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bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

11
Jul21

Os Fenótipos e a Etologia - Patas & Garras

As patas são umas das partes anatómicas das aves que mais variam a nível de tamanho e formato. Se os pequenos passarinhos têm pernas relativamente curtas e finas, bem como dedos também eles finos e delicados, apropriados para se agarrarem aos pastos e ramos, as perdizes e codornizes têm patas mais fortes, adequadas a caminhar no solo, por exemplo. Há uma grande variedade de tipos de patas, pois estas tendem a reflectir com bastante fiabilidade o tipo de interacção que cada ave tem com o seu meio.

A verdade é que, se encontrássemos um destes membros perdido por aí, conseguiríamos provavelmente, com algum grau de certeza, saber a que grupo de aves teria pertencido.

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Uma águia a "surfar" um enorme peixe é uma das visões mais espectaculares que podemos ter nos nossos rios, estuários ou barragens. As patas destas rapinas especializadas na captura de peixes vivos possuem algumas das adaptações mais interessantes entre as aves, apresentando garras especialmente fortes e recurvadas, rugosidades com barbelas na pele e um dedo externo reversível, que lhe permite segurar os peixes com dois dedos para a frente e dois para trás. 

Águia-pesqueira (Pandion haliaetus)Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) Setúbal (26-12-2020)

 

As aves que se deslocam em meio aquático, quer apenas caminhem dentro de água, quer sejam nadadoras de superfície ou até mergulhadoras, desenvolveram também elas incríveis adaptações nos seus membros posteriores.

A maioria das aves nadadoras têm as patas colocadas bem atrás, em relação ao seu centro de gravidade, e possuem membranas interdigitais ou bolbos carnudos nos dedos, que lhes proporcionam uma melhor impulsão no meio aquático. Em terra seca, estes bichos são por norma desajeitados e relativamente lentos.

Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis)Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis) Sesimbra (20-01-2018)

Já as garças e limícolas, que procuram alimento em lodos ou águas rasas, tendem a ter patas compridas, para que possam manter o corpo a seco, e dedos longos, que lhes conferem um maior equilíbrio.

Garça-verde (Butorides virescens)Garça-verde (Butorides virescens) Almada (09-11-2018)

O camão é um caso talvez ainda mais radical de adaptação. Para além das pernas altas, que usa para caminhar dentro de água, os seus dedos são extremamente compridos e permitem-lhe segurar as grandes raízes de caniço das quais se alimentam. Há quem diga que o seu nome deriva mesmo deste facto, sendo uma corruptela da expressão "c'a mão".

Caimão (Porphyrio porphyrio)Caimão (Porphyrio porphyrio) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (27-02-2016)

 

Mas a água não é o único meio que requer uma anatomia adaptada. As aves trepadoras, como os pica-paus e as trepadeiras têm dedos curtos e unhas finas e afiadas que lhes permitem agarrar-se aos troncos das árvores (ou às rochas, no caso da trepadeira-dos-muros). Estas, em conjunto com algumas outras características anatómicas, permitem-lhes subir (ou descer, como é hábito dos passarinhos abaixo) troncos e postes em busca de alimento.

Trepadeira-azul (Sitta europaea)Trepadeira-azul (Sitta europaea) Cercal do Alentejo (14-04-2017)

 

"Armadas" com garras não menos afiadas e dedos mais poderosos, as patas das aves de rapina são sentença de morte para qualquer incauta presa que se deixe apanhar por elas. Com um forte aperto e as garras espetadas profundamente no seu corpo, o fim chega rápido e misericordioso (se é que tal termo pode ser aplicado à natureza).

Açor (Accipiter gentilis)Açor (Accipiter gentilis) Seixal (20-06-2021)

 

Como qualquer eng. mecânico poderia confirmar, ter a forma adequada à função é uma das melhores maneiras de garantir a eficiência dos recursos, minimizando ao máximo o desperdício de energia. Não há realmente engenharia melhor do que a da velha mãe natureza.

25
Jun21

Os Fenótipos e a etologia - A importância do bico

A morfologia do bico das aves tende a reflectir o seu tipo de alimentação. Aves com bicos curtos e grossos alimentam-se essencialmente de sementes... se este for forte, afiado e curvado na ponta, pertencerá certamente a um predador que o utiliza para arrancar pedaços de carne das suas presas. Bicos mais finos e afunilados servem geralmente para comer insectos e/ou fruta. Algumas aves que se alimentam nos rios e lagos, como as garças, têm bicos longos e fortes, com os quais trespassam os incautos peixes que tiverem o azar de passar por perto.

Fuselo (Limosa lapponica) Praia do Torrão (08-09-2016) (40).JPGFuselo (Limosa lapponica) Almada (08-09-2016)

 

Estas belas aves apresentam uns enormes apêndices, ligeiramente recurvados para cima, adequados para capturar e ingerir invertebrados em zonas estuarinas. Chegam a parecer desajeitados mas, tal como pude observar "in loco", este bico não lhes causa qualquer atrapalhação, cumprindo a sua função a preceito.

Apesar de não me ter sido possível confirmar, o seu comportamento levou-me a crer que se estariam a alimentar de pulga-do-mar (Talitrus saltator).

Fuselo (Limosa lapponica) Praia do Torrão (08-09-2016) (35).JPGFuselo (Limosa lapponica) Almada (08-09-2016)

 

Grande ou pequeno, recto ou curvo, grosso ou fino, qualquer que seja o seu tamanho e formato... é inegável, na vida das aves, a importância do bico e de o saber utilizar da forma mais adequada.

11
Out18

Os Fenótipos e a Etologia - Penas

Preciosas auxiliares para o voo, a presença destas estruturas é uma das características distintivas da Classe Aves. No entanto, as penas podem ter uma série de outras funções tais como o isolamento térmico, a impermeabilização e a camuflagem. São também muitas vezes utilizadas como acolchoamento para os ninhos e até como objecto de atracção sexual. O número e tipo de penas que um animal apresenta depende em grande parte da sua etologia e habitat.

 

Esta bela ave, devido ao seu modo de alimentação, desenvolveu uma plumagem que, além de ser um regalo para a vista, permite mantê-la seca, quente e aerodinâmica mesmo ao mergulhar nas águas onde captura as suas presas.

Guarda-rios (Alcedo atthis)Guarda-rios (Alcedo atthis Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena - Sesimbra (26-09-2020)

 

Já no caso de algumas aves estepárias como o alcaravão e o sisão, as penas desenvolveram-se no sentido de lhes garantir uma boa camuflagem contra os predadores.

Sisão (Tetrax tetrax)Sisão (Tetrax tetrax) Vila Franca de Xira (30-09-2020)

 

As suas cores e padrões mimetizam os habitats que frequentam e permitem-lhes passar despercebidos até aos olhos dos observadores mais atentos.

Alcaravão (Burhinus oedicnemus)Alcaravão (Burhinus oedicnemusVila Nova de Milfontes (22-01-2017)

 

09
Jan18

Os Fenótipos e a Etologia - Olhos que tudo vêem

Embora no nosso dia-a-dia tenhamos geralmente a necessidade de dar uso aos nossos 5 sentidos, a visão é possivelmente aquele do qual mais dependemos. Na natureza, se nem todos os animais dependem assim tanto dos olhos, alguns evoluíram de forma a especializarem-se no uso destes órgãos sensoriais.

 

A águia-pesqueira é um desses animais. A visão binocular - possibilitada pela posição dos olhos na parte frontal da cabeça - ajuda-a a avaliar as distâncias, a estrutura das penas por cima dos olhos serve para reduzir o brilho dos reflexos do sol na água e sua excelente visão permite-lhe descobrir os peixes debaixo de água. Isto, em conjunto com algumas outras adaptações (como dedos exteriores reversíveis, membranas nictitantes e válvulas nas narinas), tornam esta ave num dos pescadores mais eficazes do mundo animal.

Águia-pesqueira (Pandion haliaetus)Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) Vila Franca de Xira (23-12-2017)

 

Outra fantástica adaptação evolutiva é a visão nocturna dos mochos e corujas. Também possuidoras de uma boa visão binocular, estas rapinas têm olhos grandes e não possuem verdadeiramente um globo ocular mas sim "tubos" alongados. A sua retina apresenta poucas das células receptoras que reagem às cores (cones) mas muitas das células sensíveis à luz e ao movimento (cilindros). Estas características, apesar de impedirem que estes animais percepcionem as cores do mesmo modo que nós, ajudam a aumentar a eficiência em condições de pouca luz, permitindo-lhes ver - e caçar - de noite.

O seu voo silencioso e a sua visão nocturna são sinónimo de morte, para as presas destes implacáveis predadores.

Mocho-pequeno-de-orelhas (Otus scops)Mocho-pequeno-de-orelhas (Otus scops) Penamacor (18-06-2017)

01
Set17

Os Fenótipos e a Etologia - Asas

Serão as asas de um pardal semelhantes às de uma avestruz? E as de um abutre terão a mesma função das de um colibri?

 

Os membros anteriores das aves representam uma das mais fantásticas adaptações morfológicas do mundo natural. Ainda assim nem todas as espécies os utilizam da mesma forma... a especiação levou a que surgissem alterações de acordo com o uso específico que cada espécie lhes dá (ou foi o uso que levou à especiação?).

Abutre-preto (Aegypius monachus)Arronches (08-06-2019) (2).JPG

Abutre-preto (Aegypius monachus) Arronches (08-06-2019)

 

As asas das grandes planadoras desenvolveram-se de forma a facilitar a captação das correntes térmicas, os pinguins não têm a capacidade de voo, mas utilizam-nas para nadar, já os guarda-rios com o seu voo "frenético" conseguem utilizá-las de forma a mergulhar e rapidamente manobrar para voltarem à superfície.

 

Já este falcão é o animal mais rápido do mundo. Atinge velocidades que rondam os 300 km/h, em parte graças às suas asas longas e ponteagudas. Vê-lo a caçar é um privilégio e presenciar uma cena de caça a dois em que o casal manobrava na tentativa (bem sucedida) de capturar um andorinhão, foi dos melhores momentos "Nat Geo" que já vivi.

Falcão-peregrino (Falco peregrinus) Portinho da Costa (12-05-2016) (21).JPG

Falcão-peregrino (Falco peregrinus) Almada (12-05-2016)

 

[EN]

Phenotypes and Ethology - Wings

Are the wings of a sparrow similar to the wings of an ostrich? And the wings of a vulture will have the same function than the ones of a hummingbird?

The forelimbs of birds are one of the most fantastic morphological adaptations of the natural world, yet not all species use them the same way... speciation led to arise changes according to the specific use that each species gives them (or was that use who led to speciation?). 

The wings of large soaring birds were developed to facilitate the capture of thermals, penguins do not have the flight capacity but instead use them for swimming while the kingfisher with its "frantic" flight have the capacity to dive and quickly maneuver to return to the surface.

This falcon is the fastest animal in the world. It reaches speeds around 300km/h in part thanks to its long and pointy wings. To see him hunting is a privilege and to witness a hunting scene where the couple was maneuvering in an (successful) attempt to catch a swift was one of the best "Nat Geo moments" of my life.

Peregrine Falcon (Falco peregrinus) Almada - Portugal (12-05-2016)

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