Em janeiro de 2022 irá ser realizado pela segunda vez um censo ibérico da população invernante de águias-pesqueiras. Iniciativa original do portal avesdeportugal.info, este será o quinto censo desta espécie a ser levado a cabo no nosso país.
Os locais a visitar compreendem as zonas húmidas costeiras (estuários, rias e lagoas), bem como as grandes albufeiras do interior.
Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) Lezíria Grande de Vila Franca de Xira (23-12-2017)
Para participar autonomamente é necessário apenas possuir um par de binóculos e saber identificar uma águia-pesqueira. Pessoas que não possuam um (ou ambos) destes requisitos e ainda assim desejem participar nesta acção de ciência-cidadã, serão (dentro da medida do possível) colocadas com um observador mais experiente que possa assegurar a contagem.
Rede provisória de pontos de observação no estuário do Tejo - jusante
Pela terceira vez vou estar a coordenar as contagens na área do estuário do Tejo jusante (entre Pancas e o Seixal) e, se desejarem participar nesta área, podem entrar em contacto comigo através da caixa de comentários ou do email disponível no meu perfil. Caso o pretendam fazer noutra zona do país, podem à mesma contactar-me (eu encaminho-vos para o respectivo coordenador regional), ou enviar um email directamente à coordenação nacional através do endereço geral@avesdeportugal.info.
Venham passar uma manhã no campo e contribuir um bocadinho para o conhecimento sobre esta incrível ave de rapina.
À data que comecei a escrever esta publicação, tendo recentemente completado 42 anos e estando no início daquela que vai certamente ser a maior aventura da minha vida, foi com naturalidade que senti instalar-se alguma nostalgia, quando decidi organizar alguns registos das minhas saídas de campo.
Hoje, quase exactamente seis anos depois de me iniciar nesta "má vida" de observador de aves/naturalista (extremamente) amador, olho para trás e vejo mais de três centenas de espécies de aves e mais de mil espécies de outros bichos e plantas observados, vejo os livros que li na tentativa de aprender mais sobre eles, vejo as pessoas que chateei com pedidos de ajuda, vejo o quanto aprendi e cresci nesta actividade. Vejo também o muito (mas muito) mais que me falta aprender... que sensação!
Sempre acreditei que a experiência não depende directamente dos kms que percorremos, mas sim daquilo que fazemos ao longo do percurso, da aprendizagem que dali conseguimos retirar.
Portanto, sinto-me privilegiado por ter logrado visitar grande parte do nosso país e por ter visto locais fantásticos, dignos de figurar num qualquer documentário da BBC ou da National Geographic. Deslumbrei-me com os vales mais profundos das terras nortenhas, naveguei ao largo da mesma costa de onde partiram os grandes navegadores de outrora, explorei as douradas planícies alentejanas, caminhei no leito do Tejo, visitei o ponto mais alto do continente e conheci os estuários dos nossos maiores rios.
Faltam-me as ilhas. Quem sabe, um dia...
Por esse país fora, observei abutres imponentes e águias majestosas, vi estepárias na aridez da planície e aves marinhas a sobrevoar o oceano. Sondei a noite em busca das misteriosas aves nocturnas e investiguei as copas de árvores e arbustos em busca dos mais pequenos passarinhos. Vi lontras, javalis, raposas e veados e comovi-me com os golfinhos brincalhões. Procurei insectos e aranhas, fotografei plantas, fungos e até bactérias.
Talvez pareça ser algo estranho para se fazer nos tempos livres, levantar de madrugada para ir para o mato observar a natureza... mas há "pancadas" piores, suponho.
No entanto, nem só de auto-recreação é feito este hobbie... as parcas competências que fui desenvolvendo permitiram-me, por exemplo, contribuir um pouco para o estudo das aves, através da colaboração voluntária em diversos censos e contagens. Pude também fazer algum trabalho "a sério", tendo a oportunidade de trabalhar com profissionais de excelência e utilizar tecnologia de ponta. Cheguei até a ministrar um workshop, experiência "aterrorizante", mas extremamente recompensadora...
Ao longo deste percurso, apesar de ser um bicho-do-mato, fui conhecendo bastantes pessoas e tenho orgulho em dizer que fiz uma mão-cheia de amigos, com os quais tem sido um prazer partilhar as minhas aventuras em busca da bicharada.
Desde partilhar o deslumbre com uma fabulosa paisagem ou a alegria de observar pela primeira vez uma espécie, às conversas mais sérias sobre natureza, ciência, sociedade, política, até filosofar sobre o sentido da vida ou a profundidade do universo... ou então, apenas gastar tempo a dizer as maiores patetices e a fazer as mais ridículas macacadas. Tudo é possível na companhia de pessoas que sofrem da mesma "doença mental".
Parece que foi ontem que me sentei num cadeira no sapal, ao nascer do sol, e fiquei cerca de 3 horas a ver uma águia-pesqueira a cuidar da plumagem... eram os meus primeiros passos neste mundo e estava tão longe de imaginar tudo o que iria ver e viver nos próximos anos. Aqueles documentários sobre natureza que antes eu apenas via na TV, passei a vivê-los. A uma escala diferente, é certo, sem leões, girafas e rinocerontes, mas ainda assim não menos impressionantes.
Estes seis anos de aventuras na natureza, percorrendo alguns dos locais mais incríveis que Portugal continental tem para oferecer, na companhia de amigos que "falam a mesma língua", passaram num ápice. Venham os próximos, que serão indubitavelmente muito diferentes... e ainda melhores, acredito.
Se há conselho que hoje me sinto capacitado para dar a alguém é: vivam os vossos sonhos e partilhem as vossas loucuras com quem vos compreenda. Aproveitem a vida, pois... o tempo voa.