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bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

26
Mar21

Onde observar: Seixal - Parque Urbano da Quinta da Marialva

O concelho do Seixal tem alguns locais com excelentes condições para a Observação de Natureza, principalmente ao nível da avifauna. Desde que tomei residência no concelho, tenho vindo a explorar alguns destes locais com o intuito de ir registando e inventariando a biodiversidade que por aqui encontro. O resultado dos meus esforços, bem como dos esforços de muitas outras pessoas, pode ser verificado num projecto na plataforma iNaturalist, que já conta com mais de 9000 observações de cerca de 1400 espécies, registadas por mais de 160 observadores:

https://www.inaturalist.org/projects/biodiversidade-do-seixal

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Junto a Santa Marta do Pinhal existe o Parque Urbano da Quinta da Marialva, uma zona de lazer equipada com um circuito de manutenção, um parque geriátrico, um percurso pavimentado, vários relvados, um campo de basquetebol, um campo pelado de futebol, um parque infantil, uma zona de churrascos, um anfiteatro ao ar livre com palco para concertos e um pavilhão multiusos. Aqui ocorrem alguns eventos como a "Mostra de actividades económicas" (vulgo feira) mensal, as Festas de Corroios, ou a Feira Medieval de Corroios. Este parque é utilizado diariamente por dezenas de pessoas para fazer desporto, passear os cães, brincar com as crianças ou simplesmente passear e apanhar sol.

Não se pode dizer que seja um local com grandes valores naturais, uma vez que, tal como a maioria dos jardins no Seixal, é bastante insípido e despido de vegetação, mantendo apenas algumas árvores de médio/grande porte e uns poucos arbustos. Tem, no entanto, uma vala de escoamento de águas pluviais que consegue ser suporte para um ecossistema interessante e variado.

 

Bico-de-lacre (Estrilda astrild)Bico-de-lacre (Estrilda astrild) (13-10-2016)

Ao nível da avifauna, este parque tem 62 espécies registadas, sendo a maioria aves comuns que podem ser encontradas em qualquer outro parque ou jardim. Na vala facilmente encontraremos os exóticos bicos-de-lacre, fuinhas-dos-juncos, uma ocasional carriça, talvez uma alvéola ou duas e até um casal de patos-reais. Nos relvados pululam os melros e as invernantes petinhas-dos-prados, aparece uma cotovia de vez em quando, circulam os inevitáveis pardais e os estridentes estorninhos, em busca de vermes para se alimentarem. As árvores dão abrigo a piscos, pintassilgos, milheirinhas, gaios, trepadeiras, chapins e uma série de outros passeriformes.

Fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) (26-09-2020)Lugre (Spinus spinus) (15-03-2020)Alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea) (04-11-2017)Petinha-dos-prados (Anthus pratensis) (04-11-2017)Alvéola-amarela (Motacilla flava) (21-10-2017)Chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe)(11-10-2017)Papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata) (11-10-2017)Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) (11-10-2017)Gaio (Garrulus glandarius) (18-06-2017)Carriça (Troglodytes troglodytes) (01-04-2017)Andorinha-das-Chaminés (Hirundo rustica) (01-04-2017)Estorninho-preto (Sturnus unicolor) (01-04-2017)Cotovia-de-poupa (Galerida cristata) (01-04-2017)Melro-preto (turdus merula) (28-02-2017)Felosinha (Phylloscopus collybita) (25-02-2017)Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) (29-11-2016)Tentilhão-comum (Fringilla coelebs) (15-11-2016)Toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala) (15-11-2016)Pardal (Passer domesticus) (15-11-2016)Milheirinha (Serinus serinus) (15-11-2016)Verdilhão (Carduelis chioris) (15-11-2016)Alvéola-branca (Motacilla alba) (27-10-2016)Gralha-preta (Corvus corone) (19-10-2016)Trepadeira-comum (Certhia brachydactyla) (19-10-2016)

Toutinegras, andorinhas, felosinhas, verdilhões, gralhas, tentilhões, chascos-cinzentos, papa-moscas, taralhões... uns no inverno, uns no verão, alguns apenas de passagem na migração e outros todo o ano. Para quem quiser andar de "olhos abertos", há sempre um espectáculo colorido para ver.

 

Periquito-comum (Melopsittacus undulatus)Periquito-comum (Melopsittacus undulatus) (25-02-2017)

E uma das mais coloridas aves que por ali costumavam andar era esta pequena periquita, escapada de alguma gaiola. Observei-a durante uns dois anos, até que deixei de a ver. Qual terá sido o seu destino?

Outras aves menos exuberantes vivem por ali as suas vidas calmas. A maioria de nós não olha duas vezes para um pombo-doméstico ou para uma rola-turca, mas não deixam de ter a sua beleza...

Rola-turca (Streptopelia decaocto) (15-11-2016)Pombo-das-rochas-doméstico (Columba livia) (19-10-2016)

 

Há no entanto aves que, apesar de comuns, não passam despercebidas. O rabirruivo-preto é uma dessas aves, pelo descaramento com que se aproxima de nós humanos, chegando mesmo a reclamar para si partes das nossas casas... esta ave tem o hábito de se aproveitar de recantos, caixas de estores, buracos nas paredes, ou qualquer zona nas nossas casas que lhe possa servir de suporte para o ninho. O que talvez algumas pessoas não saibam é que este passarinho tem um "primo" que nos visita raras vezes, quando em migração para África. O rabirruivo-de-testa-branca foi uma das maiores surpresas que já encontrei na Marialva.

Rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicurus phoenicurus) (04-11-2017)Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros) (01-04-2017)

 

Mas a maior surpresa foi outra. Duas aves das terras nórdicas que resolveram descer pela Península Ibérica e vir passar uns dias à Quinta da Marialva. Esta foi a única vez que observei esta espécie que é, para mim, o mais bonito dos tordos que ocorrem no nosso território:

Tordo-zornal (Turdus pilaris)

Tordo-zornal (Turdus pilaris)Tordo-zornal (Turdus pilaris) (26-11-2016)

 

Claro que há muito mais do que apenas aves naquele parque. A vegetação que cobre e circunda a vala, bem como algumas plantas por ali espalhadas e até a própria relva abrigam uma quantidade apreciável de pequenas criaturas.

Longicórnio (Cerambyx welensii)

Longicórnio (Cerambyx welensii) (10-06-2017)

 

Entre escaravelhos, caracóis, moscas, abelhas, aranhas, gafanhotos, vespas, cigarras, libelinhas, borboletas e mariposas, muitos outros invertebrados podem ser observados literalmente debaixo dos nossos pés, alguns deles bastante bem camuflados. Tenham cuidado com o que pisam...

Cigarrinha-verde (Cicadella viridis) (01-11-2020)Tira-olhos-menor (Anax parthenope) (26-09-2020)Mosca (Thereva sp.) (15-03-2020)Gorgulho (Lixus pulverulentus) (15-03-2020)Libelinha-anã (Ischnura pumilio) (13-03-2020)Abelhão-terrestre (Bombus terrestris) (13-03-2020)Axadrezada-comum (Carcharodus tripolina) (13-03-2020)Saltão-verde-maior (Tettigonia viridissima) (13-03-2020)Borboleta-da-couve (Pieris brassicae) (13-03-2020)Carochinha (Chrysolina bankii) (13-03-2020)Cigarrinha (Cercopis intermedia) (13-03-2020)Gafanhoto-ocre (Calliptamus barbarus) (04-08-2019)Vespa (Philanthus sp.) (04-08-2019)Cigarra-comum (Cicada orni) (04-08-2019)Libélula-de-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii) (04-08-2019)Iscnura-Ibero-Magrebina (Ischnura graellsii) (21-07-2019)Mosca-das-flores (Paragus quadrifasciatus) (21-07-2019)Percevejo (Eurydema ornata) (21-07-2019)Mosca-das-flores (Eristalinus aeneus) (21-07-2019)Abelha (Halictus scabiosae) (21-07-2019)Mosca-das-flores (Eupeodes corollae) (21-07-2019)Gafanhoto (Calliptamus sp.) (21-07-2019)Mosca-das-flores (Sphaerophoria sp.) (21-07-2019)Vespa-do-papel-europeia (Polistes dominula) (21-07-2019)Mosca (Família Sarcophagidae) (21-07-2019)Mosca (Coenosia tigrina) (21-07-2019)Y-de-prata (Autographa gamma) (15-03-2020)Azul-comum (Polyommatus icarus) (21-07-2019)

 

Obviamente, onde há insectos, há os que se alimentam deles. Não é difícil encontrar por ali alguns répteis e anfíbios, como lagartos, rãs, osgas e até serpentes.

Lagartixa-verde (Podarcis virescens)Lagartixa-verde (Podarcis virescens) (28-02-2017)

Rã-verde (Pelophylax perezi) (26-09-2020)Osga-comum (Tarentola mauritanica) (28-02-2017)

 

Mesmo os locais que entendemos como "nossos" são inevitavelmente refúgio de muitas outras criaturas. Por muito que tenhamos a tendência de nos consideramos o centro do universo, devemos aprender a conviver com elas e a respeitá-las, pois todas têm um papel a cumprir na ordem natural das coisas. Se o conseguirmos, facilmente chegaremos à conclusão que, na verdade, cabemos cá todos...

05
Mar21

Onde observar: Seixal - Santa Marta do Pinhal

O concelho do Seixal tem alguns locais com excelentes condições para a Observação de Natureza, principalmente ao nível da avifauna. Desde que tomei residência no concelho, tenho vindo a explorar alguns destes locais com o intuito de ir registando e inventariando a biodiversidade que por aqui encontro. O resultado dos meus esforços, bem como dos esforços de muitas outras pessoas, pode ser verificado num projecto na plataforma iNaturalist, que já conta com mais de 8000 observações de 1344 espécies, registadas por mais de 150 observadores:

https://www.inaturalist.org/projects/biodiversidade-do-seixal

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Santa Marta do Pinhal pertence à freguesia de Corroios e é um pequeno centro urbano composto maioritariamente por edifícios multi-familiares e por uma zona industrial. É limitado a Norte e a Este pela autoestrada nº 2, a Oeste por Vale Milhaços e a Sul por uma zona de antigos areeiros, hoje colonizados por matos e pinhal.

Vespa (Chrysura rufiventris)Vespa (Chrysura rufiventris) (26-04-2020)

O bairro dispõe de um jardim central relvado (com algumas árvores de médio/grande porte) que, por ser pensado exclusivamente para o lazer humano, é relativamente insípido no que toca a biodiversidade. Ainda assim, como muitos animais já se adaptaram a viver em meios antropogénicos, podemos encontrar vida um pouco por todo lado. Rolas-turcas (Streptopelia decaocto), melros (Turdus merula), rabirruivos-pretos (Phoenicurus ochruros), pintassilgos (Carduelis carduelis) e até os exóticos mainás-de-crista (Acridotheres cristatellus) coexistem por ali com os humanos e as suas barulhentas crias...

Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros)Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros) (11-05-2019)

 

No entanto o maior valor natural desta zona encontra-se na área a sul, onde antes existiam os areeiros. O abandono a que esses locais foram votados permitiu que a natureza se desenvolvesse e por ali podemos encontrar interessantes exemplos de vida animal e vegetal, dependendo da estação do ano.

Apesar do tipo de vegetação não ser exuberante nem propício a uma enorme diversidade de aves, é ainda assim possível observar várias espécies, como o pica-pau-malhado-grande (Dendrocopos major), a águia-d'asa-redonda (Buteo buteo), o abelharuco (Merops apiaster), a milheirinha (Serinus serinus), o verdilhão (Chloris chloris) ou o rouxinol (Luscinia megarhynchos), entre várias outras.

Milheirinha (Serinus serinus) (24-03-2020)Águia-d'asa-redonda (Buteo buteo) Santa Marta (14-02-2021)Alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea) (14-02-2021)Estorninho-preto (Sturnus unicolor) (01-12-2020)Cotovia-de-poupa (Galerida cristata) (02-05-2020)Rouxinol (Luscinia megarhynchos) (25-04-2020)Melro-preto (Turdus merula) (23-04-2020)Chapim-rabilongo (Aegithalos caudatus) (26-03-2020)Juvenil de cartaxo-comum (Saxicola rubicola) (26-03-2020)Bico-de-lacre (Estrilda astrild) (24-03-2020)Fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) (24-03-2020)Verdilhão (Chloris chloris) (22-03-2020)

 

Entre as espécies vegetais que podemos observar na zona, encontram-se as minhas flores preferidas... orquídeas selvagens. Até hoje encontrei quatro espécies de orquídeas nos arredores de santa Marta: a erva-do-salepo (Anacamptis coriophora fragrans), a erva-língua-constricta (Serapias strictiflora), a erva-língua-menor (Serapias parviflora) e a abelheira (Ophrys apifera). Infelizmente, não deveremos voltar a ver algumas destas plantas, pois o habitat onde floresceram o ano passado foi soterrado pelas movimentações de terras junto ao novo complexo desportivo de Santa Marta. O desenvolvimento urbanístico pode proporcionar-nos comodidades e melhores condições de vida, mas cobra o seu preço...

Erva-do-salepo (Anacamptis coriophora ssp. fragrans)

Erva-do-salepo (Anacamptis coriophora fragrans) (25-04-2020)

Erva-língua-constricta (Serapias strictiflora) (26-04-2020)Erva-língua-menor (Serapias parviflora) (26-04-2020)

Abelheira (Ophrys apifera)Abelheira (Ophrys apifera) (24-04-2020)

 

Para delícia de alguns e arrepios de outros, facilmente encontraremos na zona uma variedade de espécies de répteis e anfíbios. Em Santa Marta já pude observar duas espécies de serpentes, duas espécies de sapos, uma salamandra e cinco espécies de lagartos. Infelizmente não os consegui fotografar a todos...

Sapo-corredor (Epidalea calamita)Sapo-corredor (Epidalea calamita) (30-04-2020)

Ovos de sapo-comum (Bufo spinosus) (13-02-2021)Osga-comum (Tarentola mauritanica) (13-02-2021)Larva de salamandra-de-fogo (Salamandra salamandra) (13-02-2021)Lagartixa-do-mato (Psammodromus algirus) (03-04-2020)Lagartixa-de-dedos-denteados (Acanthodactylus erythrurus) (03-04-2020)Lagartixa-verde (Podarcis virescens) (22-03-2020)

 

Até mamíferos selvagens como o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) ou o sacarrabos (Herpestes ichneumon) convivem connosco de uma forma muito mais próxima do que imaginamos. Quantas vezes teremos passado por um deles, escondido nas ervas, a poucos metros dos nossos pés?

Coelho-Bravo (Oryctolagus cuniculus)Coelho-Bravo (Oryctolagus cuniculus) (22-03-2020)

 

E mesmo essa vegetação que os protege dos nossos olhos esconde muito mais do uns bichos e umas orquídeas... há surpresas muito agradáveis no coberto vegetal desta zona. É verdadeiramente fantástica a panóplia de cores e a miríade de formas que podemos observar, se caminharmos com atenção.

Cila-de-uma-folha (Scilla monophyllos) (13-02-2021)Papiro (Cyperus sp.) (03-06-2020)Suspiro-roxos-dos-jardins (Sixalix atropurpurea) (03-06-2020)Trevo (Vicia tetrasperma) (01-05-2020)Queiró (Erica umbellata) (01-05-2020)(Sesamoides spathulifolia) (01-05-2020)Tojo (Ulex sp.) (01-05-2020)Giesta-dos-jardins (Spartium junceum) (01-05-2020)Genciana-da-praia (Centaurium maritimum) (01-05-2020)Cebola-abrótea (Asphodelus ramosus) (30-04-2020)Trevo-de-folhas-estreitas (Trifolium angustifolium) (30-04-2020)Unha-de-gata (Ononis sp.) (30-04-2020)Tomilho (Thymus villosus) (26-04-2020)Língua-de-vaca-ondeada (Anchusa undulata) (26-04-2020)Trevo-amarelo (Trifolium campestre) (26-04-2020)Tripa-de-ovelha (Andryala integrifolia) (26-04-2020)Bela-manhã (Convolvulus tricolor tricolor) (25-04-2020)Focinho-de-rato (Misopates orontium) (25-04-2020)Murta (Myrtus communis) (24-04-2020)Ervilha-de-cheiro (Lathyrus odoratus) (24-04-2020)Rúcula (Eruca vesicaria) (24-04-2020)Mostardeira-branca (Sinapis alba) (24-04-2020)Erva-cidreira-brasileira (Lippia alba) (24-04-2020)Ervilhaca-peluda (Vicia villosa) (24-04-2020)Tintureira (Phytolacca heterotepala) (24-04-2020)Erva-toira (Orobanche crenata) (24-04-2020)Trevo-de-flores-reviradas (Trifolium resupinatum) (23-04-2020)Chícharo-bravo (Lathyrus cicera) (23-04-2020)Língua-de-cão (Cynoglossum creticum) (23-04-2020)Centáurea (Centaurium sp.) (23-04-2020)Margarida-do-monte (Bellis sylvestris) (23-04-2020)Calças-de-cuco (Gladiolus italicus) (23-04-2020)Ervilhaca-de-Bengala (Vicia benghalensis) (19-04-2020)Língua-de-ovelha (Plantago lagopus) (19-04-2020)Charuteira (Nicotiana glauca) (19-04-2020)Cornichão (Lotus sp.) (19-04-2020)Trevo-betuminoso (Bituminaria bituminosa) (19-04-2020)Arenária (Spergularia rubra) (19-04-2020)Esteva (Cistus ladanifer) (26-03-2020)Flor-de-ouro (Bellardia trixago) (22-03-2020)Fumária-dos-campos (Fumaria agraria) (22-03-2020)Ervilhaca-dos-campos (Lathyrus ochrus) (22-03-2020)Calcitrapa (Centranthus calcitrapae) (22-03-2020)Borragem (Borago officinalis) (22-03-2020)

 

Entre esta área mais verde e a zona urbanizada propriamente dita podem ser observadas centenas de espécies de invertebrados... até mesmo dentro de casa. Alguns destes animais serão mais agradáveis à vista do que outros, mas todos têm o seu papel nos ecossistemas que nos rodeiam. 

Mosquito (Nephrotoma sp.) (13-02-2021)Besouro-tigre-verde (Cicindela campestris) (13-02-2021)Aranha-tenaz (Dysdera crocata) (13-02-2021)Barata-americana (Periplaneta americana) (09-08-2020)Formiga-carrilheira (Messor barbarus) (01-05-2020)Mosca-abelha (Villa sp.) (01-05-2020)Gafanhoto‑de‑cabeça‑cónica (Pyrgomorpha conica) (01-05-2020)Borboleta-das-sardinheiras (Cacyreus marshalli) (01-05-2020)Mosca (Lomatia sp.) (30-04-2020)Besouro-tigre (Cicindela maroccana) (30-04-2020)Longicórnio (Pseudovadonia livida) (30-04-2020)Gorgulho (Mycterus curculioides) Santa Marta (25-04-2020)Escaravelho (Rhagonycha fulva) (24-04-2020)Mosca (Bombylella atra) (24-04-2020)Aranha (Mangora acalypha) (24-04-2020)Mariposa (Acontia lucida) (24-04-2020)Grilo (Eumodicogryllus bordigalensis) (24-04-2020)Percevejo-do-funcho (Graphosoma italicum) (24-04-2020)
Escaravelho (Hymenoplia sp.) (24-04-2020)Centopeia-castanha (Lithobius forficatus) (24-04-2020)
Escaravelho (Stenopterus mauritanicus) (24-04-2020)Escaravelho (Cardiophorus signatus) (24-04-2020)Saltão-verde-maior (Tettigonia viridissima) (23-04-2020)Mariposa (Coscinia chrysocephala) (23-04-2020)Longicórnio (Calamobius filum) (23-04-2020)Mosca (Empis tessellata) (23-04-2020)Pirilampo-lusitânico (Luciola lusitanica) (23-04-2020)Formiga-carpinteira (Camponotus sp.) (23-04-2020)Besouro-tigre (Lophyra flexuosa flexuosa) (23-04-2020)Caracol (Oestophora barbella) (23-04-2020)Escaravelho (Anthaxia parallela) (23-04-2020)Percevejo (Gonocerus insidiator) (23-04-2020)Bicha-cadela (Forficula auricularia) (20-04-2020)Tatuzinho-comum (Armadillidium vulgare) (20-04-2020)Caracoleta (Cornu aspersum) (20-04-2020)Ralo-das-vinhas (Gryllotalpa vineae) (19-04-2020)Aranha-caranguejo (Xysticus sp.) (19-04-2020)Mosca (Tachina magnicornis) (19-04-2020)Abelha-carpinteira-europeia (Xylocopa violacea) (19-04-2020)Percevejo (Eurygaster austriaca) (19-04-2020)Libélula-de-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii) (18-04-2020)Percevejo (Coreus marginatus) (18-04-2020)Mosca-das-flores (Sphaerophoria scripta) (18-04-2020)Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) (18-04-2020)Douradinha-do-arco (Thymelicus acteon) (18-04-2020)Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) (18-04-2020)Escaravelho (Oedemera simplex) (11-04-2020)Percevejo-da-tília (Pyrrhocoris apterus) (18-04-2020)Milípede-português (Ommatoiulus moreleti) (18-04-2020)Bicho-de-conta (Porcellionides sexfasciatus) (18-04-2020)Percevejo (Closterotomus norwegicus) (18-04-2020)Caracol-das-tascas (Theba pisana) (18-04-2020)Mosca-de-banheiro (Clogmia albipunctata) (13-04-2020)Percevejo (Enoplops scapha) (11-04-2020)Percevejo (Centrocoris variegatus) (11-04-2020)Mosca-das-flores (Sphaerophoria scripta) (11-04-2020)Percevejo-mediterrânico (Carpocoris mediterraneus) (11-04-2020)Mariposa-mede-palmos (Eupithecia centaureata) (11-04-2020)Mosquito (subfamília Dolichopodinae) (11-04-2020)Jaquetão-das-flores-mediterrânico (Oxythyrea funesta) (11-04-2020)Mariposa-pluma (Crombrugghia laetus) (10-04-2020)Mariposa (Udea ferrugalis)(10-04-2020)Longicórnio (Agapanthia suturalis) (10-04-2020)Aranha-lince (Oxyopes sp.) (03-04-2020)Azul-comum (Polyommatus icarus) Santa Marta (03-04-2020)Besouro-do-cesto (Lachnaia tristigma) Santa Marta (03-04-2020)Cramera (Aricia cramera) (03-04-2020)Abelhão-terrestre (Bombus terrestris) (03-04-2020)Semente-de-lima (Oxycarenus lavaterae) (03-04-2020)Mosca-verde (Lucilia sp.) (26-03-2020)Bicho-de-conta (Armadillo officinalis) (26-03-2020)Abelha-melífera-ibérica (Apis mellifera iberiensis) (26-03-2020)Longicórnio (Agapanthia cardui) (22-03-2020)Borboleta-cauda-de-andorinha (Papilio machaon) (24-03-2020)Carochinha (Chrysolina bankii) (24-03-2020)Mariposa-mede-palmos (família Geometridae) (24-03-2020)Lagarta de mariposa (subfamília Arctiinae) (23-03-2020)Rubi (Callophrys rubi) (23-03-2020)Maravilha (Colias croceus) (23-03-2020)Ariana (Pararge aegeria) (22-03-2020)Longicórnio (Agapanthia cardui) (22-03-2020)Y-de-prata (Autographa gamma) (22-03-2020)Escaravelho (Oedemera flavipes) (22-03-2020)Mosca (Chrysotoxum sp.) (22-03-2020)Almirante-vermelho (Vanessa atalanta) (22-03-2020)Gorgulho (Lixus pulverulentus) (22-03-2020)Mosca (Conophorus sp.) (22-03-2020)Processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) (01-09-2019)

 

Até nos sítios mais insuspeitos podemos encontrar pequenas maravilhas, basta andarmos com atenção à natureza que nos rodeia. Da próxima vez que sair para um "passeio higiénico", esteja atento(a). 

10
Ago20

Fazer ciência a brincar

Fazer observação de natureza implica passar muito tempo no campo. A sós ou acompanhados, aqueles que são apaixonados por esta actividade acabam por ter o privilégio de presenciar cenas de vida selvagem que a maioria das pessoas "comuns" apenas vê nos documentários na televisão.

Entre estes privilegiados, uns têm uma perspectiva artística sobre aquilo que observam na natureza, alguns enveredam por um caminho filosófico ou espiritual, enquanto outros seguem uma visão mais científica, alguns têm até uma aproximação brincalhona e há também aqueles que misturam um pouco de tudo isto... o que importa na realidade é que cada um retire as ilacções, os conhecimentos e a satisfação que mais se adequa à sua forma de ver a natureza.

Concretizando a sua paixão na tentativa de conseguir a foto mais perfeita, os "fotógrafos de natureza" dividem a sua atenção entre a compreensão da arte fotográfica (a luz, os enquadramentos, a exposição) e o conhecimento sobre os seus "motivos". Com o advento da fotografia digital, esta actividade sofreu um autêntico boom e hoje proliferam pela Internet bonitos retratos de bichos...  mas aquele momento especial ou aquele comportamento inaudito registados com excelente qualidade de imagem e real dimensão artística são ainda prémios ao alcance de muito poucos. Estes parcos verdadeiros fotógrafos de natureza são de facto uma classe à parte. Seja como for, dificilmente veremos qualquer uma destas pessoas no campo sem uma câmara na mão... a imagem é a sua vida.

Mais preocupados com o conhecimento científico sobre o mundo natural, os chamados "observadores" concentram as suas energias em compreender aquilo que observam. Que espécies de aves há em determinado local? Quantos indivíduos existem? Quando e porque estão ali presentes? Como se comportam e qual a razão ou significado dos seus comportamentos? Como interagem com o meio? O seu equipamento essencial é materializado num par de binóculos e num bloco de notas (hoje muitas vezes substituído pelo smartphone), mas é muito comum vê-los carregando às costas um telescópio e também... uma câmara fotográfica. Embora até estas pessoas dêem importância à recolha de imagens, o seu foco não é esse e é comum que os resultados sejam sofríveis, apenas meros registos da presença da espécie fotografada.

Confesso que pertenço a este último grupo. Geralmente sozinho, algumas vezes acompanhado por um restrito grupo de "correligionários", ando pelos matos a identificar, contar e registar aves e outros seres vivos. Gosto de obter conhecimento sobre os bichos que observo, seja ele empírico, através da observação directa ou mais académico, utilizando livros e guias.

O meu equipamento fotográfico é fraco, o meu conhecimento de fotografia é limitado e a minha sensibilidade artística é quase nula. Como tal, as minhas fotos são sofríveis e os meus vídeos são demasiado amadores. Ainda assim, vou tentando usá-l@s para transmitir um pouco de conhecimento e, porque não, causar uns sorrisos. 

Ciência cidadã, é o péssimo nome que dão aos dados que vão sendo recolhidos por pessoas como eu. Ainda assim é ciência e, como tal, deve ser levada a sério, não é? Beeeeem... sim, a nossa actividade contribui um pouquinho para a ciência, mas isso não implica que não estejamos ali para nos divertirmos.  

Como em tantas outras actividades, é importante não nos levarmos demasiado a sério. Um olhar crítico e bem humorado é essencial para que um hobbie não passe a ter o peso de um trabalho. Afinal, a vida deve ser levada com leveza e, para nerds como eu, nada é mais divertido do que fazer ciência... a brincar. 

(PS: vejam os vídeos com som e em 1080p HD, ficam menos maus assim)

 

05
Mai20

Bichos do mato: Aranhas - pesadelos de oito patas

Os invertebrados são dos animais menos conhecidos do público em geral. Embora estejamos constantemente rodeados deles, o seu tamanho e os seus hábitos fazem com que tantas vezes nem reparemos na sua presença.

Tecedeira-de-cruz-cosmopolita (Araneus diadematus) Oliveira de Azeméis (14-09-2019) (2).JPG

Tecedeira-de-cruz-cosmopolita (Araneus diadematus) Oliveira de Azeméis (14-09-2019)

 

Quando os descobrimos por perto, a nossa reacção automática é de matá-los, ignorando os grandes serviços que nos prestam, seja como polinizadores (e.g. abelhas e moscas) ou como controladores de pragas (e.g. aranhas e joaninhas). Como infelizmente tememos aquilo que não conhecemos bem, os insectos e aranhas tendem a gerar em nós reacções de medo e repulsa. 

Aranha-lince (Oxyopes lineatus) Serra de S. Mamede (08-06-2019).JPG

Aranha-lince (Oxyopes lineatus) Serra de S. Mamede (08-06-2019)

 

Mas... as aranhas não são insectos? 

Não. Os insetos (classe Insecta) têm o corpo dividido em três partes: cabeça, tórax e abdómen. Possuem três pares de patas, apresentam um par de antenas e têm um desenvolvimento indireto. Já os aracnídeos (classe Arachnida) apresentam o corpo dividido em duas partes: abdómen e cefalotórax. Possuem quatro pares de patas, quelíceras, não apresentam antenas e podem ter um desenvolvimento direto ou indireto.

Aranha-de-funil (Eratigena sp.) Oliveira de Azeméis (13-09-2019).JPG

Aranha-lobo-radiada (Hogna radiata) Cercal (12-08-2019) (4).JPG

Aranha-de-funil (Eratigena sp.) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Aranha-lobo-radiada (Hogna radiata) Cercal do Alentejo (12-08-2019)

 

Como é que estas exímias predadoras caçam? Bem, existem variadas técnicas nas quais cada espécie se especializa. Algumas tecem teias extremamente resistentes e impregnadas de uma substância adesiva em locais estratégicos, aguardando que algum insecto lá caia. Assim que tal acontece, atacam de forma fulminante, injectando-lhe veneno e embrulhando-o em seda para ser depois consumido. Outras espécies perseguem activamente as suas presas, muitas vezes saltando para as capturar. Há também aquelas que fazem emboscadas escondidas em fendas, buracos ou até mesmo camufladas nas flores das quais os insectos se alimentam.

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Aranha-vespa (Argiope bruennichi) Serra da Freita (14-09-2019) Aranha-tigre-lobada (Argiope lobata) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (21-08-2019)

 

Após capturarem as suas presas, as aranhas expelem um fluido digestivo para cima das mesmas começando assim o processo de digestão ainda fora do seu organismo. Após triturarem os pequenos animais com as quelíceras, reabsorvem os fluidos libertados, juntamente com a "carne". Deste processo sobra apenas uma pequena bola de resíduos, contendo as partes da quitina que a aranha é incapaz de digerir. Algumas espécies, como as aranhas caranguejo, injectam os fluidos digestivos no interior corpo das suas presas que são dissolvidas por dentro e sugadas de forma a que apenas resta uma carapaça vazia, ainda com a forma original do insecto.

Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Santa Marta (18-04-2020) (8).JPG

Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Santa Marta (10-04-2020) (2).JPG

Aranha-caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Seixal (18-04-2020)Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Seixal (10-04-2020)

Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Parque Luso (18-03-2020) (8).JPG

Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Cercal (11-08-2019) (5) (1).JPG

Aranha-caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Seixal (18-03-2020) Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Cercal do Alentejo (11-08-2019) 

As suas oito patas, o seu abdómen proeminente, os seus olhos (a maioria das aranhas tem quatro pares de olhos), os seus hábitos e até a forma como se movem constroem um aspecto geral repulsivo aos nossos olhos. Ainda assim, se conseguirmos observá-las de perto, podemos constatar que têm uma beleza muito própria, com formatos exóticos, cores garridas e padrões muito diversos consoante as espécies (e até por vezes com bastante variação individual).

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Aranha (Anelosimus sp.) Parque Luso (15-03-2020) (3).JPG

Aranha (Mangora acalypha) Seixal (24-04-2020) Aranha (Anelosimus sp.) Seixal (15-03-2020)

Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Santiago do Cacém (09-08-2019) (2).JPG

Solífugo (Gluvia dorsalis) Tejo Int. - Segura (17-06-2017) (2).JPG

Aranha-caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Santiago do Cacém (09-08-2019) Solífugo ou Aranha-camelo (Gluvia dorsalis) Segura, Idanha-a-nova (17-06-2017)

 

Enquanto espécie, temos evoluído no sentido de tentarmos viver em ambientes cada vez mais estéreis, sem a presença de outros seres ao nosso redor. Esta tentativa pseudo-divina de nos distanciarmos fisicamente dos restantes animais resulta bastas vezes em autênticas barbaridades... por medo irracional destruímos criaturas que nos são inofensivas e úteis. Acarinhem as vossas aranhas, bem como as osgas, cobras e outros bichos que vos assustam, pois muitas vezes são eles quem nos protege de ameaças bem mais reais...

22
Out19

O que se esconde nas flores

Alegres, coloridas, perfumadas... as flores tendem a gerar em nós sensações de paz e alegria. Vemo-las como uma manifestação de beleza e deliciamo-nos com as suas cores e cheiros.

É de facto um verdadeiro prazer contemplar um campo florido num dia de primavera ou um exuberante e bem cuidado jardim, mas será que sabemos realmente o que lá se passa? Será que conhecemos a fundo o intrincado jogo de vida e morte que ali decorre?

Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Cercal (11-08-2019) (5) (1).JPGAranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Cercal do Alentejo (11-08-2019)

 

Num qualquer prado, entre ervas, pastos, caules, folhas e pétalas, pequenos seres pululam numa azáfama quase impercetível aos nossos olhos. Este é o reino dos invertebrados, onde presas e predadores rastejam, correm, saltam, voam, procriam, caçam, são caçados, devoram e são devorados.

Gafanhoto-egípcio (Anacridium aegyptium) Fadagosa (08-06-2019) (3).JPGGafanhoto-egípcio (Anacridium aegyptium) Fadagosa, Nisa (08-06-2019)

 

Alguns destes invertebrados são conspícuos e facilmente identificáveis, pelo menos ao nível das suas classificações mais abrangentes. Afinal, toda gente sabe o que é uma borboleta...

Azul-comum (Polyommatus icarus) Galegos - Marvão (08-06-2019) (2).JPGAzul-comum (Polyommatus icarus) Galegos, Marvão (08-06-2019)

 

Mas nem estas são todas iguais. Há várias espécies neste grupo, numa multiplicidade de padrões e cores capazes de rivalizar com as flores nas quais se alimentam.

Fritilária-variegada (Melitaea phoebe) Galegos - Marvão (08-06-2019) (3).JPGFritilária-variegada (Melitaea phoebe) Galegos, Marvão (08-06-2019)

 

E quando nos deparamos com algo que não sabemos explicar, apesar do seu aspecto peculiar e chamativo? "Mas isto... existe?!"

Neuróptero‑das‑duas-Penas (Nemoptera bipennis) Mata dos Medos (07-07-2019) (15).jpgNeuróptero‑das‑duas-penas (Nemoptera bipennis) Mata dos Medos, Almada (07-07-2019)

 

Ah, a Natureza é engenhosa e supera tão facilmente a imaginação do animal humano. Talvez até tenham sido estes pequenos seres que inspiraram os criadores dos bizarros alienígenas que povoam as nossas telas de cinema...

Formiga-leão (Macronemurus appendiculatus) Quinta do Texugo (24-08-2019) (5).JPGFormiga-leão (Macronemurus appendiculatus)  Quinta do Texugo, Almada (24-08-2019)

 

É verdadeiramente incrível a variedade de formas animais que podemos encontrar nestes campos de ervas e flores, umas capazes de nos fascinar, outras de nos causar repulsa... ou até ambas simultaneamente.

Grilo-de-sela-aldrabão (Steropleurus pseudolus) Cercal (11-08-2019) (5).JPGGrilo-de-sela-aldrabão (Steropleurus pseudolus) Cercal do Alentejo (11-08-2019)

 

Também ali podemos descobrir espécies que instintivamente nos provocam apreensão. Afinal, quase todos nós já fomos pelo menos uma vez na vida picados por uma abelha ou vespa.

Abelha (Bembix sp.) Quinta do Conde (31-08-2019) (8).JPGAbelha (Bembix sp.) Quinta do Conde (31-08-2019)

 

Na verdade temos pouco a temer destas criaturas, desde que não nos aproximemos dos seus ninhos. Por muito que os seus zumbidos nos causem reacções automáticas de medo, estes insectos andam apenas em busca de alimento e não têm qualquer interesse em nós. 

Abelha-carpinteira (Xylocopa sp.) Praia do Torrão (02-07-2019) (2).JPGAbelha-carpinteira (Xylocopa violacea) Praia do 2º Torrão, Almada (02-07-2019)

 

Extremamente importantes para o processo de polinização, estes bichos trazem também um factor extra de beleza aos nossos campos, assim tenhamos a "coragem" de os observar com atenção. Até porque alguns deles não são o que parecem...

Mosca-das-flores (Volucella elegans) Santiago do Cacém (09-08-2019) (9).JPGMosca-das-flores (Volucella elegans) Santiago do Cacém (09-08-2019)

 

O seu zumbido, as suas cores e o seu voo aparentemente errático fazem com que tantas vezes sejam confundidas com abelhas ou vespas, mas as moscas das flores são na verdade animais inofensivos que se alimentam de néctar.

Mosca-das-flores (Sphaerophoria scripta) Marialva (21-07-2019) (2).JPGMosca-das-flores (Sphaerophoria scripta) Parque Urbano da Quinta da Marialva, Corroios (21-07-2019)

 

É verdade... existem várias espécies de moscas, de tamanho, coloração e formato variáveis. A nossa concepção da mosca doméstica fica muito aquém da realidade deste grupo de insectos.

Mosca (Exoprosopa jacchus) Mata dos Medos (13-07-2019) (2).JPGMosca (Exoprosopa jacchus) Mata dos Medos (13-07-2019)

 

Mesmo noutros grupos como os coleópteros (escaravelhos), a variedade é tremenda... há pequenos e grandes, redondos e oblongos, coloridos e farruscos.

Escaravelho-florícola (Anthoplia floricola) Albufeira de Póvoa e Meadas (08-06-2019) (2).JPGEscaravelho-florícola (Anthoplia floricola) Barragem de Póvoa e Meadas, Castelo de Vide (08-06-2019)

 

Fica uma sugestão: da próxima vez que forem a um jardim ou passear no campo, sentem-se algum tempo a observar atentamente um conjunto de flores. Vão ter uma surpresa...

Oedemera barbara Montijo (20-06-2019) (4).JPGEscaravelho (Oedemera simplex) Montijo (20-06-2019)

19
Set19

Livros de Bichos - Guias de Campo

Por várias vezes fui incitado a iniciar um blogue e há cerca de dois anos atrás decidi fazer a vontade a quem o sugeriu.

Depois de uma experiência pouco sucedida no blogger, uma amiga com mais experiência nestas andanças recomendou-me o SAPO, explicou-me o funcionamento básico e, assim que o bicho do mato ficou online, teve a simpatia de o "anunciar" à blogosfera no seu Ler por aí, insinuando que um dia talvez também eu começasse a falar de livros. Bem, hoje vou fazer-lhe a vontade (à minha maneira, obviamente).  

 

Para quem gosta de observar a natureza mas quer ir mais além na aquisição de conhecimentos, não basta passar muitas horas no campo... para compreender verdadeiramente aquilo que vemos, é preciso estudar um pouco. Felizmente, nos dias de hoje existem no mercado guias de campo que ajudam a identificar as espécies dos mais diversos grupos, em vários formatos e línguas. Existem também atlas com informação bio-geográfica, bem como livros que compilam as mais variadas informações sobre os animais e os seus comportamentos.

Sendo as aves o grupo de animais pelo qual nutro maior interesse, foi nele que fiz o maior investimento, tendo adquirido 3 guias de campo e vários outros livros ao longo dos últimos anos. Aos poucos, com a expansão do meu interesse aos répteis, invertebrados e mamíferos, tenho começado também a procurar literatura sobre estes grupos.

Hoje vou falar um pouco sobre alguns guias de campo que tenho na minha biblioteca.

 

Aves de Portugal, Helder Costa et al. - Lynx, 2ª edição (2018)

Dedicado exclusivamente ao território português, este é o guia que recomendo aos que desejam iniciar-se na observação de aves. Com tamanho e peso reduzidos, ilustrações esclarecedoras, descrições sumárias das características diagnosticantes de cada espécie e mapas de distribuição muito interessantes, este guia cumpre a sua função sem se tornar assustador aos olhos dos iniciados.

Este livro encontra-se à venda por cerca de 20€ na sede da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e no seu site: http://www.spea.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=620

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Guia de Aves, Lars Svenson et al. - Assírio e Alvim, 2ª edição (2012) 

Como o próprio nome indica, este é o guia de aves para Portugal e para a Europa. Com mais de 3500 ilustrações bastante precisas, ilustra as várias plumagens que podem ser apresentadas por cada espécie. As notas e descrições complementares chamam a atenção para os detalhes da fisionomia e/ou do comportamento que ajudam o observador a chegar a uma identificação.

Pode intimidar os iniciantes, devido ao grande volume de informação, mas é um guia imprescindível para aqueles que desejem embrenhar-se de forma mais séria no mundo da observação de aves.

A 3ª edição encontra-se à venda por 33€ na Wook, na Fnac ou em qualquer uma das grandes livrarias do país, podendo também ser adquirido nas instalações da SPEA ou no seu site:

 http://www.spea.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=566

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Flight Identification of Raptors of Europe, North Africa and the Middle East, Dick Forsman - Bloomsbury Natural History (2016)

Dos meus guias de aves, este é o único que apresenta fotografias ao invés de ilustrações e é também o único em língua inglesa. Ainda assim, este fantástico livro do ornitólogo finlandês Dick Forsman é possivelmente o melhor guia para identificação de rapinas em voo. As excelentes fotografias mostram os diferentes detalhes de plumagem que podem ser apresentados pelas diversas espécies, bem como várias posições de voo em que podemos observar as aves no campo. Isto, em conjunto com as detalhadas descrições de pormenores fisionómicos e comportamentos, tornam este livro um "must have" para quem tenha um interesse específico em aves de rapina. 

À venda na wook por pouco mais de 50€, é um investimento que vale a pena fazer:

https://www.wook.pt/livro/raptors-of-the-western-palearctic-a-handbook-of-field-identification-2nd-edition-dick-forsman/15978358

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Anfíbios e Répteis de Portugal, Ernestino Maravalhas & Albano Soares - Booky (2017)

Sem ser um guia de campo puro, mas apresentando alguns elementos de atlas, esta acaba por ser a publicação mais actualizada relativamente à taxonomia, bem como à distribuição deste grupo de animais no nosso país.

Pode ser adquirido por cerca de 20€ na loja virtual da Quercus ou na Naturfun:

http://loja.quercus.pt/pt/livraria/243-anfibios-e-repteis-de-portugal-.html

http://www.naturfun.pt/index.php?route=product/product&product_id=948

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Guia das Borboletas Comuns de Portugal Continental, Patrícia Garcia-Pereira et al. - Tagis (2019)

Este pequeno guia foi publicado no âmbito do projecto ABLE - Avaliar as Borboletas na Europa e compila as espécies de borboletas mais comuns no nosso país. Nele é explicado o projecto, bem como as metodologias utilizadas nas contagens. São também apresentadas, para cada espécie de borboletas, fotografias de asas abertas e em repouso, bem como de machos e fêmeas para os casos em que o dimorfismo sexual é relevante.

Ao que me é dado a conhecer, a publicação não se encontra à venda, mas o download pode ser efectuado gratuitamente no site da Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal:

http://www.tagis.pt/uploads/4/7/9/5/47950987/gbc.pdf

Field guides - borboletas.jpg

 

No futuro, haverá certamente oportunidade para apresentar outros tipos de Livros de Bichos.

24
Jun19

Visitantes transatlânticos

Todos os anos milhares de turistas visitam Portugal, vindos das mais diversas proveniências. Chegam em busca da nossa gastronomia, das belas e diversificadas paisagens, da história e cultura, das praias, do clima e claro, dos preços (ainda) bastante comportáveis para os habitantes da maioria dos países desenvolvidos. Em 2018 foram os ingleses que em maior número nos visitaram, seguidos por franceses, alemães e espanhóis. Apesar de andarem longe dos lugares cimeiros, o INE indicou que a afluência de visitantes transatlânticos tem vindo a aumentar (principalmente americanos e canadianos). No entanto, os humanos não são os únicos a cruzar o grande oceano que nos separa das Américas...  outros animais também vão aparecendo por cá.

 

Se alguns destes visitantes chegam ao nosso território por meios antropogénicos e bastas vezes permanecem, dando origem a populações invasoras mais ou menos auto-sustentáveis, há os que o fazem por meios próprios e que tendem a desaparecer tão rapidamente como apareceram.

Garça-verde (Butorides virescens) Aroeira (09-11-2018) (45).JPGGarça-verde (Butorides virescens) Herdade da Aroeira - Almada (09-11-2018)

Apesar de não existirem registos desta ave no nosso país até 2018, muitos já conheciam a garça-verde através da divulgação de vídeos onde é vista a utilizar pedaços de pão como isco para capturar peixes. Cerca de dez dias após a tempestade Leslie atingir Portugal (13-10-2018), foi registada uma destas garças na Quinta do Lago (Loulé) e mais dez dias passados foi descoberta uma segunda ave na Herdade da Aroeira (Almada). Possivelmente terão chegado à nossa costa empurradas pela tempestade e imediatamente procuraram habitats favoráveis. A ave de Almada foi observada pela última vez no início de novembro do mesmo ano e a algarvia teve a última observação registada dia 08-04-2019. Que destino terão? Podemos apenas especular...

Falsa-tartaruga-de-mapa (Graptemys pseudogeographica)Falsa-tartaruga-de-mapa (Graptemys pseudogeographica) Herdade da Aroeira - Almada (01-05-2019)

O comércio de animais exóticos tem crescido nas últimas décadas, levando a que múltiplas espécies de "animais de estimação" existam hoje no nosso país, geralmente confinados a gaiolas, terrários ou aquários. Mas, quando um destes animais deixa de ser desejado (seja porque cresceu mais do que se esperava, porque dá muito trabalho, porque come muito, ou por qualquer outra razão), muitas vezes acabam por ser "libertados" na natureza. Estes são autênticos crimes ambientais que podem acarretar consequências devastadoras para a nossa biodiversidade autóctone.

Tartaruga-da-Flórida (Trachemys scripta elegans) Parque da Paz (07-04-2016) (3).JPGTartaruga-da-florida (Trachemys scripta elegans) Parque da Paz - Almada (07-04-2016)

Um caso paradigmático é o da libertação de várias espécies de tartarugas exóticas nos nossos cursos de água. Estes animais crescem mais e mais depressa que os nossos cágados-mediterrânicos (Mauremys leprosa) e cágados-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), atingem a maturidade sexual mais cedo e procriam em maior quantidade. Todas estas vantagens competitivas estão a ter um impacto negativo nas espécies autóctones. 

Borboleta-monarca (Danaus plexippus) Vila Nova de Milfontes (25-06-2016) (2).JPGBorboleta-monarca (Danaus plexippus) Vila Nova de Milfontes (25-06-2016)

Muitos conhecidas pela espectacular migração que protagonizam na América do Norte, desconhece-se como é que as monarcas chegaram ao nosso país. Há quem afirme que podem ter voado até cá desde os arquipélagos da Madeira ou dos Açores (há muito que existem colónias nas regiões autónomas), outros insinuam que terão sido introduzidas pela mão humana. Tendo a sua presença começado a ser estudada apenas no início da década de 2000 no Algarve, o  certo é que aproveitando-se da existência de uma planta também ela exótica (Gomphocarpus fruticosus - pertencente à mesma família das plantas das quais as suas lagartas se alimentam no continente americano, a Asclepia curassavica), esta vistosa borboleta tem vindo a formar colónias mais para norte. Até onde poderá chegar? Trará com ela consequências para as nossas espécies autóctones? É algo a descobrir nos próximos anos.

Mergulhão-caçador (Podilymbus podiceps) Sesimbra Natura Park (20-01-2018) (11).JPGMergulhão-caçador (Podilymbus podiceps) Sesimbra (20-01-2018)

Já este caçador de pequenas dimensões foi avistado por cá apenas três vezes... aparentemente aves que chegaram a nós pelos seus próprios meios, tendo atravessado o atlântico para chegarem a uma terra onde se instalaram sós, apenas para desaparecerem ao fim de algum tempo sem que seja conhecido o seu destino. Terão partido? Terão fenecido? Ainda estarão entre nós, escondidos nalguma barragem no interior do país? Como sempre, muitas perguntas, poucas respostas...

24
Fev19

A vida nas pedras

Pedras, rochas e Calhaus. A mera menção destas palavras transporta-nos mentalmente para ambientes áridos e estéreis onde a sobrevivência é improvável... Nada mais falso. Os diversos habitats rochosos que podem ser encontrados no nosso país estão repletos de vida e cor.

 

Nos esporões pedregosos das praias da frente atlântica de Almada, podemos encontrar várias espécies de aves, entre elas a rola-do-mar. Estas belas aves percorrem as pedras deixadas a descoberto pela baixa-mar em busca de invertebrados e pequenos caranguejos. 

Rola-do-mar (Arenaria interpres)Rola-do-mar (Arenaria interpres) Cova do Vapor - Almada (02-11-2019)

 

Aves, mamíferos, répteis, insectos, plantas... alguns utilizam as pedras como casa, outros como território de caça, zona de repouso ou meio de protecção. Seja como for, a vida adapta-se a todos os ambientes e encontra forma de prosperar. Até um calhau nu e molhado pode ser um precioso aliado para algum réptil em processo de termorregulação (os répteis são ectotérmicos, ou seja, necessitam de uma fonte externa de calor para regularem a sua temperatura corporal).

 

Embora os seus números aparentem estar a diminuir em favor da proliferação das exóticas tartarugas-da-florida, ainda vamos podendo encontrar, pelos nosso cursos de água, alguns cágados-mediterrânicos a tomar plácidos banhos de sol em cima de alguma pedra que se projecte um pouco fora do elemento líquido.

Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa)Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) ZPE Castro Verde (11-06-2016)

 

Alguns animais especializam-se nestes habitats, onde passam toda a sua vida, chegando a um ponto em que isso os define e lhes confere identidade.

 

Este pequeníssimo passeriforme ocorre em escarpas e grandes paredes rochosas, tornando bastante difícil a sua localização. É nestas fragas que se alimenta, repousa e procria, o que lhe granjeou o nome de trepadeira-dos-muros ou trepa-fragas.

Trepadeira-dos-muros (Tichodroma muraria) Cabo Sardão (31-03-2018) (42b).JPGTrepa-fragas ou Trepadeira-dos-muros (Tichodroma muraria) Cabo Sardão - Odemira (31-03-2018)

 

E, se alguns bichos dominam por completo estes ambientes, calcorreando cada centímetro de pedra, investigando cada irregularidade, explorando cada anfractuosidade, outros há que apenas os conhecem superficialmente, utilizando estas estruturas como mero auxiliar para os seus afazeres do dia-a-dia.

 

Em cima de uma rocha saliente num dos muitos ribeiros de águas frias e límpidas que ainda hidratam o norte do país, encontramos vigilante um ser delicado, de cor iridescente. No centro do seu território, o macho de donzelinha aguarda a passagem de uma fêmea enquanto defende ameaçadoramente as suas fronteiras dos seus potenciais rivais. Em cima daquelas pedras desenrola-se o terrível - ainda que belo - jogo da vida.

Donzelinha (Calopteryx virgo)Donzelinha (Calopteryx virgo) Rio Caima - Vale de Cambra (08-09-2018)

 

Alguns animais há que, sem serem fiéis a estes biótopos, usufruem deles quando as circunstâncias assim o ditam.

 

Os pilritos-das-praias são mais conhecidos por serem observados a correr freneticamente pela areia, junto à linha de espuma do mar. O seu vai e vem quase pendular reflecte a cadência das ondas e marca o ritmo segundo o qual estas pequenas aves procuram na areia molhada os minúsculos invertebrados dos quais se alimentam. No entanto, na maré cheia podemos vê-los a repousar em grupo nos rochedos fora do alcance das águas. Da mesma forma, não é incomum vê-los a procurar alimento entre mesmas rochas na maré vazante. Na vida há que saber aproveitar as oportunidades e estes pequenos não deixam os seus créditos por mãos alheias... 

Pilrito-das-praias (Calidris alba)Pilrito-das-praias (Calidris alba) Cova do Vapor - Almada (28-01-2016)

 

20
Jun18

Bichos do mato: Cigarras - Uma vida a cantar

"A Cigarra e a Formiga" é umas das mais conhecidas fábulas de La Fontaine - embora na verdade a sua autoria seja atribuída ao escritor grego Esopo (620 a.C. - 564 a.C.) - e fala-nos da importância de, em época de abundância, continuarmos a trabalhar e a poupar os nossos recursos para termos como subsistir em tempos de dificuldades.

 

No conto, a cigarra passa o verão a cantar e a comer folhas verdes enquanto a formiga apenas trabalha e armazena comida... chegado o inverno, a cigarra passa mal e vê-se obrigada a recorrer à formiga para sobreviver.

Cigarra-comum (Cicada orni)Cigarra-comum (Cicada orni Parque Tejo - Lisboa (23-08-2016)

 

Nas nossas matas ou nos parques e jardins das nossas cidades, naquelas tardes tórridas de verão em que nenhuma brisa se sente e nenhum outro som se ouve, o estridente "canto" dos machos destes insectos eleva-se no ar - pode rondar os 100 decibéis e é gerado pela vibração de uma membrana no seu primeiro segmento abdominal - na tentativa de atrair uma fêmea para acasalar.

 

Aquele som vibrante e constante - até eventualmente irritante - leva-nos a pensar: "afinal a fábula tem uma razão de ser". Mas onde estão os bichos? O som que ouvimos parece não ter uma origem definida: olhamos, procuramos e... nada. Pois, estes insectos são extremamente crípticos, sendo bastante difícil localizá-los. E quando finalmente conseguimos ver um deles, supresa das surpresas! "Mas não deviam ser parecidos a gafanhotos?"

 

De facto não o são, o aspecto das cigarras mais facilmente faz lembrar uma enorme mosca, com os seus grandes olhos redondos e as suas asas transparentes. Sim, os ilustradores das histórias andaram a "enganar-nos" durante todo este tempo... 

Cigarra-de-José (Tettigettalna josei)Cigarra-de-José (Tettigettalna josei) Quinta de Marim - Olhão (23-05-2020)

 

Pelo menos os contos acertaram numa coisa: as cigarras passam o verão a cantar. E no resto do ano? Serão hóspedes das formigas tal como La Fontaine sugeriu? De todo.

 

A cigarra fêmea é atraida pela cantoria de uma macho, é fecundada, põe os seus ovos e morre. Depois da eclosão, as ninfas saídas desses ovos - estes artrópodes sofrem uma metamorfose incompleta (não passam pela fase de pupa) - caem ao chão onde se enterram e onde sobrevivem de 1 a 17 anos - consoante a espécie - alimentando-se da seiva retirada das raizes das plantas.

 

Chegado o pico do verão, emergem do subsolo e passam por uma transformação para o estágio adulto (ecdise). Durante umas semanas alimentam-se da seiva obtida pelos caules e folhas e os machos cantam sob o sol tórrido até que o ciclo se complete uma vez mais.

 

Eles de facto passam toda a sua vida adulta a cantar...

Timpanista-compositora (Tympanistalna gastrica) Timpanista-compositora (Tympanistalna gastrica) Cabo Espichel (28-05-2020)

23
Out17

A frágil força da natureza

Florestas, estepes, montanhas, rios, desertos, lagos, dunas, oceanos... diversos habitats, cada qual com as suas especificidades e a sua rede de interacções. Ditam as leis do senso comum que nas regiões mais áridas sobrevivam apenas as espécies resistentes e fortes, mas será realmente assim?
 
Nas brutais pressões das fossas abissais sobrevivem peixes de formas tão delicadas que o seu corpo é transparente, nas escaldantes areias dos desertos podemos encontrar pequenos e frágeis lagartos, nas inóspitas montanhas chinesas ainda resiste uma cada vez menor população de Pikas - um pequeno e "fofinho" mamífero aparentado com os coelhos. Estes, entre tantos outros exemplos, são a demonstração cabal de que na natureza a robustez física não é determinante para a sobrevivência, por muito agreste que seja o habitat. A rudeza e a delicadeza coexistem e muitas vezes complementam-se.
 
Dito isto, devo confessar que a última coisa que eu esperava encontrar no topo de uma serra rochosa e agreste, era uma frágil borboleta...
 

Borboleta-de-pintinhas (Glaucopsyche melanops)Borboleta-de-pintinhas (Glaucopsyche melanops) Serra da Gardunha (15-06-2017)

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