As aparências iludem
Por exemplo, esta bela ave, de aspecto aerodinâmico e gracioso (até angelical), é na verdade quase uma mini rapina, autêntico anjo da morte para aranhas, moluscos e grandes insectos como gafanhotos, ralos ou besouros.
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Por exemplo, esta bela ave, de aspecto aerodinâmico e gracioso (até angelical), é na verdade quase uma mini rapina, autêntico anjo da morte para aranhas, moluscos e grandes insectos como gafanhotos, ralos ou besouros.
A questão dos nomes das aves é uma "guerra antiga" em Portugal. Havendo quem defenda que o nome comum deve reflectir a taxonomia, há também quem julgue que deve ser seguida a nomenclatura vernacular que, habitualmente, é baseada nas características físicas ou comportamentais do animal em questão.
Ora um dos argumentos dos defensores dos "nomes taxonómicos" é que, muitas vezes, não se conhecem as origens destas nomenclaturas populares, o que pode resultar em designações aparentemente pouco coerentes, estranhas ou até enganadoras. Entre os vários exemplos desta questão temos a Perdiz-do-mar e o Papa-ratos, que ninguém sabe bem a razão de serem chamados assim...
Pelo menos para mim, um destes mistérios ficou finalmente resolvido.
Sempre ouvi críticas à designação desta ave... supostamente não havia registos de que ela realmente se alimentasse de ratos. Sendo esta a minha primeira observação da espécie, estive mais de meia hora relativamente perto do bicho, pude fotografá-lo, vê-lo a descansar um pouco, limpar as penas e fazer um pequeno voo para a outra margem da vala onde, após um breve momento de espera, capturou um "rato" (aparentemente era uma espécie de musaranho) que afogou antes de ingerir. Depois, como que "para empurrar", foi beber um golinho de água. Impossível ter certezas com base apenas numa observação, mas este fantástico comportamento talvez deixe uma pista para as origens populares do seu nome. Papa-ratos... nunca um nome fez, como naquele dia, tanto sentido.
Papa-ratos (Ardeola ralloides) Barroca d'Alva - Alcochete (17-12-2016)
Já estas pequenas limícolas não ocorrem propriamente no mar, apesar de gostarem de habitats húmidos. A sua garganta aparenta ter um "babete" creme debruado a preto que traz à memória as belas perdizes-vermelhas tão comuns no nosso território, o que torna fácil intuir as origens do seu nome vernáculo.
Perdiz-do-mar (Glareola pratincola) Lezíria Grande - VFX (10-04-2016)
Se há locais que merecem ser visitados pelo menos uma vez antes de morrermos, há aqueles que se pudéssemos visitávamos todos os dias da nossa vida... Penso que para qualquer "birdwatcher", a Lezíria é um daqueles sítios em que poderíamos viver felizes para sempre.
Águia-sapeira (Circus aeruginosus) Lezíria Grande (23-12-2017)
É verdade que não são as paisagens mais deslumbrantes... uma planície infindável emoldurada por dois rios (Tejo e Sorraia) e recortada por várias linhas de água, talhões de arroz a perder de vista, alguns estradões, uma ermida, umas poucas construções decrépitas e a ausência quase total de árvores e vegetação arbustiva são tudo o que podemos esperar ver num passeio pela Lezíria Grande de Vila Franca de Xira. Bem, tudo talvez não...
Milherango (Limosa limosa) et al. Lezíria Grande (07-01-2017)
Os apreciadores da natureza - e acima de tudo os observadores de aves - têm aqui um ponto de passagem quase obrigatório, pelo menos uma vez na vida. Para mim, este será um dos poucos locais no nosso país onde as actividades humanas parecem estar em razoável equilíbrio com uma exuberante explosão de vida selvagem.
Perdiz-do-mar (Glareola pratincola) Lezíria Grande (10-04-2016)
Enormes bandos de íbis-pretas, gansos-bravos, milherangos, cegonhas e patos interagem com as aves de rapina que deles se alimentam, águias-pesqueiras devoram as suas presas no topo dos seus poisos preferidos, miríades de pequenas aves coexistem com lebres, javalis, raposas, sacarrabos... e todo este fervilhar de vida acontece lado a lado com o pastoreio do gado e com a actividade agrícola intensiva dos Homens e da sua maquinaria. Ainda assim a vida prospera.
Colhereiro (Platalea leucorodia) Lezíria Grande (10-04-2016)
Aqui, quase todos os dias há algo novo para ver, seja uma espécie nova que chegou, um comportamento interessante ou uma raridade que, literalmente, desce dos céus.
Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) Lezíria Grande (01-12-2018)
Para mim este é, sem sombra de dúvidas, o paraíso das aves.
Sisão (Tetrax tetrax) Lezíria Grande (11-03-2017)
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