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bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

11
Jul21

Os Fenótipos e a Etologia - Patas & Garras

As patas são umas das partes anatómicas das aves que mais variam a nível de tamanho e formato. Se os pequenos passarinhos têm pernas relativamente curtas e finas, bem como dedos também eles finos e delicados, apropriados para se agarrarem aos pastos e ramos, as perdizes e codornizes têm patas mais fortes, adequadas a caminhar no solo, por exemplo. Há uma grande variedade de tipos de patas, pois estas tendem a reflectir com bastante fiabilidade o tipo de interacção que cada ave tem com o seu meio.

A verdade é que, se encontrássemos um destes membros perdido por aí, conseguiríamos provavelmente, com algum grau de certeza, saber a que grupo de aves teria pertencido.

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Uma águia a "surfar" um enorme peixe é uma das visões mais espectaculares que podemos ter nos nossos rios, estuários ou barragens. As patas destas rapinas especializadas na captura de peixes vivos possuem algumas das adaptações mais interessantes entre as aves, apresentando garras especialmente fortes e recurvadas, rugosidades com barbelas na pele e um dedo externo reversível, que lhe permite segurar os peixes com dois dedos para a frente e dois para trás. 

Águia-pesqueira (Pandion haliaetus)Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) Setúbal (26-12-2020)

 

As aves que se deslocam em meio aquático, quer apenas caminhem dentro de água, quer sejam nadadoras de superfície ou até mergulhadoras, desenvolveram também elas incríveis adaptações nos seus membros posteriores.

A maioria das aves nadadoras têm as patas colocadas bem atrás, em relação ao seu centro de gravidade, e possuem membranas interdigitais ou bolbos carnudos nos dedos, que lhes proporcionam uma melhor impulsão no meio aquático. Em terra seca, estes bichos são por norma desajeitados e relativamente lentos.

Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis)Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis) Sesimbra (20-01-2018)

Já as garças e limícolas, que procuram alimento em lodos ou águas rasas, tendem a ter patas compridas, para que possam manter o corpo a seco, e dedos longos, que lhes conferem um maior equilíbrio.

Garça-verde (Butorides virescens)Garça-verde (Butorides virescens) Almada (09-11-2018)

O camão é um caso talvez ainda mais radical de adaptação. Para além das pernas altas, que usa para caminhar dentro de água, os seus dedos são extremamente compridos e permitem-lhe segurar as grandes raízes de caniço das quais se alimentam. Há quem diga que o seu nome deriva mesmo deste facto, sendo uma corruptela da expressão "c'a mão".

Caimão (Porphyrio porphyrio)Caimão (Porphyrio porphyrio) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (27-02-2016)

 

Mas a água não é o único meio que requer uma anatomia adaptada. As aves trepadoras, como os pica-paus e as trepadeiras têm dedos curtos e unhas finas e afiadas que lhes permitem agarrar-se aos troncos das árvores (ou às rochas, no caso da trepadeira-dos-muros). Estas, em conjunto com algumas outras características anatómicas, permitem-lhes subir (ou descer, como é hábito dos passarinhos abaixo) troncos e postes em busca de alimento.

Trepadeira-azul (Sitta europaea)Trepadeira-azul (Sitta europaea) Cercal do Alentejo (14-04-2017)

 

"Armadas" com garras não menos afiadas e dedos mais poderosos, as patas das aves de rapina são sentença de morte para qualquer incauta presa que se deixe apanhar por elas. Com um forte aperto e as garras espetadas profundamente no seu corpo, o fim chega rápido e misericordioso (se é que tal termo pode ser aplicado à natureza).

Açor (Accipiter gentilis)Açor (Accipiter gentilis) Seixal (20-06-2021)

 

Como qualquer eng. mecânico poderia confirmar, ter a forma adequada à função é uma das melhores maneiras de garantir a eficiência dos recursos, minimizando ao máximo o desperdício de energia. Não há realmente engenharia melhor do que a da velha mãe natureza.

15
Abr21

Atrás das grades

Apanhar aves para as colocar numa gaiola é um hábito ainda muito enraizado nas zonas mais rurais do nosso país. Fazemo-lo com pequenos passarinhos cujo canto nos deslumbra, mas também com outras aves que queremos ter puramente como ornamento, ou apenas porque... sim. Já o vi acontecer com pintassilgos, tentilhões, verdilhões, milheirinhas, rapinas, patos, perdizes, codornizes. Apesar de ser coisa que hoje me parece impensável e desprovida de qualquer lógica ou razão, em tempos eu próprio já pratiquei estes actos...

 

Pato-trombeteiro (Anas clypeata)Pato-trombeteiro (Anas clypeata) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (19-03-2016)

 

Fizemo-lo a nós próprios, ao enfiarmo-nos em pequenas caixas de betão, aço e vidro e queremos fazê-lo a todas as outras espécies. Gaiolas, viveiros, cercados... barreiras atrás de barreiras, grades e mais grades... Porquê tentar cercear a liberdade de um ser selvagem, porquê desejar olhar para uma ave engaiolada, quando podemos ir até elas, quando é tão maior o gozo de as ver em liberdade, a interagirem com o seu meio?

Definitivamente, na sua incompreensível ignorância, o ser humano não consegue interiorizar que, atrás das grades, até a maior das belezas entristece, definha e morre...

13
Nov20

As aves e os seus habitats - Zonas intermarés: o lodo

Um habitat pode ser composto por um conjunto de diferentes biótopos, que não são mais do que áreas geográficas onde as condições ambientais são constantes ou cíclicas. Na verdade, grande parte dos habitats que existem no nosso país estão sujeitos a fenómenos periódicos que, de alguma forma, alteram as suas características.

Entre eles, as zonas intermarés serão, possivelmente, aqueles que apresentam a mais radical alteração de condições, num menor ciclo temporal. Margens ribeirinhas, praias, lagoas costeiras, sapais... consoante a geografia e geologia do terreno, as áreas deixadas a descoberto pela baixa-mar podem apresentar características muito diferentes. No entanto, há algo em comum em todos estes locais: o vai-e-vem regular das marés e o ritmo de vida que elas impõem às aves que ali se alimentam. Hoje vamos falar de um biótopo muito específico: as zonas de lodo.

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) Sado - Gâmbia (25-01-2020) (3).JPG

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) Herdade da Gâmbia, Setúbal (25-01-2020)

 

Quando a maré retrocede, revelando paulatinamente os lodos repletos de pedaços de conchas e algas, as aves começam a mostrar-se, abandonando os locais onde repousam durante a preia-mar. 

Fuselo (Limosa lapponica) Seixal (11-10-2020)

Milherango (Limosa limosa) Lisboa (29-01-2016)

 

Surgem vindas das salinas circundantes, dos pequenos mouchões dos sapais ou da vegetação marginal dos rios e começam a distribuir-se pelas margens crescentes onde se vão alimentar, acompanhando o refluxo das águas.

Perna-verde-comum (Tringa nebularia) Seixal (10-03-2019)Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula) Barreiro (05-01-2019)
Maçarico-galego (Numenius phaeopus) VN Milfontes (20-10-2018)Pilrito-pequeno (Calidris minuta) Parque Tejo, Lisboa (04-02-2018)

 

Várias espécies de límicolas percorrem os lodos húmidos em busca dos pequenos invertebrados dos quais se alimentam, chegando até a dar origem a bandos mistos com centenas ou mesmo milhares de indivíduos. Garças prospectam as águas rasas em busca de peixes incautos, flamingos filtram o lodo dentro de água, capturando os pequenos crustáceos que lhes dão a sua famosa cor, colhereiros "varrem" em busca de invertebrados e pequenos peixes. Podemos até encontrar passeriformes, como o pisco-de-peito-azul, nas zonas mais próximas da vegetação.

Colhereiro (Platalea leucorodia) Parque Tejo, Lisboa (04-02-2018)Flamingo-rosado (Phoenicopterus roseus) Seixal (03-04-2017)
Garça-branca-pequena (Egretta garzetta) Montijo (18-03-2017)Garça-real (Ardea cinerea) Parque Tejo, Lisboa (12-12-2015)

 

A questão da competição pelo alimento entre estas aves foi resolvida ao longo das eras, pela selecção natural. A diversidade de características físicas e comportamentais permite que coexistam num mesmo espaço.

Pilrito-de-bico-comprido (Calidris ferruginea) Seixal (01-11-2020)Íbis-preta (Plegadis falcinellus) Seixal (28-09-2020)
Frango-d'água (Rallus aquaticus) Sesimbra (13-06-2018)Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos) Seixal (07-01-2018)
Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola) Amora (22-10-2017)Perna-vermelha-bastardo (Tringa erythropus) Vila Franca de Xira (27-08-2017)
Pilrito-comum (Calidris alpina) Península da Carrasqueira (01-05-2017)Perna-vermelha-comum (Tringa totanus) Seixal (05-02-2017)

 

Algumas possuem bicos longos, para procurar alimento que esteja enterrado mais fundo, outras têm bicos curtos para capturar pequenos animais que existem mais à superfície. Há as que têm patas mais longas e bicos como lanças afiadas, para poderem trespassar os peixes nas águas rasas e há os que desenvolveram bicos poderosos o suficiente para quebrar as cascas dos bivalves. Cada espécie está perfeitamente adaptada à forma como vive e se alimenta.

Guincho-comum (Chroicocephalus ridibundus) Seixal (10-03-2019)Narceja-comum (Gallinago gallinago) Sesimbra (01-11-2016)
Maçarico-real (Numenius arquata) Amora (15-08-2016)Pernilongo (Himantopus himantopus) Seixal (20-03-2016)
Maçarico-bique-bique (Tringa ochropus) Vila Franca de Xira (28-02-2016)Rola-do-mar (Arenaria interpres) Amora (28-01-2016)

 

Embora as espécies límicolas estejam geralmente em larga maioria, podemos também ali encontrar algumas gaivotas, rapinas, garças, patos e gansos. 

Ganso-bravo (Anser anser) Vila Franca de Xira (05-11-2017)Marrequinha (Anas crecca) Vila Franca de Xira (10-04-2016)

 

E de vez em quando, muito de vez em quando, surge uma daquelas aves especiais que todos os observadores gostam de encontrar. Uma raridade vinda de paragens longínquas que encontrou abrigo num qualquer lodaçal deste recanto à beira-mar plantado. Como aquela garça americana que descobriu guarida numa vala algures num sapal algarvio, ou o pequeno maçarico que escolheu o rio Sado para passar o inverno, por exemplo. 

Goraz-coroado (Nyctanassa violacea) Faro (04-06-2020)Maçarico-sovela (Xenus cinereus) Setúbal (09-11-2019)

 

Uma multiplicidade de formas, cores, sons e comportamentos... nestas zonas de aspecto escuro e monótono, mas ricas em alimento, a diversidade biológica é rainha. No entanto, passadas cerca de 6 horas, a maré virou e iniciou o seu avanço inexorável em direcção às margens, empurrando à sua frente esta miríade de aves que novamente ganharão os céus e se dirigirão aos seus locais de repouso. Mais um ciclo que se completa, numa dança interminável, ao ritmo das marés.

25
Out20

Mariposas - os coloridos mistérios nocturnos

A noite sempre foi palco preferencial para lendas e histórias assustadoras. As criaturas que nela vagueiam ainda hoje permanecem, aos nossos olhos, envoltas numa névoa de temor e mistério. Tememos irracionalmente o piar do mocho ou o silvar da coruja-das-torres, sobressaltamo-nos instintivamente com o repentino e silencioso bater de asas do morcego, enojamo-nos com a rastejante salamandra...

Até as borboletas, cujas versões diurnas nos deliciam com as suas cores e delicadeza, ganham uma conotação negativa quando vivem a coberto das trevas. "Traças", chamam-lhes alguns, com um esgar de desprezo.

Mariposa (Lythria sanguinaria) Lagoa de Albufeira - Cabeço da Flauta (19-05-2020) (5).JPGMariposa (Lythria sanguinaria) Lagoa de Albufeira, Sesimbra (19-05-2020)

 

Na verdade, o nome mais correcto a atribuir a estas borboletas noctívagas é o de "mariposas". A designação de "traças" deriva das espécies cujas larvas se alimentam do tecido das nossas roupas... mas, em Portugal, são pouquíssimas as espécies em que isto acontece (talvez meia dúzia), ao passo que as restantes borboletas nocturnas compreendem cerca de 2600 espécies. Ainda assim, provavelmente a sua má reputação deriva do facto de serem bichos pouco coloridos e de aspecto mais soturno, não é?

Mariposa (Acontia lucida) Seixal (03-06-2020)Mariposa (Cleta ramosaria) Cabo Espichel, Sesimbra (19-05-2020)Sangrenta-da-tasna (Tyria jacobaeae) Cercal do Alentejo (17-05-2020)Mariposa (Opisthograptis luteolata) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Mariposa-estriada (Spiris striata) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena, Sesimbra (21-08-2019)Mariposa-pluma (Crombrugghia laetus) Mata dos Medos, Almada (13-07-2019)

 

Não, nem por isso. As mariposas são tão ou mais coloridas do que as borboletas diurnas e são muito mais diversas no seu formato. De facto, entre cores pastel e outras mais garridas, estes animais surpreendem pela fantástica variedade de fenótipos que apresentam.

Mariposa (Watsonalla uncinula) Pancas, Benavente (28-07-2020)Mariposa (Pterostoma palpina) Pancas, Benavente (28-07-2020)Mariposa (Zygaena fausta) Serra da Arrábida (28-06-2020)Mariposa (Chrysocrambus dentuellus) Cabo Espichel (19-05-2020)Mariposa (Hypena obsitalis) Cercal do Alentejo (17-05-2020)Mariposa (Camptogramma bilineata) Fernão Ferro, Seixal (15-05-2020)Mariposa (Udea ferrugalis) Seixal (15-05-2020)Mariposa (Dyspessa ulula) Cabo Espichel (12-05-2020)
 

Talvez como meio de camuflagem, talvez com outro propósito evolucionário que escapa aos meus conhecimentos, a verdade é que esta multiplicidade de formas deu origem a animais lindíssimos que merecem ser observados com atenção.

Mariposa (Euchromius sp.) Pancas, Benavente (28-07-2020)Mariposa (Alucita grammodactyla) Lagoa de Albufeira (19-05-2020)Mariposa (Rhodometra sacraria) Seixal (24-04-2020)Mariposa (Coscinia chrysocephala) Seixal (23-04-2020)Mariposa (Gymnoscelis rufifasciata) Oliveira de Azeméis (14-09-2019)Mariposa (Scopula imitaria) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Mariposa (Cyclophora linearia) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Mariposa (Dysgonia algira) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) Seixal (01-09-2019)Mariposa (Itame vincularia) Quinta do Texugo, Almada (25-08-2019)Mariposa (Mormo maura) Cercal do Alentejo (11-08-2019)Mariposa (Timandra comae) Cercal do Alentejo (11-08-2019)Mariposa-Cigana (Lymantria dispar) Mata da Machada, Barreiro (13-07-2019)Mariposa (Zygaena trifolii) Zambujeira do Mar, Odemira (01-06-2019)Mariposa (Zygaena lavandulae) V.N. Milfontes (19-04-2019)Mariposa (Macrothylacia digramma) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena, Sesimbra (13-04-2019)Mariposa (Eupithecia centaureata) Seixal (11-04-2020)Mariposa (Menophra abruptaria) Oliveira de Azeméis (14-09-2019)
 

Até as suas lagartas são geralmente vistosas e extravagantes, embora algumas sejam tóxicas e perigosas para Homem e animais.

Mariposa-dos-sargaços (Psilogaster loti) Peninha, Sintra (29-09-2020)Mariposa (Ethmia bipunctella) Serra do Louro, Palmela (30-06-2020)Processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) Quinta do Texugo (16-02-2020)Processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) Herdade da Aroeira, Almada (02-02-2020)
 

Pela sua ajuda no controlo de algumas plantas, pela sua contribuição para as cadeias tróficas, pelo seu importante lugar nos ecossistemas, pela sua beleza, estes pequenos bichos nocturnos merecem ser protegidos, acarinhados e apreciados. Afinal de contas, a noite não esconde apenas mistérios sombrios...

05
Mai20

Bichos do mato: Aranhas - pesadelos de oito patas

Os invertebrados são dos animais menos conhecidos do público em geral. Embora estejamos constantemente rodeados deles, o seu tamanho e os seus hábitos fazem com que tantas vezes nem reparemos na sua presença.

Tecedeira-de-cruz-cosmopolita (Araneus diadematus) Oliveira de Azeméis (14-09-2019) (2).JPG

Tecedeira-de-cruz-cosmopolita (Araneus diadematus) Oliveira de Azeméis (14-09-2019)

 

Quando os descobrimos por perto, a nossa reacção automática é de matá-los, ignorando os grandes serviços que nos prestam, seja como polinizadores (e.g. abelhas e moscas) ou como controladores de pragas (e.g. aranhas e joaninhas). Como infelizmente tememos aquilo que não conhecemos bem, os insectos e aranhas tendem a gerar em nós reacções de medo e repulsa. 

Aranha-lince (Oxyopes lineatus) Serra de S. Mamede (08-06-2019).JPG

Aranha-lince (Oxyopes lineatus) Serra de S. Mamede (08-06-2019)

 

Mas... as aranhas não são insectos? 

Não. Os insetos (classe Insecta) têm o corpo dividido em três partes: cabeça, tórax e abdómen. Possuem três pares de patas, apresentam um par de antenas e têm um desenvolvimento indireto. Já os aracnídeos (classe Arachnida) apresentam o corpo dividido em duas partes: abdómen e cefalotórax. Possuem quatro pares de patas, quelíceras, não apresentam antenas e podem ter um desenvolvimento direto ou indireto.

Aranha-de-funil (Eratigena sp.) Oliveira de Azeméis (13-09-2019).JPG

Aranha-lobo-radiada (Hogna radiata) Cercal (12-08-2019) (4).JPG

Aranha-de-funil (Eratigena sp.) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Aranha-lobo-radiada (Hogna radiata) Cercal do Alentejo (12-08-2019)

 

Como é que estas exímias predadoras caçam? Bem, existem variadas técnicas nas quais cada espécie se especializa. Algumas tecem teias extremamente resistentes e impregnadas de uma substância adesiva em locais estratégicos, aguardando que algum insecto lá caia. Assim que tal acontece, atacam de forma fulminante, injectando-lhe veneno e embrulhando-o em seda para ser depois consumido. Outras espécies perseguem activamente as suas presas, muitas vezes saltando para as capturar. Há também aquelas que fazem emboscadas escondidas em fendas, buracos ou até mesmo camufladas nas flores das quais os insectos se alimentam.

Aranha-vespa (Argiope bruennichi) Serra da Freita (14-09-2019) (3).JPG

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Aranha-vespa (Argiope bruennichi) Serra da Freita (14-09-2019) Aranha-tigre-lobada (Argiope lobata) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (21-08-2019)

 

Após capturarem as suas presas, as aranhas expelem um fluido digestivo para cima das mesmas começando assim o processo de digestão ainda fora do seu organismo. Após triturarem os pequenos animais com as quelíceras, reabsorvem os fluidos libertados, juntamente com a "carne". Deste processo sobra apenas uma pequena bola de resíduos, contendo as partes da quitina que a aranha é incapaz de digerir. Algumas espécies, como as aranhas caranguejo, injectam os fluidos digestivos no interior corpo das suas presas que são dissolvidas por dentro e sugadas de forma a que apenas resta uma carapaça vazia, ainda com a forma original do insecto.

Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Santa Marta (18-04-2020) (8).JPG

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Aranha-caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Seixal (18-04-2020)Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Seixal (10-04-2020)

Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Parque Luso (18-03-2020) (8).JPG

Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Cercal (11-08-2019) (5) (1).JPG

Aranha-caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Seixal (18-03-2020) Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Cercal do Alentejo (11-08-2019) 

As suas oito patas, o seu abdómen proeminente, os seus olhos (a maioria das aranhas tem quatro pares de olhos), os seus hábitos e até a forma como se movem constroem um aspecto geral repulsivo aos nossos olhos. Ainda assim, se conseguirmos observá-las de perto, podemos constatar que têm uma beleza muito própria, com formatos exóticos, cores garridas e padrões muito diversos consoante as espécies (e até por vezes com bastante variação individual).

Aranha (Mangora acalypha) Santa Marta (24-04-2020) (3).JPG

Aranha (Anelosimus sp.) Parque Luso (15-03-2020) (3).JPG

Aranha (Mangora acalypha) Seixal (24-04-2020) Aranha (Anelosimus sp.) Seixal (15-03-2020)

Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Santiago do Cacém (09-08-2019) (2).JPG

Solífugo (Gluvia dorsalis) Tejo Int. - Segura (17-06-2017) (2).JPG

Aranha-caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Santiago do Cacém (09-08-2019) Solífugo ou Aranha-camelo (Gluvia dorsalis) Segura, Idanha-a-nova (17-06-2017)

 

Enquanto espécie, temos evoluído no sentido de tentarmos viver em ambientes cada vez mais estéreis, sem a presença de outros seres ao nosso redor. Esta tentativa pseudo-divina de nos distanciarmos fisicamente dos restantes animais resulta bastas vezes em autênticas barbaridades... por medo irracional destruímos criaturas que nos são inofensivas e úteis. Acarinhem as vossas aranhas, bem como as osgas, cobras e outros bichos que vos assustam, pois muitas vezes são eles quem nos protege de ameaças bem mais reais...

20
Jan20

O incrível brilho de um azul incolor

As sensações que obtemos do mundo ao nosso redor dependem em grande medida da forma como cada um o percepciona, pois todos temos uma relação muito própria com os nossos sentidos. Apesar de se poder dizer que são os odores que deixam as impressões mais duradouras, para a maioria das pessoas a visão é o sentido que rege a sua interacção com o meio. Como tal, mais do que aromas ou sons, são as formas intrincadas e as cores vivas que com maior facilidade conseguem atrair e dirigir a nossa atenção.

Um caso paradigmático é aquele pequeno grito de surpresa que involuntariamente se liberta da garganta ao ver passar um cintilante guarda-rios, numa exclamação de assombro e deslumbre perante a perfeição desta pintura viva.

Guarda-rios (Alcedo atthis) EILP (08-10-2016) (15).JPG

Guarda-rios (Alcedo atthisEspaço Interpretativo da Lagoa Pequena (08-10-2016)

 

Como é que esta ave de aspecto exótico consegue apresentar uma paleta de cores tão garrida? Bem, o laranja no peito é resultado da presença de pequenos grânulos de pigmento nas penas, mas e o azul? Aqui o caso muda de figura... o guarda-rios, tal como a maioria dos vertebrados, é incapaz de produzir pigmentação azul. Na verdade, as suas penas de tons azuis e ciano não contêm quaisquer pigmentos, são compostas por um material incolor. 

Guarda-rios (Alcedo atthis) EILP (23-10-2016) (1).JPG

Guarda-rios (Alcedo atthisEspaço Interpretativo da Lagoa Pequena (23-10-2016)

 

Este material, estruturado de forma muito complexa, interage com a luz de forma a optimizar a reflexão do comprimento de onda do azul. Diferenças mínimas no arranjo estrutural produzem pequenas variações nos tons da cor (Wilts et al. 2011), causando um efeito de semi-iridescência, o "brilho" tão característico desta ave. 

Este fenómeno, designado por "cor estrutural" tem vindo a ser estudado por equipas multidisciplinares de cientistas, numa tentativa de replicar o processo por forma a podermos dispor de materiais coloridos sem recorrer à utilização de pigmentos tóxicos.

Guarda-rios (Alcedo atthis) Lagoa da estacada (27-02-2016) (4).JPG

Guarda-rios (Alcedo atthisEspaço Interpretativo da Lagoa Pequena (27-02-2016)

 

Embora possa ser difícil imaginar como é que um material transparente consegue apresentar uma coloração tão forte aos nossos olhos, isto pode ser comparado ao efeito prismático que verificamos quando a luz branca, decomposta pelas gotas da chuva, dá origem a um arco-íris (Vignolini et al. 2012).

 

Entretanto, indiferentes a quaisquer considerações sobre a sua fisionomia, estes belos animais continuam a pescar nos nossos rios e lagos e a passar por nós a alta velocidade, deixando-nos enlevados, com um brilhozinho azul nos olhos...

02
Ago19

Agora vês-me, agora não...

Quantas vezes já tivemos uma qualquer ilusiva criatura extremamente próxima de nós, mas só demos por ela quando fugiu? O mimetismo é uma das estratégias de defesa (e até de ataque) mais utilizadas no mundo animal. Alguns imitam as cores e/ou formas do meio que os envolve, outros deslocam-se com extrema cautela e ficam imóveis horas a fio, há até aqueles que chegam mesmo a alterar as propriedades dos seus corpos consoante as necessidades.

Se a forma mais pura de elogio é a imitação, a cabal demonstração da efectividade destas tácticas de sobrevivência é a tentativa humana de replicá-las criando camuflagens com os mais variados padrões e até, nos dias que correm, as pesquisas direccionadas para a criação de fatos "camaleónicos"...

Garçote (Ixobrychus minutus) Lagoa Estacada (16-07-2016) (24).JPGGarçote (Ixobrychus minutus) (juvenil) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena - Sesimbra (16-07-2016)

 

Esta é uma das mais crípticas aves da nossa fauna e proporcionou-me um extremo gozo poder passar uma manhã a acompanhar os seus vagarozos movimentos e as suas tentativas de aprender a caçar.

Garçote (Ixobrychus minutus) Lagoa Estacada (16-07-2016) (30).JPGGarçote (Ixobrychus minutus) (juvenil) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena - Sesimbra (16-07-2016)

23
Mar18

O crescimento pelo conflicto

"Conflict is growth wanting to happen"
- Harville Hendrix, PhD.

 

A maioria das pessoas vê os conflictos como algo mau que deve ser evitado, mas fazê-lo pode significar o desperdício de uma oportunidade de aprendizagem... é no conflicto que ficam à vista as fracturas existentes nos relacionamentos inter-pessoais. Só assim se conhece a real separação entre os indivíduos e todos sabemos que é impossível construir pontes sem conhecer a distância que separa as margens.

 

À parte de teorias da psicologia organizacional, é comum vermos outros animais em conflito (inclusivamente físico). Haverá algo de construtivo a retirar de tais acontecimentos, ou somente representam uma manifestação de violência gratuita e caos? Pessoalmente tenho dificuldade em encontrar aleatoriedade nos comportamentos naturais.

 

É sabido que as lutas são uma das formas utilizadas pelas crias de predadores para desenvolverem as capacidades que irão no futuro necessitar. O confronto físico é também uma das formas de definir estruturas sociais em animais gregários e até de delimitar territórios.

Da confrontação, do desafio, do atrito, nasce organização e gera-se aprendizagem, crescimento e estrutura.

 

No caso destas gralhas, não sei a razão da sua "zaragata". Não me pareceram confrontos territoriais, estariam a brincar - estudos já demonstraram a capacidade dos corvídeos para a auto-recreação - ou estariam a esgrimir por questões de dominância dentro do grupo?

 

Aceitam-se opiniões. 

 

Gralha-preta (Corvus coroneEspaço Interpretativo da Lagoa Pequena - Sesimbra (01-11-2016)

 

[EN]

Growth by conflict

 

Most people see conflict as a bad thing to be avoided, but doing it can mean wasting a learning opportunity... conflict exposes the fractures in interpersonal relationships. This is the only way to know the real separation between individuals and we all know that it is impossible to build bridges without knowing the distance separating the banks.

 

Apart from theories of organizational psychology, it is common to see other animals in conflict (even physical). Is there anything constructive to learn from such events, or is it merely a manifestation of gratuitous violence and chaos? Personally I have difficulty finding randomness in natural behaviours...

 

It is well known that sparring is one of the forms used by predator cubs to develop the skills they will need in the future. Physical confrontation is also one of the ways to define social structures in gregarious animals and even to delimit territories. From confrontation organization is born. Challenge and friction generates learning, growth and structure.

 

In the case of these carrion crows I do not know the reason for their "ruckus". It did not seem like territorial clashes to me, were they kidding - the ability of corvids to self-recreation have been demonstrated by some studies - or are they arguing for dominance within the group?

Carrion Crow (Corvus coroneEspaço Interpretativo da Lagoa Pequena - Sesimbra - Portugal (01-11-2016)

15
Dez17

Pais & filhos

♪♫ It's not time to make a change
Just relax, take it easy
You're still young, that's your fault
There's so much you have to know... ♪♫

 

Decorria o ano de 1970 quando Cat Stevens cantou esta música, com ela relembrando ao mundo o quão importante e complexa é a relação entre pais e filhos.

 

De facto, nos animais mais evoluídos (nomeadamente nos mamíferos e nas aves) a dependência dos progenitores por parte das crias é gritante, tanto ao nível do suporte de vida (alimentação e protecção) como da aprendizagem dos comportamentos e estruturas sociais.

Galeirão-comum (Fulica atra)

Galeirão-comum (Fulica atra) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena - Sesimbra (4-06-2017)

 

Dedicados de forma extremosa à criação e educação dos seus juvenis, os galeirões são no entanto pais bastante ríspidos, administrando por vezes verdadeiras sovas às quais as crias nem sempre sobrevivem. É assim a natureza: protectora, porém crua e brutal.

 

Uma coisa é certa: aqueles que chegarem à fase adulta estarão preparados para sobreviver às agruras de uma vida selvagem.      

 

 

[EN]

Father & son

 

In 1970 Cat Stevens sang this song and reminded the world how important and complex the relationship between parents and children is.

 

In fact, in the more advanced animals (especially mammals and birds), the offspring dependence from their parents is striking, both in terms of life support (feeding and protection) and in the learning of social behaviors and structures.

 

Extremely dedicated to the upbringing and education of their juveniles, coots are nevertheless rather harsh parents, sometimes administering true beatings to which youngsters do not always survive. Nature is protective but also crude and brutal.

 

One thing is sure: those who reach adulthood will be prepared to survive the hardships of a life in the wild.

Eurasian Coot (Fulica atra) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena - Portugal (4-06-2017)

01
Dez17

Onde observar: Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (Sesimbra)

Parte integrante do sistema lagunar da Lagoa de Albufeira, este local apresenta uma exuberante biodiversidade e é um dos meus locais preferidos para observação.

Lagoa da Estacada - Sesimbra (20-02-2016).JPG

 

Esta ZPE (Zona de Protecção Especial), constituida pelas lagoas Pequena e Estacada, é gerida de forma conjunta pelo ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), pela SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) e pelo município de Sesimbra, possuindo vários equipamentos de apoio aos visitantes e contando também com uma bióloga em permanência. Dentro do horário de abertura é possivel visitar o espaço de forma livre ou, em alternativa, marcar uma visita guiada.

Lagoa Pequena (16-04-2016)b.jpg

 

Os quatro abrigos de observação/fotografia existentes, em conjunto com a possibilidade de alugar binóculos por uma quantia simbólica, tornam este espaço no local ideal para quem pretenda iniciar-se na observação de natureza. 

  • Existe também ali uma loja da SPEA onde é possível adquirir binóculos, guias de campo ou recordações.

Marrequinha (Anas crecca)Marrequinha (Anas crecca)

 

O habitat é essencialmente composto pelo caniçal adjacente às lagoas, uma zona de salgueiros e alguns pinheiros. Nas proximidades existem grandes manchas de pinhal e também algum eucaliptal. Ao passo que a Lagoa Pequena - por estar ligada à lagoa de Albufeira - contém água salgada, a lagoa da Estacada é composta por água doce pois foi criada nos anos 80 pelo ICNF através da construção de um pequeno dique que levou ao alagamento permanente de uma zona de cheias na confluência das ribeiras da Aiana e da Ferraria. Isto criou um nicho ecológico algo diferente daquele que já ali existia.

Garçote (Ixobrychus minutus)Garçote (Ixobrychus minutus)

 

Aqui podemos observar uma míriade de passeriformes como vários chapins, gralhas-pretas, estorninhos, bicos-de-lacre, escrevedeiras, pintassilgos ou verdilhões, bem como várias espécies de patos como  a frisada, a marrequinha, o pato-real ou o pato-trombeteiro e até mergulhõesgalinhas-d'água, frangos-de-água, garças-reais e garças-vermelhas. Podemos também encontrar o críptico garçote ou o deslumbrante - e em tempos quase extinto - Camão. A colocação dos abrigos junto à água permite-nos uma aproximação ímpar relativamente aos bichos, pelo qual é importante termos em mente de devemos fazer tudo para não os incomodar... afinal este é o "seu" santuário.

Frisada (Anas strepera) Lagoa da Estacada - Sesimbra (20-02-2016) (2).JPGFrisada (Mareca strepera)

 

Em suma, este é um agradável espaço que permite ao naturalista mais inveterado observar mais de meia centena de espécies de aves (para não falar de plantas e insectos) e que ao "comum dos mortais" traz promessas de uma manhã (ou tarde) passada em comunhão com a natureza, não assim tão longe dessa grande floresta de betão que é Lisboa. Para as crianças pode ser um importante veículo de educação ambiental, ajudando-as a ganhar gosto pela observação da natureza. Vale a pena a visita.

Camão (Porphyrio porphyrio)Camão (Porphyrio porphyrio)

 

É importante reter:

  • respeitar a natureza
  • respeitar a gestão do espaço
  • respeitar os restantes visitantes
  • não deixar nada para além de pegadas (e porque não um pequeno donativo?)
  • não levar nada a não ser boas recordações, fotografias e vontade de voltar

Boa visita!

Pato-trombeteiro (Spatula clypeata)Pato-trombeteiro (Spatula clypeata)

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