Embora seja uma ave bastante comum nas nossas águas e muitas vezes avistada a partir da costa, não a encontraremos nas nossas praias ou falésias.
Alcatraz ou Ganso-patola (Morus bassanus) RN Berlengas (21-05-2017)
O alcatraz só poisa em terra firme quando está extremamente debilitado ou quando pretende nidificar. Mas, como esta espécie não nidifica no nosso país, as imagens que mais facilmente conseguiremos reter são o seu poderoso voo ou os seus espectaculares mergulhos quando caem a pique dos céus na tentativa de capturar um peixe mais descuidado.
Alcatraz ou Ganso-patola (Morus bassanus) RN Berlengas (21-05-2017)
Nesta espécie relativamente fácil de reconhecer devido ao seu porte e formato do corpo, os juvenis apresentam um tom pardo malhado ou manchado, ao passo que os adultos são essencialmente brancos com a ponta das asas preta. O seu corpo fusiforme permite-lhe os espantosos mergulhos e, quando visto ao longe, dá-lhe a aparência de ter duas cabeças - "uma para cada lado".
Alcatraz ou Ganso-patola (Morus bassanus) RN Berlengas (21-05-2017)
Numa visita da SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) à Reserva Natural das Berlengas, tivémos a oportunidade de os ver bem de perto a rondar a embarcação e detectámos mesmo 3 destas belas aves poisadas num rochedo dos Farilhões, coisa que deixou todos a bordo bastante entusiasmados com a possibilidade de que estivessem a tentar nidificar por ali. É algo a tentar verificar no futuro...
Alcatraz ou Ganso-patola (Morus bassanus) RN Berlengas (21-05-2017)
♪♫ It's not time to make a change Just relax, take it easy You're still young, that's your fault There's so much you have to know... ♪♫
Decorria o ano de 1970 quando Cat Stevens cantou esta música, com ela relembrando ao mundo o quão importante e complexa é a relação entre pais e filhos.
De facto, nos animais mais evoluídos (nomeadamente nos mamíferos e nas aves) a dependência dos progenitores por parte das crias é gritante, tanto ao nível do suporte de vida (alimentação e protecção) como da aprendizagem dos comportamentos e estruturas sociais.
Dedicados de forma extremosa à criação e educação dos seus juvenis, os galeirões são no entanto pais bastante ríspidos, administrando por vezes verdadeiras sovas às quais as crias nem sempre sobrevivem. É assim a natureza: protectora, porém crua e brutal.
Uma coisa é certa: aqueles que chegarem à fase adulta estarão preparados para sobreviver às agruras de uma vida selvagem.
[EN]
Father & son
In 1970 Cat Stevens sang this song and reminded the world how important and complex the relationship between parents and children is.
In fact, in the more advanced animals (especially mammals and birds), the offspring dependence from their parents is striking, both in terms of life support (feeding and protection) and in the learning of social behaviors and structures.
Extremely dedicated to the upbringing and education of their juveniles, coots are nevertheless rather harsh parents, sometimes administering true beatings to which youngsters do not always survive. Nature is protective but also crude and brutal.
One thing is sure: those who reach adulthood will be prepared to survive the hardships of a life in the wild.
Entre Março e o final do verão há um som que se faz ouvir dia e noite pelos caniçais do litoral do país, anunciando a presença de um pequeno passeriforme da família das felosas.
O seu persistente canto mesmeriza-nos e provoca-nos a compulsão de o procurar, de o tentar observar... esforço muitas vezes inglório, pois esta ave é geralmente bastante tímida. Quando (se) finalmente o conseguimos encontrar é impossível não ficar ali uns minutos, magnetizados, a apreciar aquele espectáculo da natureza...
Num mundo (demasiado) formatado de acordo com os interesses da espécie humana e em que os restantes animais vão sobrevivendo como podem, algumas espécies adaptaram-se melhor que outras e aprenderam a "utilizar-nos" como ferramenta de prosperidade.
Talvez esta espécie esteja entre as mais adaptáveis e oportunistas. Caçadores, pescadores e até necrófagos, é possível encontrá-los a pescar os invasores lagostins-vermelhos nos nossos ribeiros, a seguir tractores agrícolas em busca de algum pequeno animal fugitivo, a devorarem os restos de alguma vítima de atropelamento ou até a alimentarem-se do nosso lixo nos aterros.
A sobrevivência que se diz ser apanágio dos fortes, é na realidade um privilégio dos adaptáveis.
Milhafre-preto (Milvus migrans) IBA* Planícies de Évora (09-05-2016)
Basta um som, uma vocalização distintiva, para imediatamente sabermos o que se aproxima. Uma das visões mais belas dos nossos cursos de água: um rápido e brilhante raio azul que termina com uma explosão de laranja quando ele poisa, vigilante, no topo de um qualquer poleiro à beira d'água. Um mergulho repentino, o surgir momentos depois com uma presa no bico e um pequeno voo até ao local do repasto completam o ritual e deixam-nos com um sorriso de satisfação na cara...
Just a sound, a distinctive vocalization, and we immediately know who is coming. One of the most beautiful views of our waterways: a quick and bright blue lightning that ends with an orange explosion when he lands vigilant on top of some perch at the edge of water. A sudden dive, emerging moments later with prey in its beak and a short flight back to the perch complete the ritual and leave us with a smile of satisfaction on our face...
Kingfisher (Alcedo atthis) Sesimbra - Portugal (28-08-2016)
Seria de pensar que uma cidade densamente povoada como Lisboa não pudesse albergar uma grande variedade de espécies selvagens, devido à perturbação causada pela pressão humana.
No entanto, o sucesso evolutivo é apanágio dos adaptáveis e a vida acaba por encontrar maneiras de se desenvolver nesta floresta de betão e vidro. Em plena metrópole existem reconhecidos polos de biodiversidade como o Parque Tejo, os Jardins da Gulbenkian ou o Parque Florestal de Monsanto... mas qualquer pequeno jardim, quintal arborizado ou zona relvada pode esconder mistérios apenas revelados aos olhos dos mais atentos.
Em época de migração outonal, resolvi aproveitar o intervalo do meio da manhã para descontrair um pouco do trabalho e procurar passarinhos nos jardins das redondezas. Observei o sempre espalhafatoso gaio, alguns pardais, estorninhos, melros, três espécies de chapins, trepadeiras, piscos, um papa-moscas-preto e... a surpresa do dia.
Torcicolo (Jynx torquilla) Lisboa (11-10-2017)
Esta pequena e críptica ave da família dos pica-paus deve o seu nome ao hábito de torcer o pescoço de forma quase ofídica. Pode ser avistada no chão (devido à sua preferência alimentar por formigas) ou nos troncos das árvores onde sua plumagem mimética a torna bastante difícil de detectar.
A natureza oferece-nos constantes lições de adaptação, perseverança e superação... mas também nos presenteia com exemplos de delicadeza e fragilidade.
Este pequeno animal pertencente à ordem Ephemeroptera e é o único insecto que, passando por uma metamorfose incompleta, apresenta um estágio intermédio (subimago) de duração raramente superior a 24h, em que - apesar de ainda imaturo sexualmente - possui asas perfeitamente funcionais.
Ao contrário da sua fase larvar (ninfa) que pode durar vários anos, os adultos (imago) vivem vidas extremamente curtas, variando entre 5 minutos e um par de dias (conforme a espécie a que pertençam) e nunca se alimentarão, pois apenas dispõem de bocas vestigiais. O seu único objectivo é a reprodução.
Esta frágil criatura "decidiu" passar uma boa parte da sua vida adulta na porta do meu carro, permitindo-me um vislumbre da sua delicada beleza e, despertando em mim a natureza filosófica do ser humano, proporcionou-me a contemplação da sua (e da minha própria) efemeridade.
Efémera (Ephemera glaucops) Barragem de Morgavel - Sines (23-09-2017)
O Homem reformula o meio de acordo com as suas necessidades e com isso força os restantes animais a uma deslocalização ou nalguns casos, a uma adaptação a esse novo ambiente.
Segundo o avesdeportugal.info, o alcaravão é considerado uma ave "misteriosa e difícil de observar". De facto, com a sua plumagem críptica e os seus hábitos crepusculares e furtivos, raramente se deixa aproximar sem que entre em fuga ou "desapareça" na vegetação circundante. É apenas lógico considerar-se que um animal com tais características frequente exclusivamente zonas remotas, despidas de gente e da sua influência... mas a natureza não se deixa guiar pela lógica humana e, na sua fascinante adaptabilidade, apresenta-nos destas surpresas.
Neste dia, por volta das 8 da manhã, num lote vazio no meio de casas, oficinas, quintais e hortas, 56 olhos reptílicos perscrutavam as redondezas, vigilantes mas ainda assim tolerantes aos sons e às movimentações da população que despertava ao seu redor.
Não ouso tentar adivinhar o porquê da escolha do local, mas divirto-me a imaginar o que pensarão as pessoas nas casas vizinhas, ao ouvir os seus arrepiantes "lamentos" a ecoar pela noite... é assim que algumas lendas são criadas.
Alcaravão (Burhinus oedicnemus) Vila Nova de Milfontes - Odemira (22-01-2017)
De origem africana, estas exuberantes aves começaram a estabelecer-se no nosso país no final da década de 80 e desde então têm aumentado em número e em área de distribuição. Para o incauto observador iniciante, encontrar um destes pássaros será certamente um motivo de regozijo, devido à sua beleza. No entanto, para muitos estas são vis criatura escapadas de cativeiro cuja existência põe em causa a sobrevivência das espécies autóctones.
Tecelão-de-cabeça-preta (Ploceus melanocephalus) Paúl do Boquilobo (02-09-2017)
Será que a presença destas aves exóticas implica necessariamente um declínio das nossas? Ou poderão coexistir e prosperar em conjunto? Alguns estudos indicam que estes bichos podem estar directamente relacionadas com o declínio da população de Ecrevedeira-dos-caniços (Emberiza schoeniclus), mas nada ainda foi comprovado. No entanto, o Bico-de-lacre (Estrilda astrild) há muito que se estabeleceu no nosso país sem que existam indícios de impactos negativos... mais estudos são necessários para que se entendam a fundo as relações entre estes pequenos invasores e os nossos ecossistemas.
Serão as asas de um pardal semelhantes às de uma avestruz? E as de um abutre terão a mesma função das de um colibri?
Os membros anteriores das aves representam uma das mais fantásticas adaptações morfológicas do mundo natural. Ainda assim nem todas as espécies os utilizam da mesma forma... a especiação levou a que surgissem alterações de acordo com o uso específico que cada espécie lhes dá (ou foi o uso que levou à especiação?).
As asas das grandes planadoras desenvolveram-se de forma a facilitar a captação das correntes térmicas, os pinguins não têm a capacidade de voo, mas utilizam-nas para nadar, já os guarda-rios com o seu voo "frenético" conseguem utilizá-las de forma a mergulhar e rapidamente manobrar para voltarem à superfície.
Já este falcão é o animal mais rápido do mundo. Atinge velocidades que rondam os 300 km/h, em parte graças às suas asas longas e ponteagudas. Vê-lo a caçar é um privilégio e presenciar uma cena de caça a dois em que o casal manobrava na tentativa (bem sucedida) de capturar um andorinhão, foi dos melhores momentos "Nat Geo" que já vivi.
Are the wings of a sparrow similar to the wings of an ostrich? And the wings of a vulture will have the same function than the ones of a hummingbird?
The forelimbs of birds are one of the most fantastic morphological adaptations of the natural world, yet not all species use them the same way... speciation led to arise changes according to the specific use that each species gives them (or was that use who led to speciation?).
The wings of large soaring birds were developed to facilitate the capture of thermals, penguins do not have the flight capacity but instead use them for swimming while the kingfisher with its "frantic" flight have the capacity to dive and quickly maneuver to return to the surface.
This falcon is the fastest animal in the world. It reaches speeds around 300km/h in part thanks to its long and pointy wings. To see him hunting is a privilege and to witness a hunting scene where the couple was maneuvering in an (successful) attempt to catch a swift was one of the best "Nat Geo moments" of my life.
Peregrine Falcon (Falco peregrinus) Almada - Portugal (12-05-2016)