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bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

22
Nov22

Onde observar - Sagres, ponto de encontro dos que não sabem o caminho

Para aqueles maluquinhos que fazem da observação de aves o seu hobbie (e às vezes a sua obsessão), as migrações primaveril (pré-nupcial) e outonal (pós-nupcial) apresentam oportunidades únicas de observação, pois trazem de passagem algumas espécies que dificilmente podemos observar noutras alturas do ano. A migração pós-nupcial é especialmente profícua, pois é no fim de verão/início de outono que as aves juvenis, nascidas mais a norte na Europa, empreendem a sua longa jornada a caminho de terras mais quentes... umas seguem para África, outras invernam por cá, na Península Ibérica.

Nesta época do ano, entre meados de agosto e meados de novembro (grosso modo), por todo o país surgem bichos de passagem, a caminho do Sul. É uma altura incrível, onde qualquer ave pode aparecer em qualquer sítio. Mas há um local específico para onde todos parecem convergir, tanto as aves como os observadores que as procuram. 

Bem-vindos a Sagres, a capital da observação de aves em Portugal. 

Esmerilhão (Falco columbarius)Esmerilhão (Falco columbarius) Sagres (07-11-2021)

 

Mas o que torna esta região tão atractiva nesta altura do ano?

Bem, é sabido que ninguém nasce ensinado... nem mesmo os animais, por muito bons que sejam os seus instintos. Após a reprodução, com a diminuição de horas de luz do dia, as aves migratórias começam paulatinamente a encetar o seu percurso a caminho de paragens mais meridionais. Umas seguem em bando, outras de forma mais isolada, mas todas elas são empurradas para sul pela sua bússola interna. Sucede que os adultos, tendo já efectuado pelo menos uma migração anteriormente, têm o azimute mais afinado e seguem directos para Gibraltar, o ponto onde irão atravessar o Mediterrâneo.

Já os putos, mais inexperientes e destrambelhados, vão descendo o país um pouco mais "à toa", mais dependentes dos ventos e da orografia do terreno. Só "sabem" que têm que seguir mais ou menos para os lados do sul, mas não sabem a rota, pelo que muitos acabam por aproximar-se da costa oeste e utilizam o mar como rumo. No entanto, entrando na península de Sagres, voltam a dar de caras com o mar na costa sul, ficam baralhados e, muitas vezes, permanecem a circular ali na região vários dias até finalmente se orientarem e seguirem para Gibraltar.

Se há um espectáculo que merece ser visto pelo menos uma vez, por aqueles que têm fraquinho por estes bichos emplumados, é o de dezenas de indivíduos de várias espécies de aves planadoras a circular pelos céus, à procura do caminho para um sítio que nunca viram...

Águia-cobreira (Circaetus gallicus) Sagres (04-10-2022)Cegonha-preta (Ciconia nigra) Sagres (02-10-2022)Bútio-vespeiro (Pernis apivorus) Sagres (02-10-2022)Gavião (Accipiter nisus) Sagres (02-10-2022)Açor (Accipiter gentilis) Sagres (01-10-2022)Grifo (Gyps fulvus) Sagres (04-11-2021)Grifo (Gyps fulvus) Sagres (04-11-2021)Grifo (Gyps fulvus) Sagres (04-11-2021)Abutre-preto (Aegypius monachus) Sagres (05-11-2021)Britango (Neophron percnopterus) Sagres (25-10-2019)Cegonha-preta (Ciconia nigra) Sagres (05-10-2018)Águia-de-bonelli (Aquila fasciata) Budens (07-10-2017)

 

Mais para fins de outubro, é especialmente impressionante observar isto a suceder com bandos de centenas de grifos. Chega a haver milhares destas aves a circular pela região ao mesmo tempo.

Grifo (Gyps fulvus)Grifo (Gyps fulvus) Sagres (04-11-2021)

 

Não é, portanto, de estranhar que ali tenha nascido o Festival Observação de Aves & Atividades de Natureza de Sagres, que este ano teve a sua 13ª edição. Todos os anos, geralmente na semana do feriado do 5 de outubro, dezenas de visitantes de várias nacionalidades vão observar de perto a migração e participar nas diversas actividades disponibilizadas pela organização.

Birdwatching2022-Website-Slider-PT.jpg

 

Mas as pessoas que se deslocam a Sagres nos inícios de outono não vão apenas à procura de rapinas. Entre aves residentes e migradoras, terrestres e marítimas, já foram observadas mais de 300 espécies na região. Há muito para ver...

Chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe) Sagres (08-10-2022)Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola) Sagres (07-10-2022)Toutinegra-do-mato (Sylvia undata) Sagres (07-10-2022)Papa-figos (Oriolus oriolus) Sagres (06-10-2022)Tarambola-dourada (Pluvialis apricaria) Sagres (05-10-2022)Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) Sagres (05-10-2022)Cotovia-arbórea (Lullula arborea) Sagres (03-10-2022)Rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicurus phoenicurus) Sagres (02-10-2022)Estorninho-malhado (Sturnus vulgaris) Sagres (07-11-2021)Cotovia-escura (Galerida theklae) Sagres (07-11-2021)Galheta (Gulosus aristotelis) Sagres (07-11-2021)Melro-de-colar (Turdus torquatus) Sagres (07-11-2021)Tordo-zornal (Turdus pilaris) Sagres (25-10-2019)Rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicurus phoenicurus) Sagres (06-10-2017)Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) Sagres (06-10-2017)Casquilho (Oceanites oceanicus) ao largo de Sagres (06-10-2017)Alma-de-mestre (Hydrobates pelagicus) ao largo de Sagres (06-10-2017)Alcatraz (Morus bassanus) ao largo de Sagres (06-10-2017)Toutinegra-de-bigodes (Curruca iberiae) Sagres (05-10-2017)Papa-amoras-comum (Curruca communis) Sagres (05-10-2017)Mocho-galego (Athene noctua) Vila do Bispo (02-10-2016)Trigueirão (Emberiza calandra) Sagres (02-10-2016)Torcicolo (Jynx torquilla) Vila do Bispo (30-09-2016)Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) Vila do Bispo (30-09-2016)Corvo (Corvus corax) Sagres (07-11-2021)Pardela-balear (Puffinus mauretanicus) Sagres (36-10-2019)Melro-azul (Monticola solitarius) Boca do Rio (10-06-2016)Chasco-ruivo (Oenanthe hispanica) Sagres (10-06-2016)

 

Entre todas estas espécies, há sempre algumas que chamam mais a atenção ou geram mais procura, quer seja por serem especialidades da região, ou por serem aves mais incomuns ou até raras.

Sisão (Tetrax tetrax)Sisão (Tetrax tetrax) Sagres (30-09-2016)

Borrelho-ruivo (Charadrius morinellus) Sagres (07-10-2022)Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) Sagres (02-10-2022)Petinha-marítima (Anthus petrosus) Sagres (26-10-2019)Grifo-pedrês (Gyps rueppellii) Sagres (05-10-2017)

 

Com tantas aves a circular na zona, é inevitável que acabem por interagir connosco e com o nosso modo de vida.

Esta interacção é especialmente preocupante nos parques eólicos da região, que representam um perigo muito real para grandes planadoras, como águias, cegonhas e abutres. As empresas gestoras destes parques contratam, no período mais crítico do ano, consultoras que colocam equipas no terreno, garantindo uma monitorização permanente. Estas equipas dispõem inclusivamente da capacidade de parar os geradores, em caso de perigo eminente. Felizmente, estas medidas de mitigação têm mostrado ser bastante eficientes.

 

Outras interacções aves/humanos podem parecer mais inócuas, mas nem sempre é bem assim.

Os extra-maluquinhos que se decidam a levantar bem cedo para dar uma volta pela zona, arriscam-se a ter surpresas como dar de caras com um bando de dezenas ou até centenas de abutres a dormitar no chão. Claro que a tentação de nos aproximarmos é bastante difícil de resistir... as fotos que poderíamos conseguir, se chegássemos perto...

No entanto, os resultados disso tendem a ser bastante perniciosos para as aves. O mais provável é que estas se vão assustar e levantar voo mais cedo do que o suposto, acabando por não descansar tanto quanto precisavam. Não esqueçamos que são aves enormes, a meio de uma viagem de milhares de km... toda a energia poupada é preciosa.

E, se os fizermos levantar voo assustados nas imediações de um parque eólico, mais do que meramente pernicioso, o resultado pode ser catastrófico.

Grifo (Gyps fulvus)

Grifos (Gyps fulvus) Sagres (07-11-2021)

 

De qualquer forma, podemos apreciar à distância e até conseguir algumas fotos sem incomodar os bichos. Basta que tenhamos em mente mais o seu interesse do que o nosso.

As fotos acima foram todas conseguidas a uma distância segura, de dentro do carro, parado na berma de uma estrada alcatroada. Não serão imagens tecnicamente perfeitas, mas são excelentes recordações de um incrível "momento National Geographic", num dia em que decidi dar uma volta à toa, ao nascer do dia, sem percurso nem destino definidos.

 

Definitivamente, no outono, Sagres é o ponto de encontro dos que não sabem o caminho...

 

21
Ago22

A cidade vai ficar mais bonita...

Goste-se ou não das questões religiosas que lhe estão inerentes, é inegável que a Jornada Mundial da Juventude é um marco importante no calendário anual de eventos de qualquer país. Portugal não é excepção e, com o acolhimento em Lisboa desta jornada em 2023, começam a notar-se movimentações na cidade, tanto a nível político como logístico.

Uma das faces mais visíveis dessas movimentações é a zona entre o Parque Tejo e a foz do rio Trancão. O Aterro Sanitário de Beirolas está em obras e ali irá nascer mais um parque urbano. A cidade vai ficar mais bonita, mas... porque é que isso me deixa triste?

Após a descontaminação da área envolvente e do isolamento dos resíduos no seu interior, o aterro de Beirolas foi preenchido com terras adequadas ao desenvolvimento de vegetação e foi assim deixado. É sabido que a natureza prospera onde o Homem abandona... ora, protegido de presença humana por vedações, este terreno foi reclamado pela vegetação e ali encontraram protecção e alimento várias espécies de insectos, aves e pequenos mamíferos, entre outros bichos.

Perdiz-vermelha (Alectoris rufa)Perdiz-vermelha (Alectoris rufa) Aterro sanitário de Beirolas (27-08-2020)

Este espaço onde agora vai nascer o novo jardim, foi berço de ninhadas de perdizes, fuinhas-dos-juncos e cartaxos. Foi protecção e alimento para patos, pardais, rolas, trigueirões, toutinegras-dos-valados, bicos-de-lacre, milheirinhas, pegas-rabudas, entre tantas outras espécies.

Andorinha-das-Chaminés (Hirundo rustica) (03-06-2022)Toutinegra-de-cabeça-preta (Curruca melanocephala) (03-06-2022)Milheirinha (Serinus serinus) (03-06-2022)Fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) (03-06-2022)Perdiz-vermelha (Alectoris rufa) (09-05-2022)Fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) (09-05-2022)Melro-preto (Turdus merula) (28-04-2022)Pato-real (Anas platyrhynchos) (28-04-2022)Trigueirão (Emberiza calandra) (27-04-2022)Cartaxo-comum (Saxicola rubicola) (13-03-2022)Perdiz-vermelha (juvenil) (Alectoris rufa) (29-07-2021)Petinha-dos-prados (Anthus pratensis) (02-12-2020)
Pega-rabuda (Pica pica) (05-08-2020)Cartaxo-comum (juvenil) (Saxicola rubicola) (13-06-2018)

Foi também terreno de caça, patrulhado por predadores em busca dos pequenos seres que ali se protegiam. Aves de rapina como a águia-d'asa-redonda, a águia-sapeira e o peneireiro eram presenças regulares e também as garças-reais facilmente podiam ser observadas por ali, à procura de répteis, ratos e invertebrados...

Garça-real (Ardea cinerea) (03-06-2022)Águia-sapeira (Circus aeruginosus) (09-05-2022)
Águia-sapeira (Circus aeruginosus) (09-05-2022)Águia-d'asa-redonda (Buteo buteo) (13-01-2021)

No fim do verão/início do outono, os migradores de passagem aproveitavam a abundância de alimento e a protecção das ervas altas e do viveiro de árvores abandonado, para ali retemperar as preciosas energias antes de prosseguirem viagem para África. 

Papa-amoras-comum (Sylvia communis) (29-08-2021)Picanço-barreteiro (Lanius senator) (02-08-2021)Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) (26-08-2020)Papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata) (31-08-2016)

 

Hoje, reina o pó e o barulho das máquinas. Do prado exuberante restam uns pastos amachucados e das árvores do viveiro sobram meia dúzia, que possivelmente ficarão no futuro jardim, testemunhas daquilo que foi, mas que não mais voltará a ser.

 

Por ora, ainda podemos observar pegas, perdizes, estorninhos e várias outras aves que vão encontrando alimento por entre os torrões revirados, mas findas as obras de fundo e começados os trabalhos de "paisagismo", só sobrarão as "aves de jardim", iguais a todas as outras que podem ser vistas nos relvados ali mais a jusante. Não mais veremos as pegas e as ninhadas de perdizes, nem o deslizar das icónicas rapinas, nos seus calmos voos predatórios. As miríades de insectos polinizadores que ali faziam a sua vida, terão que procurar outros espaços. Este pertence aos humanos.

Pega-rabuda (Pica pica) (11-07-2022)Perdiz-vermelha (Alectoris rufa) (11-07-2022)Perdiz-vermelha (juvenis) (Alectoris rufa) (11-07-2022)Pega-rabuda (Pica pica) (11-07-2022)

Plantas exóticas, infrastruturas e equipamentos de desporto e lazer, cimento, plástico e metal a rodearem relvados insustentáveis, de aspecto artificial... é insaciável, a nossa sede por moldar o mundo à imagem da nossa concepção de beleza (talvez um dia - ideia louca - alguém nos ensine a apreciar a pureza da natureza, ao invés de a moldar aos nossos desígnios). Ali ao lado, nasce uma ponte para atravessar o Trancão e, aparentemente, entrar com mais um passadiço pelo sapal a dentro. Quando toca ao mundo natural, não há refúgio que não violemos ou santuário que não profanemos...

Vamos ter mais jardins, mais zonas de lazer e mais passadiços. Mais pessoas a andar, correr, saltar e pedalar enquanto falam, riem e gritam. A cidade irá, indubitavelmente, ficar mais bonita...

 

Eu? Eu estou apenas triste.

Perdiz-vermelha (Alectoris rufa) (11-07-2022)Perdiz-vermelha (Alectoris rufa) Aterro sanitário de Beirolas (12-07-2022)

09
Dez21

Born free

Cinco anos atrás, dava eu os meus primeiros passos a sério nesta actividade. Apesar de ter crescido no campo, nunca tinha observado a natureza de forma tão exuberante, tão... selvagem, como nas primeiras vezes em que visitei a lezíria. 
 
Palavra alguma poderá descrever a sensação de pequenez e deslumbre... nem tampouco meras imagens farão jamais justiça a tal espectáculo da natureza, mas fica uma vã tentativa de captar um inenarrável momento.
 
Talvez este vídeo consiga explicar, em parte, o porquê desta minha paixão.
 

 

Íbis-preta (Plegadis falcinellus) Lezíria Grande de Vila Franca de Xira (10-12-2016)

 

Sim, estas coisas ocorrem . E a uns breves minutos de distância da capital... 

23
Nov21

2º Censo Ibérico de Águia-pesqueira Invernante

Em janeiro de 2022 irá ser realizado pela segunda vez um censo ibérico da população invernante de águias-pesqueiras. Iniciativa original do portal avesdeportugal.info, este será o quinto censo desta espécie a ser levado a cabo no nosso país.

2º Censo Ibérico de Águia-pesqueira invernante

Os locais a visitar compreendem as zonas húmidas costeiras (estuários, rias e lagoas), bem como as grandes albufeiras do interior. 

Pandion haliaetusÁguia-pesqueira (Pandion haliaetus) Lezíria Grande de Vila Franca de Xira (23-12-2017)

Para participar autonomamente é necessário apenas possuir um par de binóculos e saber identificar uma águia-pesqueira. Pessoas que não possuam um (ou ambos) destes requisitos e ainda assim desejem participar nesta acção de ciência-cidadã, serão (dentro da medida do possível) colocadas com um observador mais experiente que possa assegurar a contagem.

censo_pandion_2022.JPGRede provisória de pontos de observação no estuário do Tejo - jusante

Pela terceira vez vou estar a coordenar as contagens na área do estuário do Tejo jusante (entre Pancas e o Seixal) e, se desejarem participar nesta área, podem entrar em contacto comigo através da caixa de comentários ou do email disponível no meu perfil. Caso o pretendam fazer noutra zona do país, podem à mesma contactar-me (eu encaminho-vos para o respectivo coordenador regional), ou enviar um email directamente à coordenação nacional através do endereço geral@avesdeportugal.info.

Venham passar uma manhã no campo e contribuir um bocadinho para o conhecimento sobre esta incrível ave de rapina. 

18
Set21

As aparências iludem

O aspecto dos animais gera sentimentos em nós.
 
Tal como uma aranha, uma cobra ou uma osga tendem a causar-nos repulsa, uma ave de cores chamativas e formas delicadas parece sempre, aos nossos olhos, fofinha e inofensiva... mas a natureza não se compadece com sentimentalismos e, nela, a forma é sempre adequada à função (ou funções).
Perdiz-do-mar (Glareola pratincola) Lezíria Grande - VFX (10-04-2016) (19).JPGPerdiz-do-mar (Glareola pratincolaVila Franca de Xira (10-04-2016)
 

Por exemplo, esta bela ave, de aspecto aerodinâmico e gracioso (até angelical), é na verdade quase uma mini rapina, autêntico anjo da morte para aranhas, moluscos e grandes insectos como gafanhotos, ralos ou besouros.

Perdiz-do-mar (Glareola pratincola) Lezíria Grande - VFX (10-04-2016) (30).JPGPerdiz-do-mar (Glareola pratincolaVila Franca de Xira (10-04-2016)
 
A nossa percepção, tantas vezes enviesada pelos padrões estéticos humanos, cria-nos ilusões e leva-nos a esquecer essa velha máxima da vida... as aparências, de facto, iludem.
04
Ago21

Impactos e Interacções - Bigfoot

O impacto que as nossas actividades têm sobre a natureza aumenta a cada ano que passa. O consumo desenfreado leva a um excesso de resíduos e quem paga a factura são as aves, os peixes, as plantas... Urge tomar consciência e fazer os possíveis para reduzir a nossa pegada ecológica que, neste momento, é titânica.

 

Rola-do-mar (Arenaria interpres) Costa de Caparica (02-05-2016) (1).JPGRola-do-mar (Arenaria interpresCosta da Caparica - Almada (02-05-2016)

11
Jul21

Os Fenótipos e a Etologia - Patas & Garras

As patas são umas das partes anatómicas das aves que mais variam a nível de tamanho e formato. Se os pequenos passarinhos têm pernas relativamente curtas e finas, bem como dedos também eles finos e delicados, apropriados para se agarrarem aos pastos e ramos, as perdizes e codornizes têm patas mais fortes, adequadas a caminhar no solo, por exemplo. Há uma grande variedade de tipos de patas, pois estas tendem a reflectir com bastante fiabilidade o tipo de interacção que cada ave tem com o seu meio.

A verdade é que, se encontrássemos um destes membros perdido por aí, conseguiríamos provavelmente, com algum grau de certeza, saber a que grupo de aves teria pertencido.

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Uma águia a "surfar" um enorme peixe é uma das visões mais espectaculares que podemos ter nos nossos rios, estuários ou barragens. As patas destas rapinas especializadas na captura de peixes vivos possuem algumas das adaptações mais interessantes entre as aves, apresentando garras especialmente fortes e recurvadas, rugosidades com barbelas na pele e um dedo externo reversível, que lhe permite segurar os peixes com dois dedos para a frente e dois para trás. 

Águia-pesqueira (Pandion haliaetus)Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) Setúbal (26-12-2020)

 

As aves que se deslocam em meio aquático, quer apenas caminhem dentro de água, quer sejam nadadoras de superfície ou até mergulhadoras, desenvolveram também elas incríveis adaptações nos seus membros posteriores.

A maioria das aves nadadoras têm as patas colocadas bem atrás, em relação ao seu centro de gravidade, e possuem membranas interdigitais ou bolbos carnudos nos dedos, que lhes proporcionam uma melhor impulsão no meio aquático. Em terra seca, estes bichos são por norma desajeitados e relativamente lentos.

Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis)Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis) Sesimbra (20-01-2018)

Já as garças e limícolas, que procuram alimento em lodos ou águas rasas, tendem a ter patas compridas, para que possam manter o corpo a seco, e dedos longos, que lhes conferem um maior equilíbrio.

Garça-verde (Butorides virescens)Garça-verde (Butorides virescens) Almada (09-11-2018)

O camão é um caso talvez ainda mais radical de adaptação. Para além das pernas altas, que usa para caminhar dentro de água, os seus dedos são extremamente compridos e permitem-lhe segurar as grandes raízes de caniço das quais se alimentam. Há quem diga que o seu nome deriva mesmo deste facto, sendo uma corruptela da expressão "c'a mão".

Caimão (Porphyrio porphyrio)Caimão (Porphyrio porphyrio) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (27-02-2016)

 

Mas a água não é o único meio que requer uma anatomia adaptada. As aves trepadoras, como os pica-paus e as trepadeiras têm dedos curtos e unhas finas e afiadas que lhes permitem agarrar-se aos troncos das árvores (ou às rochas, no caso da trepadeira-dos-muros). Estas, em conjunto com algumas outras características anatómicas, permitem-lhes subir (ou descer, como é hábito dos passarinhos abaixo) troncos e postes em busca de alimento.

Trepadeira-azul (Sitta europaea)Trepadeira-azul (Sitta europaea) Cercal do Alentejo (14-04-2017)

 

"Armadas" com garras não menos afiadas e dedos mais poderosos, as patas das aves de rapina são sentença de morte para qualquer incauta presa que se deixe apanhar por elas. Com um forte aperto e as garras espetadas profundamente no seu corpo, o fim chega rápido e misericordioso (se é que tal termo pode ser aplicado à natureza).

Açor (Accipiter gentilis)Açor (Accipiter gentilis) Seixal (20-06-2021)

 

Como qualquer eng. mecânico poderia confirmar, ter a forma adequada à função é uma das melhores maneiras de garantir a eficiência dos recursos, minimizando ao máximo o desperdício de energia. Não há realmente engenharia melhor do que a da velha mãe natureza.

25
Jun21

Os Fenótipos e a etologia - A importância do bico

A morfologia do bico das aves tende a reflectir o seu tipo de alimentação. Aves com bicos curtos e grossos alimentam-se essencialmente de sementes... se este for forte, afiado e curvado na ponta, pertencerá certamente a um predador que o utiliza para arrancar pedaços de carne das suas presas. Bicos mais finos e afunilados servem geralmente para comer insectos e/ou fruta. Algumas aves que se alimentam nos rios e lagos, como as garças, têm bicos longos e fortes, com os quais trespassam os incautos peixes que tiverem o azar de passar por perto.

Fuselo (Limosa lapponica) Praia do Torrão (08-09-2016) (40).JPGFuselo (Limosa lapponica) Almada (08-09-2016)

 

Estas belas aves apresentam uns enormes apêndices, ligeiramente recurvados para cima, adequados para capturar e ingerir invertebrados em zonas estuarinas. Chegam a parecer desajeitados mas, tal como pude observar "in loco", este bico não lhes causa qualquer atrapalhação, cumprindo a sua função a preceito.

Apesar de não me ter sido possível confirmar, o seu comportamento levou-me a crer que se estariam a alimentar de pulga-do-mar (Talitrus saltator).

Fuselo (Limosa lapponica) Praia do Torrão (08-09-2016) (35).JPGFuselo (Limosa lapponica) Almada (08-09-2016)

 

Grande ou pequeno, recto ou curvo, grosso ou fino, qualquer que seja o seu tamanho e formato... é inegável, na vida das aves, a importância do bico e de o saber utilizar da forma mais adequada.

08
Jun21

Eu ouvi um passarinho

Mais tradicional do Baixo Alentejo, o Cante Alentejano é uma das imagens de marca do nosso país e a 3ª nomeação portuguesa a ser reconhecida como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Fica um pequeno excerto de uma conhecida música:

 

"Eu ouvi um passarinho,
Às quatro da madrugada,
Cantando lindas cantigas,
À porta da sua amada.
 
Por ouvir cantar tão belo,
A sua amada chorou...
Às quatro da madrugada,
O passarinho cantou..."
 
 
Na foto está o passarinho em questão.

Rouxinol-comum (Luscinia megarhynchos) Cercal do Alentejo (22-01-2016) (7).JPGRouxinol-comum (Luscinia megarhynchosCercal do Alentejo (22-01-2016)

 

Ouvir o seu canto a ecoar no silêncio da madrugada, é qualquer coisa de mágico e arrepiante. A gravação abaixo foi conseguida não às 4 da madrugada, mas às 00:35... foi quase.

 

05
Mai21

Onde observar: Seixal - Ponta dos Corvos

A Ponta dos Corvos é uma restinga que separa o leito do rio Tejo das águas mais interiores do Sapal de Corroios. Pertencente ao concelho do Seixal, este pedacinho de terra detém bastante importância histórica, pois ali se estabeleceu, em 1947, a chamada Fábrica Atlântica de Seca de Bacalhau. Com uma área de aproximadamente 40 ha e cerca de 600 trabalhadores, esta era a maior fábrica deste tipo na região. Encerrada desde o ínicio dos anos 90, todas as suas infraestruturas, bem como os moinhos de maré nas proximidades, encontram-se hoje completamente entregues ao degredo.

Mas os valores históricos não são os únicos, nem (na minha óptica) os mais importantes valores desta zona. O Sapal de Corroios é um importantíssimo refúgio de vida selvagem, infelizmente também ele completamente ignorado pelo poder autárquico.

Ponta dos CorvosNascer do sol na Ponta dos Corvos (05-12-2015)

 

Apesar de massacrada com a grande quantidade de lixo por ali deixada e com uma perturbação relativamente constante, a biodiversidade deste local ainda é assinalavelmente interessante. Ali podemos encontrar várias espécies de plantas, bastantes insectos, alguns répteis e, claro, muitas aves. Entre estas últimas, sem dúvida que a mais vistosa é o flamingo-rosado.

Flamingo-rosado (Phoenicopterus roseus)Flamingo-rosado (Phoenicopterus roseus) (03-04-2017)

 

Mas a avifauna deste local não é composta apenas pelos pernaltas cor-de-rosa, é muito mais diversa e interessante. No inverno, as aves aquáticas e limícolas dominam a paisagem, pois encontram ali excelentes condições para descansar e procurar alimento. Desde os corvos-marinhos que eu pensava que fossem a razão do nome deste local (informação entretanto corrigida pelo Sr. Manuel da Costa, nos comentários abaixo), passando pelas garças, tarambolas, patos, pilritos, maçaricos, gaivotas, rolas do mar... podemos observar bandos de centenas ou milhares de aves, miríades de pequenos corpos emplumados que se deslocam, ao ritmo das marés, entre os lodos expostos pela baixa-mar e a vegetação que lhes serve de poiso durante a preia-mar.

Ganso-do-egipto (Alopochen aegyptiacus) (03-04-2021)Garça-branca-pequena (Egretta garzetta) (02-04-2021)Pilrito-comum (Calidris alpina) (10-01-2021)Rola-do-mar (Arenaria interpres) (10-01-2021)Perna-vermelha-comum (Tringa totanus) (10-01-2021)Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula) (08-12-2020)Colhereiro (Platalea leucorodia) (28-11-2020)Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola) (21-11-2020)Maçarico-real (Numenius arquata) (21-11-2020)Carraceiro (Bubulcus ibis) (15-11-2020)Tadorna (Tadorna tadorna) (06-05-2020)Gaivota-de-cabeça-preta (Ichthyaetus melanocephalus) (28-09-2019)Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos) (07-01-2018)Pilrito-das-praias (Calidris alba) (01-11-2017)Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) (01-11-2017)Perna-verde-comum (Tringa nebularia) (14-01-2017)Pernilongo (Himantopus himantopus) (14-05-2016)Maçarico-galego (Numenius phaeopus) (28-04-2016)Pato-real (Anas platyrhynchos) (19-03-2016)Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) (21-02-2016)Garça-real (Ardea cinerea) (21-02-2016)Alfaiate (Recurvirostra avosetta) (05-12-2015)

 

Esporadicamente até por ali aparece alguma ave mais incomum ou mesmo rara. Não fosse a constante presença humana, a localização privilegiada deste local iria possivelmente atrair ainda mais destas aves.

Ganso-de-faces-pretas (Branta bernicla)Ganso-de-faces-pretas (Branta bernicla) (15-11-2020)

 

Outras aves, passeriformes e não só, frequentam as praias, os pastos, as ruínas e a vegetação de sapal. Várias espécies aparecem por ali na migração, como chascos e picanços, outras ficam para o inverno, como as petinhas, as lavercas e o pisco-de-peito-azul. Também há as que ali nidificam, como a poupa, o rabirruivo e o cartaxo. Se olharmos com atenção, podemos encontrar um variado leque de formas, cores e cantos...

Poupa (Upupa epops) (02-04-2021)Laverca (Alauda arvensis) (28-02-2021)Pega-rabuda (Pica pica) (30-11-2020)Petinha-dos-prados (Anthus pratensis) (01-11-2020)Fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) (28-09-2019)Cartaxo-comum (Saxicola rubicola) (01-11-2017)Gralha-preta (Corvus corone) (19-11-2016)Toutinegra-do-mato (Sylvia undata) (19-11-2016)Felosinha (Phylloscopus collybita) (27-10-2016)Cotovia-de-poupa (Galerida cristata) (27-10-2016)Chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe) (27-10-2016)Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) (27-10-2016)Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) (19-10-2016)Papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata) (28-08-2016)Pardal (Passer domesticus) (20-07-2016)Toutinegra-dos-valados (Sylvia melanocephala) (14-05-2016)Picanço-real (Lanius meridionalis) (28-04-2016)Melro-preto (Turdus merula) (23-04-2016)Picanço-barreteiro (Lanius senator) (23-04-2016)Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) (21-02-2016)Torcicolo (Jynx torquilla) (15-11-2020)Perdiz-vermelha (Alectoris rufa) (01-11-2017)
 

Mas estas aves, sejam elas aquáticas ou terrestres, não estão totalmente seguras e protegidas. Várias rapinas frequentam este recanto, em busca de presas. Se algumas se alimentam de insectos e pequenos vertebrados - ou até de peixe - outras tiram partido da fantástica quantidade de presas emplumadas que por ali existem. A águia-d'asa-redonda é comum ali, durante todo o ano, o falcão-peregrino também pode ser visto com frequência, bem como o peneireiro-vulgar. Também a icónica águia-pesqueira passa ali o inverno, usufruindo da abundância de poisos seguros no meio do sapal para devorar os peixes que captura nas águas do Tejo. Estas, entre algumas outras aves de rapina, constituem o topo da cadeia alimentar deste ecossistema.

Falcão-peregrino (Falco peregrinus)Falcão-peregrino (Falco peregrinus brookei) (02-02-2020)

Águia-sapeira (Circus aeruginosus) (02-01-2021)Coruja-do-nabal (Asio flammeus) (13-12-2020)Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus) (01-11-2017)Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) (14-01-2017)Peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus) (21-02-2016)Águia-d'asa-redonda (Buteo buteo) (21-02-2016)

 

Mais abaixo, numa posição muito ingrata da cadeia alimentar, podemos observar por ali vários invertebrados, como gafanhotos e borboletas, alguns pequenos répteis e os sempre presentes caranguejos, nas zonas banhadas pelo rio. Pequenos e geralmente bem camuflados, estes bichos requerem a nossa melhor atenção, se os queremos encontrar. Mas vale a pena...

Lagarta de Trifoli (Lasiocampa trifolii) (03-04-2021)Besouro (Scarites cyclops) (03-04-2021)Caranguejo-verde (Carcinus maenas) (15-11-2020)Formiga-leão (Creoleon sp.) (26-05-2020)Mariposa (Diasemiopsis ramburialis) (26-05-2020)Esperança (Platycleis sp.) (26-05-2020)Moscardo (Dasypogon sp.) (26-05-2020)Neuróptero‑das‑duas-penas (Nemoptera bipennis) (26-05-2020)Larva de joaninha-de-sete-pintas (Coccinella septempunctata) (06-05-2020)Percevejo (Calocoris roseomaculatus) (06-05-2020)Mariposa (Idaea ochrata) (06-05-2020)Douradinha-do-arco (Thymelicus acteon) (06-05-2020)Cobra-de-pernas-tridáctila (Chalcides striatus) (06-05-2020)Lagartixa-verde (Podarcis virescens) (08-05-2017)

 

Também o coberto vegetal é interessante e até demasiado variado para os meus parcos conhecimentos. Assim, qualquer pessoa que por ali caminhe certamente encontrará uma ou outra plantinha mais vistosa, nem que sejam apenas aquelas cujas flores coloridas imediatamente nos chamam a atenção.

Cistanche (Cistanche phelypaea) (03-04-2021)Silene (Silene nicaeensis) (03-04-2021)Papoila (Papaver rhoeas) (03-04-2021)Goivo-da-praia (Malcolmia littorea) (02-04-2021)Jacinto-das-searas (Leopoldia comosa) (02-04-2021)Erva-gorda (Arctotheca calendula) (02-04-2021)Erva-vassoura (Phelipanche nana) (02-04-2021)Tremoço-azul (Lupinus angustifolius) (13-03-2021)Tomilho (Thymus sp.) (26-05-2020)Arméria (Armeria pungens) (06-05-2020)Erva-pinheira-enxuta (Petrosedum sediforme) (06-05-2020)Ansarina-dos-campos (Linaria spartea) (06-05-2020)
Alho-pôrro (Allium ampeloprasum) (06-05-2020)Botão-azul (Jasione montana) (06-05-2020)

 

As actividades de veraneio desregradas, a enorme quantidade de lixo deixada pelos mariscadores, a falta de fiscalização às actividades lúdicas como a canoagem ou o stand-up paddle, a falta de civismo em geral das pessoas que usufruem deste fantástico espaço, estão a pôr em perigo aquele que é, provavelmente, o maior valor natural deste concelho. Diz-se até que há planos para dinamizar e modernizar as praias da Ponta dos Corvos... a forma como isto será levado a cabo poderá vir a colocar (ou não) ainda mais pressão humana sobre o sapal.

Urge repensar a forma como vemos e utilizamos os nossos espaços naturais, tal como urge exigir às autarquias que protejam e cuidem destes frágeis paraísos. Isto se quisermos que as crianças do futuro ainda possam deslumbrar-se com a delicadeza dos flamingos e maravilhar-se com o voo rasante de um bando de milhares de limícolas... não num zoo, não num qualquer documentário da BBC, mas sim ali, quase à porta das nossas casas.

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