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bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

20
Fev21

Dinossauros modernos

Os dinossauros foram um grupo de répteis pré-históricos que dominaram o planeta por mais de 140 milhões de anos. Apesar de terem desenvolvido as mais variadas formas e tamanhos, todos tinham em comum uma característica que ajudou a garantir um maior sucesso sobre os restantes répteis que existiam na altura: os seus membros posteriores eram direitos, perpendiculares ao corpo. Esta característica pode ser observada ainda hoje nos seus mais próximos parentes vivos... as aves.

No entanto, apesar de não serem descendentes directos dos dinossauros (note-se as patas traseiras paralelas ao corpo), os crocodilos e os lagartos são os animais que mais facilmente nos trazem à mente os titãs de outrora. Ao ver um destes bichos "escarrapachados" ao sol, é quase impossível impedir que a nossa imaginação viaje mais de 65 milhões de anos no passado...

Os lagartos pertencem à subordem Sauria, compreendida na ordem Squamata (que também engloba as serpentes), uma das quatro ordens da classe Reptilia. Entre os aspectos essenciais que os distinguem das serpentes contam-se a existência de pálpebras e de ouvido externo, o facto de a sua muda de pele ocorrer por farrapos e não toda de uma vez, bem como a capacidade de autotomia (faculdade de libertar a cauda, utilizada geralmente como defesa contra predadores). E sim, entre estes aspectos não considerei a presença de patas... lá chegaremos.

Sardão (Timon lepidus)Sardão (Timon lepidus) Almada (02-07-2020)

Os nossos lagartos são essencialmente carnívoros e alimentam-se de uma grande variedade de animais, desde pequenos artrópodes como formigas ou aranhas, a micromamíferos, aves ou até outros répteis.

Se por um lado estes animais são exímios predadores, são também eles predados por uma série de outras espécies. A águia-cobreira (Circaetus gallicus) é uma especialista em capturar répteis, mas também algumas rapinas nocturnas se contam entre as aves que se alimentam destes bichos. Pássaros como o melro-azul (Monticola solitarius) e o melro-das rochas (Monticola saxatilis) são também considerados especialistas em capturar pequenas lagartixas. Mas a lista de predadores não se fica por aqui. As espécies maiores de lagartos tendem a caçar as mais pequenas e algumas serpentes baseiam mesmo a sua dieta nestes pequenos répteis quadrúpedes. Alguns juvenis chegam até a ser devorados por artrópodes como aranhas ou escolopendras. No entanto, um dos seus maiores predadores é o gato doméstico... o nosso "gatinho" de casa é um exímio caçador de lagartos e até de algumas serpentes, entre outros pequenos animais. Vários estudos, como este, realizado na Austrália, demonstram que os gatos têm um enorme impacto na biodiversidade das zonas onde ocorrem, sejam eles assilvestrados ou apenas animais de estimação aos quais lhes é permito sair de casa. Claro que, entre todas as ameaças a que estão sujeitos, a maior será de origem humana, com as alterações que causamos aos seus habitats.

Ainda assim, várias espécies de lagartos vão sobrevivendo no nosso país...

 

Lagartixa-de-dedos-denteados (Acanthodactylus erythrurus)Lagartixa-de-dedos-denteados (Acanthodactylus erythrurus) Seixal (11-04-2020)

Este é o lagarto mais rápido da europa. Conhecido como lagartixa-da-areia ou lagartixa-de-dedos-denteados, é possível vê-lo em zonas abertas a acelerar pela areia atrás de uma presa, chegando a saltar para capturá-la em pleno ar. O seu "focinho" robusto dá-lhe, aos meus olhos, um ar primitivo e faz dele um dos meus dois lagartos preferidos, entre todos os que já pude observar. Ocorre na Península Ibérica e no norte de África, sendo que em Portugal a sua distribuição está limitada a umas poucas manchas dispersas pelo país.

 

Lagartixa-do-mato-ibérica (Psammodromus occidentalis)Lagartixa-do-mato-ibérica (Psammodromus occidentalis) Seixal (19-05-2020)

Até meados de 2020 nunca tinha observado esta espécie, mas afinal até tinha uma pequena população relativamente perto de casa. A lagartixa-do-mato-ibérica vive em zonas abertas com vegetação arbustiva esparsa e alimenta-se de pequenos invertebrados. É endémica da zona ocidental da Península Ibérica, ou seja, só existe em Portugal e na zona oeste de Espanha.

 

Cobra-de-pernas-tridáctila (Chalcides striatus)Cobra-de-pernas-tridáctila (Chalcides striatus) Seixal (06-05-2020)

Ao contrário do que o seu nome parece indicar, a cobra-de-pernas-tridáctila é, na verdade, um lagarto. Ainda assim, os seus membros com três dedos são essencialmente inúteis na locomoção, pois, tal como as verdadeiras cobras, ele serpenteia quando se move. E foi exactamente o hábito de serpentear velozmente por entre as ervas que lhe granjeou um dos nomes pelos quais é conhecido: fura-pastos.

Este interessante réptil alimenta-se de pequenos invertebrados e vive em zonas abertas com alguma humidade, como prados e lameiros. Tem a curiosidade de ser ovovivíparo (os juvenis desenvolvem-se dentro de um ovo no interior do corpo da progenitora e nascem já completamente desenvolvidos).

Ocorre na Península Ibérica e no sul de França.

 

Lagarto-de-água (Lacerta schreiberi)Lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) Rio Caima - Oliveira de Azeméis (22-02-2020)

Este é, para mim, um dos lagartos mais bonitos que temos por cá. O lagarto-de-água é um excelente nadador e ocorre em habitats húmidos como margens de  ribeiros, tanques e lameiros de montanha. Alimenta-se de pequenos invertebrados e de fruta (principalmente de amoras). É endémico da Península Ibérica.

 

Lagartixa-do-Noroeste (Podarcis guadarramae)Lagartixa-do-noroeste (Podarcis guadarramae) Leomil - Moimenta da Beira (28-04-2019)

Esta pequena lagartixa é também ela um endemismo ibérico. Em Portugal ocorre na zona norte e centro. Alimenta-se de artrópodes e está bem adaptada a ambientes urbanos, sendo fácil observá-la a apanhar sol no topo de um qualquer muro velho.

 

Lagartixa-de-bocage (Podarcis bocagei)Lagartixa-de-bocage (Podarcis bocagei) Pitões da Junias - Montalegre (11-05-2018)

O verde forte no dorso dos machos desta espécie destaca-se até no meio da vegetação. Sendo também um endemismo ibérico, a distribuição da lagartixa-de-bocage em Portugal é limitada ao noroeste do território. É um pequeno lagarto bastante adaptável, sendo possível encontrá-la em terrenos abertos, clareiras, jardins e até em zonas urbanas. Alimenta-se de artrópodes.

 

Licranço (Anguis fragilis)Licranço (Anguis fragilis) Donões - Montalegre (11-05-2018)

Este animal é a razão pela qual não incluí a presença de membros nas características distintivas entre lagartos e cobras. Também conhecido como cobra-de-vidro, o licranço é um lagarto totalmente desprovido de patas, que se alimenta de invertebrados que encontra nas zonas relativamente húmidas onde vive. Ocorre em grande parte da Europa, estando a sua distribuição no nosso país limitada a norte do rio Tejo. Apesar da crença popular, o licranço é um animal completamente inofensivo para o ser humano.

 

Lagartixa-verde (Podarcis virescens)Lagartixa-verde (Podarcis virescens) Seixal (25-04-2018)

Dentro das lagartixas do género Podarcis, esta é a que tem a maior área de distribuição, estando bem distribuída a sul do rio Tejo, ainda que, para norte, a sua zona de ocorrência prolonga-se apenas pelo litoral até à zona de Espinho. Também esta espécie só existe na Península Ibérica.

É possível vê-la todo o ano, nos dias quentes ou amenos em pedras, muros, jardins ou até paredes de habitações, sendo a lagartixa que mais está presente no nosso dia-a-dia. Alimenta-se de artrópodes.

 

Lagartixa-do-mato (Psammodromus algirus)Lagartixa-do-mato (Psammodromus algirus) Espaço interpretativo da Lagoa Pequena - Sesimbra (16-04-2016)

Lagartixa robusta, de tamanho médio, que se alimenta de invertebrados e até de outros pequenos lagartos. Faz justiça ao nome, pois é geralmente encontrada em silvados, florestas, clareiras e matos em geral. Na época nupcial, o macho desenvolve uma coloração laranja na zona da cabeça que o torna inconfundível.

É uma lagartixa ágil, veloz e feroz. Quando ameaçada, podemos até ouvi-la a emitir rangidos. Alimenta-se de invertebrados e de outros lagartos.

Ocorre desde o sul de França até ao norte de África. Em Portugal pode ser encontrada por todo o território, sendo menos frequente no litoral noroeste.

 

Sardão (Timon lepidus)Sardão (Timon lepidus) Almada (02-07-2020)

Este é o meu lagarto autóctone preferido. A sua cor verde, manchada de preto e com ocelos azuis, bem como o facto de ser o maior lagarto da Europa, tornam-no inconfundível. Pode ser encontrado em zonas rochosas, dunas, hortas e até em parques urbanos, assim tenha as condições que necessita para se abrigar. Troncos velhos, buracos entre raízes ou montes de pedras são alguns dos seus esconderijos preferidos, que o macho, por ser territorial, guarda ferozmente. Ver este grande lagarto a apanhar sol numa manhã de primavera é uma visão que não deixa ninguém indiferente.

Distribui-se por todo o país e pode ser também encontrado em França, Espanha e Itália.

É omnívoro, alimentando-se de invertebrados, aves, ovos, pequenos mamíferos, fruta e até de outros lagartos.

 

Osga-comum (Tarentola mauritanica)Osga-comum (Tarentola mauritanica) Almada (30-04-2019)

Esta é a mais comum das duas espécies de osgas que ocorrem em Portugal continental. A sua má reputação precede-a, mas na verdade a osga-comum é um animal completamente inofensivo e até bastante útil ao Homem. Estes pequenos lagartos alimentam-se de moscas, mosquitos, borboletas (traças incluídas), aranhas e de variados outros invertebrados. Chegam mesmo a comer lagartos juvenis. Os dedos das osgas possuem umas escamas especiais que lhes conferem a capacidade de aderir facilmente aos mais diversos materiais, pelo que é comum vê-las a trepar paredes, tectos e às vezes até os vidros das janelas nas nossas casas.

Estes animais de aspecto estranho pertencem à subordem Sauria, como os restante lagartos, mas estão colocados sob a infraordem Gekkota. Isto significa que estes bichos que tantas pessoas acham horríveis e nojentos, são na verdade "primos" dos famosos Gekkos, tão adorados e por quem tanta gente paga muito dinheiro nas lojas de animais...

A osga-comum distribui-se por toda a bacia mediterrânica, tendo nos últimos anos vindo a expandir para norte no nosso país.

 

Camaleão (Chamaeleo chamaeleon)Camaleão (Chamaeleo chamaeleon) Quinta do Marim - Olhão (23-05-2020)

Pertencente à família Chamaeleonidae, também ela dentro da subordem Sauria, o inconfundível camaleão tem características únicas que o distinguem de todos os outros lagartos da nossa fauna. A lendária faculdade de adaptar a sua cor ao ambiente circundante e a capacidade de mover os olhos de forma independente, são provavelmente as mais distintivas. Para além disso, por ser arborícola, a sua cauda é preênsil e as suas patas evoluíram para uma disposição dos dedos ( três dedos oponíveis a outros dois) que lhes permite agarrarem-se com maior facilidade aos ramos das árvores e arbustos. Alimentam-se de artrópodes que capturam com a sua língua proctáctil (pode ser lançada quase um metro para a frente), coberta por um muco aderente.

Este animal está distribuído desde norte de África até ao sul da Península Ibérica, passando pelas ilhas mediterrânicas. A leste, chega ao médio oriente. No nosso país ocorre apenas no Algarve, tendo chegado há uns séculos, vindo de África.

 

- - -

 

Apesar de terem um aspecto razoavelmente semelhante a estes, as salamandra e os tritões não são lagartos. Na verdade nem são répteis, são antes anfíbios (classe Amphibia) pertencentes à família Salamandridae, que conta com sete espécies em Portugal continental. Estes animais passam por estágios larvares e são essencialmente aquáticos, embora algumas espécies possuam também uma fase terrestre.

Esta família, por ser mais difícil de observar devido aos seus hábitos e à sua ecologia, tem sido uma dor de cabeça para mim. Um dos meus grandes objectivos para os próximos tempos é mesmo observar a endémica salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica). A seu tempo...

 

Tritão-marmorado (Triturus marmoratus)Tritão-marmorado (Triturus marmoratus) Leomil - Moimenta da Beira (27-04-2019)

Na sua fase terreste, o tritão-marmorado é essencialmente nocturno e pode ser encontrado em prados, lameiros, florestas e até jardins, enquanto que, na fase aquática, habita lagos, tanques e cursos de água. Alimenta-se de larvas de outros anfíbios e invertebrados como lesmas, caracóis, minhocas e larvas de insectos.

É um anfíbio de dimensões razoáveis, de cor esverdeada com manchas escuras. Ocorre na Península Ibérica e no oeste de França, sendo que em Portugal pode ser encontrado a norte do rio Tejo.

 

Tritão-de-Ventre-Laranja (Lissotriton boscai)Tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai) Oliveira de Azeméis (21-02-2020)

O tritão-de-ventre-laranja é um pequeno animal de ventre alaranjado, pontilhado de negro. O seu dorso é de cor variável, tedencialmente esverdeado. É crepuscular e nocturno e alimenta-se de invertebrados aquáticos, lesmas e minhocas. Pode ser encontrado em zonas rurais e parques urbanos.

Endémico da Península Ibérica, distribui-se por todo o território nacional e zona oeste de Espanha.

 

Tritão-palmado (Lissotriton helveticus)Tritão-palmado (Lissotriton helveticus) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)

Este bicho de coloração variável, com manchas escuras ao longo do corpo, é o tritão mais pequeno dos que ocorrem em Portugal. De hábitos crepusculares e nocturnos, pode ser encontrado (geralmente na primavera e no outono) em florestas e áreas agrícolas, escondido debaixo de troncos ou pedras. A sua fase aquática é passada em lagos ou tanques. 

Ocorre na zona oeste da Europa, chegando até à Alemanha. Por cá, é frequente a norte do Douro e muito localizado a sul deste rio.

 

Larva de Salamandra-de-fogo (Salamandra salamandra) Seixal (13-02-2021)Larva de Salamandra-de-fogo (Salamandra salamandra) Leomil - Moimenta da Beira (27-04-2019)

Quando era puto, no Alentejo, via-as com frequência nas noites chuvosas. Eram chamadas de "salamanteigas" e consideradas venenosas... de facto, a sua coloração negra, manchada de um amarelo forte, denuncia a neuro-toxina que este animal esconde sob a sua pele lisa. No entanto, apesar de me dedicar à observação da natureza há já uns anos, nunca mais vi uma adulta (provavelmente devido aos seus hábitos)... ainda assim, tenho observado as suas larvas às dezenas, nas poças temporárias criadas pela chuva.

A salamandra-de-pintas-amarelas ou salamandra-de-fogo é, tal como os anteriores, um anfíbio crepuscular e nocturno. Mas, ao contrário dos tritões, esta salamandra é estritamente terrestre (em adulta), indo à água apenas para depositar as suas larvas. Esta espécie é vivípara (dá à luz as crias que se desenvolveram no interior do seu corpo).

Alimenta-se de uma grande variedade de invertebrados e ocorre na maioria do território europeu.

 

Tão fascinantes para uns como repulsivos para outros, estes répteis e anfíbios de aspecto pré-histórico não deixam ninguém indiferente. Mas são dos animais mais sensiveis às alterações climáticas e à poluição, e devem ser protegidos, pois, como todos os outros seres autóctones, eles são extremamente importantes para a manutenção dos nossos ecossistemas saudáveis.

Pessoalmente, ainda tenho muito a percorrer, mas hei de conseguir observar todas as espécies presentes no nosso país... nesta minha caça aos falsos dinossauros modernos.

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