Passaporte, por favor!
Em 1995, com a aplicação pioneira do acordo de Schengen, Portugal abriu as suas fronteiras aos cidadãos da UE (na altura apenas à França, Espanha, Bélgica, Holanda, Luxemburgo e Alemanha), tendo deixado de existir controlo sobre as suas movimentações dentro deste espaço.
Já as aves não se deixam limitar por essas mesquinhices humanas e as suas movimentações são naturalmente livres e obedecem apenas às condições naturais e aos padrões migratórios "imprimidos" nos seus instintos. Sendo que o conhecimento desses padrões é um precioso auxiliar para os projectos de conservação, um dos métodos mais utilizados para o efeito é a anilhagem científica.
De onde vêm as aves que invernam em Portugal? Por onde passaram? E as estivais, para onde migram? Para o ano voltam aos mesmos locais? Estas e outras perguntas podem ser respondidas com recurso à leitura (e respectivo reporte) de uns poucos dígitos inscritos numa(s) pequena(s) anilha(s). Quase como colocar carimbos num passaporte...
No caso específico destas anilhas metálicas, é pouco frequente a sua leitura sem que a ave tenha sido recapturada ou mesmo encontrada morta. No entanto, uns breves segundos de sorte permitiram-me ler os 7 algarismos suficientes para reportar esta observação ao respectivo projecto.
Este belo exemplar foi anilhado no ano de 2016 em França pelos colaboradores do Centro de Pesquisas para a Biologia das Populações de Aves (CRBPO) do Museu Nacional de História Natural em Paris e, aparentemente, escolheu o Sapal de Corroios para passar o inverno.
Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) Seixal (27-10-2016)