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bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

09
Dez21

Born free

Cinco anos atrás, dava eu os meus primeiros passos a sério nesta actividade. Apesar de ter crescido no campo, nunca tinha observado a natureza de forma tão exuberante, tão... selvagem, como nas primeiras vezes em que visitei a lezíria. 
 
Palavra alguma poderá descrever a sensação de pequenez e deslumbre... nem tampouco meras imagens farão jamais justiça a tal espectáculo da natureza, mas fica uma vã tentativa de captar um inenarrável momento.
 
Talvez este vídeo consiga explicar, em parte, o porquê desta minha paixão.
 

 

Íbis-preta (Plegadis falcinellus) Lezíria Grande de Vila Franca de Xira (10-12-2016)

 

Sim, estas coisas ocorrem . E a uns breves minutos de distância da capital... 

18
Set21

As aparências iludem

O aspecto dos animais gera sentimentos em nós.
 
Tal como uma aranha, uma cobra ou uma osga tendem a causar-nos repulsa, uma ave de cores chamativas e formas delicadas parece sempre, aos nossos olhos, fofinha e inofensiva... mas a natureza não se compadece com sentimentalismos e, nela, a forma é sempre adequada à função (ou funções).
Perdiz-do-mar (Glareola pratincola) Lezíria Grande - VFX (10-04-2016) (19).JPGPerdiz-do-mar (Glareola pratincolaVila Franca de Xira (10-04-2016)
 

Por exemplo, esta bela ave, de aspecto aerodinâmico e gracioso (até angelical), é na verdade quase uma mini rapina, autêntico anjo da morte para aranhas, moluscos e grandes insectos como gafanhotos, ralos ou besouros.

Perdiz-do-mar (Glareola pratincola) Lezíria Grande - VFX (10-04-2016) (30).JPGPerdiz-do-mar (Glareola pratincolaVila Franca de Xira (10-04-2016)
 
A nossa percepção, tantas vezes enviesada pelos padrões estéticos humanos, cria-nos ilusões e leva-nos a esquecer essa velha máxima da vida... as aparências, de facto, iludem.
29
Abr21

"A menina dança?"

A dança é uma das mais importantes e antigas formas de expressão artística da humanidade. Através de movimento dos nossos corpos conseguimos expressar dor, alegria, medo, sensualidade, altivez... existem danças cerimoniais, competitivas, desportivas, lúdicas, variando consoante a cultura dos povos. É, no entanto, desconhecida a sua origem, sabendo-se apenas que é pelo menos tão antiga quanto a história. Como terá surgido?

Será possível que a arte tenha, uma vez mais, imitado a natureza? É sabido que as suas formas, os seus sons, cores, cheiros e movimentos sempre inspiraram o Homem. Mas os animais não dançam, pois não? Bem, talvez dependa um pouco do conceito de cada um...

Será a espectacular parada nupcial da águia-calva um tango a dois nos céus, carregado de emoção e drama? Será o espectáculo proporcionado pelos Flamingos dos Andes, o equivalente às coreografias de grupo numa discoteca? A vistosa exibição de corte do macho de abetarda poderá ter um paralelo no bêbado lá da aldeia, que dança apaixonadamente com a "mine" na mão? Farão os albatroses competições de hip-hop? E o pavão dançará a "Senbu", qual gueixa agitando o seu leque em honra à deusa Amaterasu?

Como sempre, tenho mais perguntas que respostas... mas como impedir que a mente divague, face a uma cena como esta, em que quase conseguimos ouvir as notas sensuais da música de fundo e em que a ave parece claramente dizer: "A menina dança?"

 

Íbis-preta (Plegadis falcinellus)Íbis-preta (Plegadis falcinellus) Lezíria Grande - VFX (10-12-2016)

13
Nov20

As aves e os seus habitats - Zonas intermarés: o lodo

Um habitat pode ser composto por um conjunto de diferentes biótopos, que não são mais do que áreas geográficas onde as condições ambientais são constantes ou cíclicas. Na verdade, grande parte dos habitats que existem no nosso país estão sujeitos a fenómenos periódicos que, de alguma forma, alteram as suas características.

Entre eles, as zonas intermarés serão, possivelmente, aqueles que apresentam a mais radical alteração de condições, num menor ciclo temporal. Margens ribeirinhas, praias, lagoas costeiras, sapais... consoante a geografia e geologia do terreno, as áreas deixadas a descoberto pela baixa-mar podem apresentar características muito diferentes. No entanto, há algo em comum em todos estes locais: o vai-e-vem regular das marés e o ritmo de vida que elas impõem às aves que ali se alimentam. Hoje vamos falar de um biótopo muito específico: as zonas de lodo.

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) Sado - Gâmbia (25-01-2020) (3).JPG

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) Herdade da Gâmbia, Setúbal (25-01-2020)

 

Quando a maré retrocede, revelando paulatinamente os lodos repletos de pedaços de conchas e algas, as aves começam a mostrar-se, abandonando os locais onde repousam durante a preia-mar. 

Fuselo (Limosa lapponica) Seixal (11-10-2020)

Milherango (Limosa limosa) Lisboa (29-01-2016)

 

Surgem vindas das salinas circundantes, dos pequenos mouchões dos sapais ou da vegetação marginal dos rios e começam a distribuir-se pelas margens crescentes onde se vão alimentar, acompanhando o refluxo das águas.

Perna-verde-comum (Tringa nebularia) Seixal (10-03-2019)Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula) Barreiro (05-01-2019)
Maçarico-galego (Numenius phaeopus) VN Milfontes (20-10-2018)Pilrito-pequeno (Calidris minuta) Parque Tejo, Lisboa (04-02-2018)

 

Várias espécies de límicolas percorrem os lodos húmidos em busca dos pequenos invertebrados dos quais se alimentam, chegando até a dar origem a bandos mistos com centenas ou mesmo milhares de indivíduos. Garças prospectam as águas rasas em busca de peixes incautos, flamingos filtram o lodo dentro de água, capturando os pequenos crustáceos que lhes dão a sua famosa cor, colhereiros "varrem" em busca de invertebrados e pequenos peixes. Podemos até encontrar passeriformes, como o pisco-de-peito-azul, nas zonas mais próximas da vegetação.

Colhereiro (Platalea leucorodia) Parque Tejo, Lisboa (04-02-2018)Flamingo-rosado (Phoenicopterus roseus) Seixal (03-04-2017)
Garça-branca-pequena (Egretta garzetta) Montijo (18-03-2017)Garça-real (Ardea cinerea) Parque Tejo, Lisboa (12-12-2015)

 

A questão da competição pelo alimento entre estas aves foi resolvida ao longo das eras, pela selecção natural. A diversidade de características físicas e comportamentais permite que coexistam num mesmo espaço.

Pilrito-de-bico-comprido (Calidris ferruginea) Seixal (01-11-2020)Íbis-preta (Plegadis falcinellus) Seixal (28-09-2020)
Frango-d'água (Rallus aquaticus) Sesimbra (13-06-2018)Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos) Seixal (07-01-2018)
Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola) Amora (22-10-2017)Perna-vermelha-bastardo (Tringa erythropus) Vila Franca de Xira (27-08-2017)
Pilrito-comum (Calidris alpina) Península da Carrasqueira (01-05-2017)Perna-vermelha-comum (Tringa totanus) Seixal (05-02-2017)

 

Algumas possuem bicos longos, para procurar alimento que esteja enterrado mais fundo, outras têm bicos curtos para capturar pequenos animais que existem mais à superfície. Há as que têm patas mais longas e bicos como lanças afiadas, para poderem trespassar os peixes nas águas rasas e há os que desenvolveram bicos poderosos o suficiente para quebrar as cascas dos bivalves. Cada espécie está perfeitamente adaptada à forma como vive e se alimenta.

Guincho-comum (Chroicocephalus ridibundus) Seixal (10-03-2019)Narceja-comum (Gallinago gallinago) Sesimbra (01-11-2016)
Maçarico-real (Numenius arquata) Amora (15-08-2016)Pernilongo (Himantopus himantopus) Seixal (20-03-2016)
Maçarico-bique-bique (Tringa ochropus) Vila Franca de Xira (28-02-2016)Rola-do-mar (Arenaria interpres) Amora (28-01-2016)

 

Embora as espécies límicolas estejam geralmente em larga maioria, podemos também ali encontrar algumas gaivotas, rapinas, garças, patos e gansos. 

Ganso-bravo (Anser anser) Vila Franca de Xira (05-11-2017)Marrequinha (Anas crecca) Vila Franca de Xira (10-04-2016)

 

E de vez em quando, muito de vez em quando, surge uma daquelas aves especiais que todos os observadores gostam de encontrar. Uma raridade vinda de paragens longínquas que encontrou abrigo num qualquer lodaçal deste recanto à beira-mar plantado. Como aquela garça americana que descobriu guarida numa vala algures num sapal algarvio, ou o pequeno maçarico que escolheu o rio Sado para passar o inverno, por exemplo. 

Goraz-coroado (Nyctanassa violacea) Faro (04-06-2020)Maçarico-sovela (Xenus cinereus) Setúbal (09-11-2019)

 

Uma multiplicidade de formas, cores, sons e comportamentos... nestas zonas de aspecto escuro e monótono, mas ricas em alimento, a diversidade biológica é rainha. No entanto, passadas cerca de 6 horas, a maré virou e iniciou o seu avanço inexorável em direcção às margens, empurrando à sua frente esta miríade de aves que novamente ganharão os céus e se dirigirão aos seus locais de repouso. Mais um ciclo que se completa, numa dança interminável, ao ritmo das marés.

04
Fev19

Diz-me como te chamas, dir-te-ei quem és

A questão dos nomes das aves é uma "guerra antiga" em Portugal. Havendo quem defenda que o nome comum deve reflectir a taxonomia, há também quem julgue que deve ser seguida a nomenclatura vernacular que, habitualmente, é baseada nas características físicas ou comportamentais do animal em questão.

   Ora um dos argumentos dos defensores dos "nomes taxonómicos" é que, muitas vezes, não se conhecem as origens destas nomenclaturas populares, o que pode resultar em designações aparentemente pouco coerentes, estranhas ou até enganadoras. Entre os vários exemplos desta questão temos a Perdiz-do-mar e o Papa-ratos, que ninguém sabe bem a razão de serem chamados assim...

 

Pelo menos para mim, um destes mistérios ficou finalmente resolvido. 

 

Sempre ouvi críticas à designação desta ave... supostamente não havia registos de que ela realmente se alimentasse de ratos. Sendo esta a minha primeira observação da espécie, estive mais de meia hora relativamente perto do bicho, pude fotografá-lo, vê-lo a descansar um pouco, limpar as penas e fazer um pequeno voo para a outra margem da vala onde, após um breve momento de espera, capturou um "rato" (aparentemente era uma espécie de musaranho) que afogou antes de ingerir. Depois, como que "para empurrar", foi beber um golinho de água. Impossível ter certezas com base apenas numa observação, mas este fantástico comportamento talvez deixe uma pista para as origens populares do seu nome. Papa-ratos... nunca um nome fez, como naquele dia, tanto sentido.

Papa-ratos (Ardeola ralloides)Papa-ratos (Ardeola ralloides) Barroca d'Alva - Alcochete (17-12-2016)

 

Já estas pequenas limícolas não ocorrem propriamente no mar, apesar de gostarem de habitats húmidos. A sua garganta aparenta ter um "babete" creme debruado a preto que traz à memória as belas perdizes-vermelhas tão comuns no nosso território, o que torna fácil intuir as origens do seu nome vernáculo.

Perdiz-do-mar (Glareola pratincola)Perdiz-do-mar (Glareola pratincola) Lezíria Grande - VFX (10-04-2016)

13
Abr18

Onde observar: Lezíria Grande - O Shangri-la da passarada

Se há locais que merecem ser visitados pelo menos uma vez antes de morrermos, há aqueles que se pudéssemos visitávamos todos os dias da nossa vida... Penso que para qualquer "birdwatcher", a Lezíria é um daqueles sítios em que poderíamos viver felizes para sempre.

Águia-sapeira (Circus aeruginosus)Águia-sapeira (Circus aeruginosus) Lezíria Grande (23-12-2017) 

 

É verdade que não são as paisagens mais deslumbrantes... uma planície infindável emoldurada por dois rios (Tejo e Sorraia) e recortada por várias linhas de água, talhões de arroz a perder de vista, alguns estradões, uma ermida, umas poucas construções decrépitas e a ausência quase total de árvores e vegetação arbustiva são tudo o que podemos esperar ver num passeio pela Lezíria Grande de Vila Franca de Xira. Bem, tudo talvez não...

Milherango (Limosa limosa)Milherango (Limosa limosa) et al. Lezíria Grande (07-01-2017)

 

Os apreciadores da natureza - e acima de tudo os observadores de aves - têm aqui um ponto de passagem quase obrigatório, pelo menos uma vez na vida. Para mim, este será um dos poucos locais no nosso país onde as actividades humanas parecem estar em razoável equilíbrio com uma exuberante explosão de vida selvagem.

Perdiz-do-mar (Glareola pratincola)Perdiz-do-mar (Glareola pratincola) Lezíria Grande (10-04-2016)

 

Enormes bandos de íbis-pretas, gansos-bravos, milherangos, cegonhas e patos interagem com as aves de rapina que deles se alimentam, águias-pesqueiras devoram as suas presas no topo dos seus poisos preferidos, miríades de pequenas aves coexistem com lebres, javalis, raposas, sacarrabos... e todo este fervilhar de vida acontece lado a lado com o pastoreio do gado e com a actividade agrícola intensiva dos Homens e da sua maquinaria. Ainda assim a vida prospera.

Colhereiro (Platalea leucorodia)Colhereiro (Platalea leucorodia) Lezíria Grande (10-04-2016)

 

Aqui, quase todos os dias há algo novo para ver, seja uma espécie nova que chegou, um comportamento interessante ou uma raridade que, literalmente, desce dos céus. 

Águia-pesqueira (Pandion haliaetus)Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) Lezíria Grande (01-12-2018)

 

Para mim este é, sem sombra de dúvidas, o paraíso das aves.

Sisão (Tetrax tetrax)Sisão (Tetrax tetrax) Lezíria Grande (11-03-2017)

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