Britain and Europe, Christopher Perrins - Collins (1987)

Adoro este livro. Embora o seu título pareça apresentá-lo como apenas mais um guia de campo, no meio de tantos outros que existem por aí, este pequeno volume almeja a muito mais.

New Generation Guide: Birds of Britain and Europe

Tal como Sir David Attenborough tão eloquentemente explana no seu prólogo, este "guia" pretende não apenas ajudar a identificar as aves que podemos encontrar no campo, como também (e talvez principalmente) responder às questões que possam surgir... Como é que espécies tão fisicamente diferenciadas são agrupadas numa certa família? Porque é que algumas aves apresentam dimorfismo sexual e outras não? Porque é que umas ocorrem aqui e outras ali? Estes, entre tantos outros comos, quandos e porquês, são respondidos nesta obra, prestando uma preciosa ajuda para que o observador consiga atingir uma compreensão mais profunda acerca daquilo que observa no campo.

Como guia de campo é fraco, relativamente a outros que já aqui apresentei, pois as suas ilustrações não serão as mais rigorosas nem as suas indicações as mais precisas, no que toca a evidenciar pormenores de identificação das espécies mais complicadas. Mas como fonte de informação é sublime, revelando de forma completa (ainda que resumidamente) muito daquilo que é a ecologia das aves que ocorrem na Europa. Já referi que adoro este livro?

Como é antigo, não consta das prateleiras das livrarias. Ainda assim, é possível encontrá-lo na Amazon ou no Ebay em muito bom estado e a preços muito acessíveis, a rondar os 10€. Pelo que sei, nunca teve uma edição em português.

 

A Birdwatcher's Guide to Portugal, the Azores & Madeira Archipelagos, Moore C., Elias G. & Costa H. - Birdwatchers' Guides, Prion (2014)

Pensado para o observador estrangeiro de visita a Portugal, por isso editado em língua inglesa, este livro revela os melhores locais para observar aves no país. 

Para cada zona de interesse é indicada a sua localização, uma breve descrição do seu enquadramento e topografia, algumas recomendações ao nível da estadia na região e um resumo das principais aves que ali ocorrem, bem como a estratégia recomendada para maximizar as hipóteses de as observar. Aqui são indicados os principais pontos de interesse, bem como a melhor forma de os abordar, incluindo alguns mapas auxiliares. É um livro bastante útil a qualquer um que se esteja a iniciar neste mundo das aves e/ou que pretenda conhecer um pouco mais do "país ornitológico".

Este exemplar foi-me oferecido por um dos autores, pelo que não sei se existe em livrarias ou alfarrabistas portugueses. No entanto pode ser encontrado na Amazon por preços a rondar os 30€.

 

Nomes Portugueses das Aves do Paleártico Ocidental

Nomes Portugueses das Aves do Paleártico Ocidental, Hélder Costa et al. - Assírio & Alvim (2000)

"Em Portugal, a primeira tentativa de estabelecer uma lista padrão de nomes vernáculos de aves data de 1962 (Sacarrão 1962-63). Pretendia-se com essa lista acabar com a confusão existente da nossa avifauna que, na altura, segundo vários autores estrangeiros, seria a mais caótica e obscura da Europa. Em 1979 essa lista viria a ser actualizada (Sacarrão & Soares 1979) mantendo-se até hoje como referência fundamental."

Este parágrafo consta do preâmbulo deste livro e enquadra a necessidade sentida pelos autores de, passados 20 anos sobre a publicação da lista de Sacarrão & Soares, rever a nomenclatura portuguesa das aves que ocorrem na nossa parte do mundo.

Nomes Portugueses das Aves do Paleártico Ocidental

Pouco consensual, a publicação desta lista e a sua adopção por parte da SPEA como "semi-oficial" veio mesmo causar alguns atritos e gerar alguma polarização no seio da comunidade ornitológica portuguesa. Pessoalmente, parece-me interessante, relevante e justa a tentativa dos autores de "privilegiar a utilização dos nomes vulgares existentes no espaço cultural lusófono", mantendo dessa forma uma ligação às regiões e às gentes do país real, algo que é muitas vezes olvidado por alguns autores de obras académicas.

Resultado de "uma vasta consulta de documentos e peritos e da oscultação de numerosas opiniões", neste livro são ressalvados os regionalismos e o conhecimento empírico que as populações possuem sobre as aves e a natureza. Embora eu não utilize alguns dos nomes que aqui são propostos, acho que este é uma obra com muito valor e que fazia falta na bibliografia ornitológica portuguesa.

Esgotado na maior parte dos locais, este livro pode ainda ser adquirido na Wook, por cerca de 10€.

13
Nov20

As aves e os seus habitats - Zonas intermarés: o lodo

Um habitat pode ser composto por um conjunto de diferentes biótopos, que não são mais do que áreas geográficas onde as condições ambientais são constantes ou cíclicas. Na verdade, grande parte dos habitats que existem no nosso país estão sujeitos a fenómenos periódicos que, de alguma forma, alteram as suas características.

Entre eles, as zonas intermarés serão, possivelmente, aqueles que apresentam a mais radical alteração de condições, num menor ciclo temporal. Margens ribeirinhas, praias, lagoas costeiras, sapais... consoante a geografia e geologia do terreno, as áreas deixadas a descoberto pela baixa-mar podem apresentar características muito diferentes. No entanto, há algo em comum em todos estes locais: o vai-e-vem regular das marés e o ritmo de vida que elas impõem às aves que ali se alimentam. Hoje vamos falar de um biótopo muito específico: as zonas de lodo.

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) Sado - Gâmbia (25-01-2020) (3).JPG

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) Herdade da Gâmbia, Setúbal (25-01-2020)

 

Quando a maré retrocede, revelando paulatinamente os lodos repletos de pedaços de conchas e algas, as aves começam a mostrar-se, abandonando os locais onde repousam durante a preia-mar. 

Fuselo (Limosa lapponica) Seixal (11-10-2020)

Milherango (Limosa limosa) Lisboa (29-01-2016)

 

Surgem vindas das salinas circundantes, dos pequenos mouchões dos sapais ou da vegetação marginal dos rios e começam a distribuir-se pelas margens crescentes onde se vão alimentar, acompanhando o refluxo das águas.

Perna-verde-comum (Tringa nebularia) Seixal (10-03-2019)Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula) Barreiro (05-01-2019)
Maçarico-galego (Numenius phaeopus) VN Milfontes (20-10-2018)Pilrito-pequeno (Calidris minuta) Parque Tejo, Lisboa (04-02-2018)

 

Várias espécies de límicolas percorrem os lodos húmidos em busca dos pequenos invertebrados dos quais se alimentam, chegando até a dar origem a bandos mistos com centenas ou mesmo milhares de indivíduos. Garças prospectam as águas rasas em busca de peixes incautos, flamingos filtram o lodo dentro de água, capturando os pequenos crustáceos que lhes dão a sua famosa cor, colhereiros "varrem" em busca de invertebrados e pequenos peixes. Podemos até encontrar passeriformes, como o pisco-de-peito-azul, nas zonas mais próximas da vegetação.

Colhereiro (Platalea leucorodia) Parque Tejo, Lisboa (04-02-2018)Flamingo-rosado (Phoenicopterus roseus) Seixal (03-04-2017)
Garça-branca-pequena (Egretta garzetta) Montijo (18-03-2017)Garça-real (Ardea cinerea) Parque Tejo, Lisboa (12-12-2015)

 

A questão da competição pelo alimento entre estas aves foi resolvida ao longo das eras, pela selecção natural. A diversidade de características físicas e comportamentais permite que coexistam num mesmo espaço.

Pilrito-de-bico-comprido (Calidris ferruginea) Seixal (01-11-2020)Íbis-preta (Plegadis falcinellus) Seixal (28-09-2020)
Frango-d'água (Rallus aquaticus) Sesimbra (13-06-2018)Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos) Seixal (07-01-2018)
Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola) Amora (22-10-2017)Perna-vermelha-bastardo (Tringa erythropus) Vila Franca de Xira (27-08-2017)
Pilrito-comum (Calidris alpina) Península da Carrasqueira (01-05-2017)Perna-vermelha-comum (Tringa totanus) Seixal (05-02-2017)

 

Algumas possuem bicos longos, para procurar alimento que esteja enterrado mais fundo, outras têm bicos curtos para capturar pequenos animais que existem mais à superfície. Há as que têm patas mais longas e bicos como lanças afiadas, para poderem trespassar os peixes nas águas rasas e há os que desenvolveram bicos poderosos o suficiente para quebrar as cascas dos bivalves. Cada espécie está perfeitamente adaptada à forma como vive e se alimenta.

Guincho-comum (Chroicocephalus ridibundus) Seixal (10-03-2019)Narceja-comum (Gallinago gallinago) Sesimbra (01-11-2016)
Maçarico-real (Numenius arquata) Amora (15-08-2016)Pernilongo (Himantopus himantopus) Seixal (20-03-2016)
Maçarico-bique-bique (Tringa ochropus) Vila Franca de Xira (28-02-2016)Rola-do-mar (Arenaria interpres) Amora (28-01-2016)

 

Embora as espécies límicolas estejam geralmente em larga maioria, podemos também ali encontrar algumas gaivotas, rapinas, garças, patos e gansos. 

Ganso-bravo (Anser anser) Vila Franca de Xira (05-11-2017)Marrequinha (Anas crecca) Vila Franca de Xira (10-04-2016)

 

E de vez em quando, muito de vez em quando, surge uma daquelas aves especiais que todos os observadores gostam de encontrar. Uma raridade vinda de paragens longínquas que encontrou abrigo num qualquer lodaçal deste recanto à beira-mar plantado. Como aquela garça americana que descobriu guarida numa vala algures num sapal algarvio, ou o pequeno maçarico que escolheu o rio Sado para passar o inverno, por exemplo. 

Goraz-coroado (Nyctanassa violacea) Faro (04-06-2020)Maçarico-sovela (Xenus cinereus) Setúbal (09-11-2019)

 

Uma multiplicidade de formas, cores, sons e comportamentos... nestas zonas de aspecto escuro e monótono, mas ricas em alimento, a diversidade biológica é rainha. No entanto, passadas cerca de 6 horas, a maré virou e iniciou o seu avanço inexorável em direcção às margens, empurrando à sua frente esta miríade de aves que novamente ganharão os céus e se dirigirão aos seus locais de repouso. Mais um ciclo que se completa, numa dança interminável, ao ritmo das marés.

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