A Ponta dos Corvos é uma restinga que separa o leito do rio Tejo das águas mais interiores do Sapal de Corroios. Pertencente ao concelho do Seixal, este pedacinho de terra detém bastante importância histórica, pois ali se estabeleceu, em 1947, a chamada Fábrica Atlântica de Seca de Bacalhau. Com uma área de aproximadamente 40 ha e cerca de 600 trabalhadores, esta era a maior fábrica deste tipo na região. Encerrada desde o ínicio dos anos 90, todas as suas infraestruturas, bem como os moinhos de maré nas proximidades, encontram-se hoje completamente entregues ao degredo.
Mas os valores históricos não são os únicos, nem (na minha óptica) os mais importantes valores desta zona. O Sapal de Corroios é um importantíssimo refúgio de vida selvagem, infelizmente também ele completamente ignorado pelo poder autárquico.
Nascer do sol na Ponta dos Corvos (05-12-2015)
Apesar de massacrada com a grande quantidade de lixo por ali deixada e com uma perturbação relativamente constante, a biodiversidade deste local ainda é assinalavelmente interessante. Ali podemos encontrar várias espécies de plantas, bastantes insectos, alguns répteis e, claro, muitas aves. Entre estas últimas, sem dúvida que a mais vistosa é o flamingo-rosado.
Mas a avifauna deste local não é composta apenas pelos pernaltas cor-de-rosa, é muito mais diversa e interessante. No inverno, as aves aquáticas e limícolas dominam a paisagem, pois encontram ali excelentes condições para descansar e procurar alimento. Desde os corvos-marinhos que eu pensava que fossem a razão do nome deste local (informação entretanto corrigida pelo Sr. Manuel da Costa, nos comentários abaixo), passando pelas garças, tarambolas, patos, pilritos, maçaricos, gaivotas, rolas do mar... podemos observar bandos de centenas ou milhares de aves, miríades de pequenos corpos emplumados que se deslocam, ao ritmo das marés, entre os lodos expostos pela baixa-mar e a vegetação que lhes serve de poiso durante a preia-mar.
Esporadicamente até por ali aparece alguma ave mais incomum ou mesmo rara. Não fosse a constante presença humana, a localização privilegiada deste local iria possivelmente atrair ainda mais destas aves.
Outras aves, passeriformes e não só, frequentam as praias, os pastos, as ruínas e a vegetação de sapal. Várias espécies aparecem por ali na migração, como chascos e picanços, outras ficam para o inverno, como as petinhas, as lavercas e o pisco-de-peito-azul. Também há as que ali nidificam, como a poupa, o rabirruivo e o cartaxo. Se olharmos com atenção, podemos encontrar um variado leque de formas, cores e cantos...
Mas estas aves, sejam elas aquáticas ou terrestres, não estão totalmente seguras e protegidas. Várias rapinas frequentam este recanto, em busca de presas. Se algumas se alimentam de insectos e pequenos vertebrados - ou até de peixe - outras tiram partido da fantástica quantidade de presas emplumadas que por ali existem. A águia-d'asa-redonda é comum ali, durante todo o ano, o falcão-peregrino também pode ser visto com frequência, bem como o peneireiro-vulgar. Também a icónica águia-pesqueira passa ali o inverno, usufruindo da abundância de poisos seguros no meio do sapal para devorar os peixes que captura nas águas do Tejo. Estas, entre algumas outras aves de rapina, constituem o topo da cadeia alimentar deste ecossistema.
Mais abaixo, numa posição muito ingrata da cadeia alimentar, podemos observar por ali vários invertebrados, como gafanhotos e borboletas, alguns pequenos répteis e os sempre presentes caranguejos, nas zonas banhadas pelo rio. Pequenos e geralmente bem camuflados, estes bichos requerem a nossa melhor atenção, se os queremos encontrar. Mas vale a pena...
Também o coberto vegetal é interessante e até demasiado variado para os meus parcos conhecimentos. Assim, qualquer pessoa que por ali caminhe certamente encontrará uma ou outra plantinha mais vistosa, nem que sejam apenas aquelas cujas flores coloridas imediatamente nos chamam a atenção.
As actividades de veraneio desregradas, a enorme quantidade de lixo deixada pelos mariscadores, a falta de fiscalização às actividades lúdicas como a canoagem ou o stand-up paddle, a falta de civismo em geral das pessoas que usufruem deste fantástico espaço, estão a pôr em perigo aquele que é, provavelmente, o maior valor natural deste concelho. Diz-se até que há planos para dinamizar e modernizar as praias da Ponta dos Corvos... a forma como isto será levado a cabo poderá vir a colocar (ou não) ainda mais pressão humana sobre o sapal.
Urge repensar a forma como vemos e utilizamos os nossos espaços naturais, tal como urge exigir às autarquias que protejam e cuidem destes frágeis paraísos. Isto se quisermos que as crianças do futuro ainda possam deslumbrar-se com a delicadeza dos flamingos e maravilhar-se com o voo rasante de um bando de milhares de limícolas... não num zoo, não num qualquer documentário da BBC, mas sim ali, quase à porta das nossas casas.
O concelho do Seixal tem alguns locais com excelentes condições para a Observação de Natureza, principalmente ao nível da avifauna. Desde que tomei residência no concelho, tenho vindo a explorar alguns destes locais com o intuito de ir registando e inventariando a biodiversidade que por aqui encontro. O resultado dos meus esforços, bem como dos esforços de muitas outras pessoas, pode ser verificado num projecto na plataforma iNaturalist, que já conta com mais de 9000 observações de cerca de 1400 espécies, registadas por mais de 160 observadores:
Junto a Santa Marta do Pinhal existe o Parque Urbano da Quinta da Marialva, uma zona de lazer equipada com um circuito de manutenção, um parque geriátrico, um percurso pavimentado, vários relvados, um campo de basquetebol, um campo pelado de futebol, um parque infantil, uma zona de churrascos, um anfiteatro ao ar livre com palco para concertos e um pavilhão multiusos. Aqui ocorrem alguns eventos como a "Mostra de actividades económicas" (vulgo feira) mensal, as Festas de Corroios, ou a Feira Medieval de Corroios. Este parque é utilizado diariamente por dezenas de pessoas para fazer desporto, passear os cães, brincar com as crianças ou simplesmente passear e apanhar sol.
Não se pode dizer que seja um local com grandes valores naturais, uma vez que, tal como a maioria dos jardins no Seixal, é bastante insípido e despido de vegetação, mantendo apenas algumas árvores de médio/grande porte e uns poucos arbustos. Tem, no entanto, uma vala de escoamento de águas pluviais que consegue ser suporte para um ecossistema interessante e variado.
Bico-de-lacre (Estrilda astrild) (13-10-2016)
Ao nível da avifauna, este parque tem 62 espécies registadas, sendo a maioria aves comuns que podem ser encontradas em qualquer outro parque ou jardim. Na vala facilmente encontraremos os exóticos bicos-de-lacre, fuinhas-dos-juncos, uma ocasional carriça, talvez uma alvéola ou duas e até um casal de patos-reais. Nos relvados pululam os melros e as invernantes petinhas-dos-prados, aparece uma cotovia de vez em quando, circulam os inevitáveis pardais e os estridentes estorninhos, em busca de vermes para se alimentarem. As árvores dão abrigo a piscos, pintassilgos, milheirinhas, gaios, trepadeiras, chapins e uma série de outros passeriformes.
Toutinegras, andorinhas, felosinhas, verdilhões, gralhas, tentilhões, chascos-cinzentos, papa-moscas, taralhões... uns no inverno, uns no verão, alguns apenas de passagem na migração e outros todo o ano. Para quem quiser andar de "olhos abertos", há sempre um espectáculo colorido para ver.
E uma das mais coloridas aves que por ali costumavam andar era esta pequena periquita, escapada de alguma gaiola. Observei-a durante uns dois anos, até que deixei de a ver. Qual terá sido o seu destino?
Outras aves menos exuberantes vivem por ali as suas vidas calmas. A maioria de nós não olha duas vezes para um pombo-doméstico ou para uma rola-turca, mas não deixam de ter a sua beleza...
Há no entanto aves que, apesar de comuns, não passam despercebidas. O rabirruivo-preto é uma dessas aves, pelo descaramento com que se aproxima de nós humanos, chegando mesmo a reclamar para si partes das nossas casas... esta ave tem o hábito de se aproveitar de recantos, caixas de estores, buracos nas paredes, ou qualquer zona nas nossas casas que lhe possa servir de suporte para o ninho. O que talvez algumas pessoas não saibam é que este passarinho tem um "primo" que nos visita raras vezes, quando em migração para África. O rabirruivo-de-testa-branca foi uma das maiores surpresas que já encontrei na Marialva.
Mas a maior surpresa foi outra. Duas aves das terras nórdicas que resolveram descer pela Península Ibérica e vir passar uns dias à Quinta da Marialva. Esta foi a única vez que observei esta espécie que é, para mim, o mais bonito dos tordos que ocorrem no nosso território:
Tordo-zornal (Turdus pilaris) (26-11-2016)
Claro que há muito mais do que apenas aves naquele parque. A vegetação que cobre e circunda a vala, bem como algumas plantas por ali espalhadas e até a própria relva abrigam uma quantidade apreciável de pequenas criaturas.
Longicórnio (Cerambyx welensii) (10-06-2017)
Entre escaravelhos, caracóis, moscas, abelhas, aranhas, gafanhotos, vespas, cigarras, libelinhas, borboletas e mariposas, muitos outros invertebrados podem ser observados literalmente debaixo dos nossos pés, alguns deles bastante bem camuflados. Tenham cuidado com o que pisam...
Obviamente, onde há insectos, há os que se alimentam deles. Não é difícil encontrar por ali alguns répteis e anfíbios, como lagartos, rãs, osgas e até serpentes.
Mesmo os locais que entendemos como "nossos" são inevitavelmente refúgio de muitas outras criaturas. Por muito que tenhamos a tendência de nos consideramos o centro do universo, devemos aprender a conviver com elas e a respeitá-las, pois todas têm um papel a cumprir na ordem natural das coisas. Se o conseguirmos, facilmente chegaremos à conclusão que, na verdade, cabemos cá todos...
Os dinossauros foram um grupo de répteis pré-históricos que dominaram o planeta por mais de 140 milhões de anos. Apesar de terem desenvolvido as mais variadas formas e tamanhos, todos tinham em comum uma característica que ajudou a garantir um maior sucesso sobre os restantes répteis que existiam na altura: os seus membros posteriores eram direitos, perpendiculares ao corpo. Esta característica pode ser observada ainda hoje nos seus mais próximos parentes vivos... as aves.
No entanto, apesar de não serem descendentes directos dos dinossauros (note-se as patas traseiras paralelas ao corpo), os crocodilos e os lagartos são os animais que mais facilmente nos trazem à mente os titãs de outrora. Ao ver um destes bichos "escarrapachados" ao sol, é quase impossível impedir que a nossa imaginação viaje mais de 65 milhões de anos no passado...
Os lagartos pertencem à subordem Sauria, compreendida na ordem Squamata (que também engloba as serpentes), uma das quatro ordens da classe Reptilia. Entre os aspectos essenciais que os distinguem das serpentes contam-se a existência de pálpebras e de ouvido externo, o facto de a sua muda de pele ocorrer por farrapos e não toda de uma vez, bem como a capacidade de autotomia (faculdade de libertar a cauda, utilizada geralmente como defesa contra predadores). E sim, entre estes aspectos não considerei a presença de patas... lá chegaremos.
Sardão (Timon lepidus) Almada (02-07-2020)
Os nossos lagartos são essencialmente carnívoros e alimentam-se de uma grande variedade de animais, desde pequenos artrópodes como formigas ou aranhas, a micromamíferos, aves ou até outros répteis.
Se por um lado estes animais são exímios predadores, são também eles predados por uma série de outras espécies. A águia-cobreira (Circaetus gallicus) é uma especialista em capturar répteis, mas também algumas rapinas nocturnas se contam entre as aves que se alimentam destes bichos. Pássaros como o melro-azul (Monticola solitarius) e o melro-das rochas (Monticola saxatilis) são também considerados especialistas em capturar pequenas lagartixas. Mas a lista de predadores não se fica por aqui. As espécies maiores de lagartos tendem a caçar as mais pequenas e algumas serpentes baseiam mesmo a sua dieta nestes pequenos répteis quadrúpedes. Alguns juvenis chegam até a ser devorados por artrópodes como aranhas ou escolopendras. No entanto, um dos seus maiores predadores é o gato doméstico... o nosso "gatinho" de casa é um exímio caçador de lagartos e até de algumas serpentes, entre outros pequenos animais. Vários estudos, como este, realizado na Austrália, demonstram que os gatos têm um enorme impacto na biodiversidade das zonas onde ocorrem, sejam eles assilvestrados ou apenas animais de estimação aos quais lhes é permito sair de casa. Claro que, entre todas as ameaças a que estão sujeitos, a maior será de origem humana, com as alterações que causamos aos seus habitats.
Ainda assim, várias espécies de lagartos vão sobrevivendo no nosso país...
Este é o lagarto mais rápido da europa. Conhecido como lagartixa-da-areia ou lagartixa-de-dedos-denteados, é possível vê-lo em zonas abertas a acelerar pela areia atrás de uma presa, chegando a saltar para capturá-la em pleno ar. O seu "focinho" robusto dá-lhe, aos meus olhos, um ar primitivo e faz dele um dos meus dois lagartos preferidos, entre todos os que já pude observar. Ocorre na Península Ibérica e no norte de África, sendo que em Portugal a sua distribuição está limitada a umas poucas manchas dispersas pelo país.
Até meados de 2020 nunca tinha observado esta espécie, mas afinal até tinha uma pequena população relativamente perto de casa. A lagartixa-do-mato-ibérica vive em zonas abertas com vegetação arbustiva esparsa e alimenta-se de pequenos invertebrados. É endémica da zona ocidental da Península Ibérica, ou seja, só existe em Portugal e na zona oeste de Espanha.
Ao contrário do que o seu nome parece indicar, a cobra-de-pernas-tridáctila é, na verdade, um lagarto. Ainda assim, os seus membros com três dedos são essencialmente inúteis na locomoção, pois, tal como as verdadeiras cobras, ele serpenteia quando se move. E foi exactamente o hábito de serpentear velozmente por entre as ervas que lhe granjeou um dos nomes pelos quais é conhecido: fura-pastos.
Este interessante réptil alimenta-se de pequenos invertebrados e vive em zonas abertas com alguma humidade, como prados e lameiros. Tem a curiosidade de ser ovovivíparo (os juvenis desenvolvem-se dentro de um ovo no interior do corpo da progenitora e nascem já completamente desenvolvidos).
Ocorre na Península Ibérica e no sul de França.
Lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) Rio Caima - Oliveira de Azeméis (22-02-2020)
Este é, para mim, um dos lagartos mais bonitos que temos por cá. O lagarto-de-água é um excelente nadador e ocorre em habitats húmidos como margens de ribeiros, tanques e lameiros de montanha. Alimenta-se de pequenos invertebrados e de fruta (principalmente de amoras). É endémico da Península Ibérica.
Lagartixa-do-noroeste (Podarcis guadarramae) Leomil - Moimenta da Beira (28-04-2019)
Esta pequena lagartixa é também ela um endemismo ibérico. Em Portugal ocorre na zona norte e centro. Alimenta-se de artrópodes e está bem adaptada a ambientes urbanos, sendo fácil observá-la a apanhar sol no topo de um qualquer muro velho.
Lagartixa-de-bocage (Podarcis bocagei) Pitões da Junias - Montalegre (11-05-2018)
O verde forte no dorso dos machos desta espécie destaca-se até no meio da vegetação. Sendo também um endemismo ibérico, a distribuição da lagartixa-de-bocage em Portugal é limitada ao noroeste do território. É um pequeno lagarto bastante adaptável, sendo possível encontrá-la em terrenos abertos, clareiras, jardins e até em zonas urbanas. Alimenta-se de artrópodes.
Este animal é a razão pela qual não incluí a presença de membros nas características distintivas entre lagartos e cobras. Também conhecido como cobra-de-vidro, o licranço é um lagarto totalmente desprovido de patas, que se alimenta de invertebrados que encontra nas zonas relativamente húmidas onde vive. Ocorre em grande parte da Europa, estando a sua distribuição no nosso país limitada a norte do rio Tejo. Apesar da crença popular, o licranço é um animal completamente inofensivo para o ser humano.
Dentro das lagartixas do género Podarcis, esta é a que tem a maior área de distribuição, estando bem distribuída a sul do rio Tejo, ainda que, para norte, a sua zona de ocorrência prolonga-se apenas pelo litoral até à zona de Espinho. Também esta espécie só existe na Península Ibérica.
É possível vê-la todo o ano, nos dias quentes ou amenos em pedras, muros, jardins ou até paredes de habitações, sendo a lagartixa que mais está presente no nosso dia-a-dia. Alimenta-se de artrópodes.
Lagartixa robusta, de tamanho médio, que se alimenta de invertebrados e até de outros pequenos lagartos. Faz justiça ao nome, pois é geralmente encontrada em silvados, florestas, clareiras e matos em geral. Na época nupcial, o macho desenvolve uma coloração laranja na zona da cabeça que o torna inconfundível.
É uma lagartixa ágil, veloz e feroz. Quando ameaçada, podemos até ouvi-la a emitir rangidos. Alimenta-se de invertebrados e de outros lagartos.
Ocorre desde o sul de França até ao norte de África. Em Portugal pode ser encontrada por todo o território, sendo menos frequente no litoral noroeste.
Sardão (Timon lepidus) Almada (02-07-2020)
Este é o meu lagarto autóctone preferido. A sua cor verde, manchada de preto e com ocelos azuis, bem como o facto de ser o maior lagarto da Europa, tornam-no inconfundível. Pode ser encontrado em zonas rochosas, dunas, hortas e até em parques urbanos, assim tenha as condições que necessita para se abrigar. Troncos velhos, buracos entre raízes ou montes de pedras são alguns dos seus esconderijos preferidos, que o macho, por ser territorial, guarda ferozmente. Ver este grande lagarto a apanhar sol numa manhã de primavera é uma visão que não deixa ninguém indiferente.
Distribui-se por todo o país e pode ser também encontrado em França, Espanha e Itália.
É omnívoro, alimentando-se de invertebrados, aves, ovos, pequenos mamíferos, fruta e até de outros lagartos.
Esta é a mais comum das duas espécies de osgas que ocorrem em Portugal continental. A sua má reputação precede-a, mas na verdade a osga-comum é um animal completamente inofensivo e até bastante útil ao Homem. Estes pequenos lagartos alimentam-se de moscas, mosquitos, borboletas (traças incluídas), aranhas e de variados outros invertebrados. Chegam mesmo a comer lagartos juvenis. Os dedos das osgas possuem umas escamas especiais que lhes conferem a capacidade de aderir facilmente aos mais diversos materiais, pelo que é comum vê-las a trepar paredes, tectos e às vezes até os vidros das janelas nas nossas casas.
Estes animais de aspecto estranho pertencem à subordem Sauria, como os restante lagartos, mas estão colocados sob a infraordem Gekkota. Isto significa que estes bichos que tantas pessoas acham horríveis e nojentos, são na verdade "primos" dos famosos Gekkos, tão adorados e por quem tanta gente paga muito dinheiro nas lojas de animais...
A osga-comum distribui-se por toda a bacia mediterrânica, tendo nos últimos anos vindo a expandir para norte no nosso país.
Camaleão (Chamaeleo chamaeleon) Quinta do Marim - Olhão (23-05-2020)
Pertencente à família Chamaeleonidae, também ela dentro da subordem Sauria, o inconfundível camaleão tem características únicas que o distinguem de todos os outros lagartos da nossa fauna. A lendária faculdade de adaptar a sua cor ao ambiente circundante e a capacidade de mover os olhos de forma independente, são provavelmente as mais distintivas. Para além disso, por ser arborícola, a sua cauda é preênsil e as suas patas evoluíram para uma disposição dos dedos ( três dedos oponíveis a outros dois) que lhes permite agarrarem-se com maior facilidade aos ramos das árvores e arbustos. Alimentam-se de artrópodes que capturam com a sua língua proctáctil (pode ser lançada quase um metro para a frente), coberta por um muco aderente.
Este animal está distribuído desde norte de África até ao sul da Península Ibérica, passando pelas ilhas mediterrânicas. A leste, chega ao médio oriente. No nosso país ocorre apenas no Algarve, tendo chegado há uns séculos, vindo de África.
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Apesar de terem um aspecto razoavelmente semelhante a estes, as salamandra e os tritões não são lagartos. Na verdade nem são répteis, são antes anfíbios (classe Amphibia) pertencentes à família Salamandridae, que conta com sete espécies em Portugal continental. Estes animais passam por estágios larvares e são essencialmente aquáticos, embora algumas espécies possuam também uma fase terrestre.
Esta família, por ser mais difícil de observar devido aos seus hábitos e à sua ecologia, tem sido uma dor de cabeça para mim. Um dos meus grandes objectivos para os próximos tempos é mesmo observar a endémica salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica). A seu tempo...
Tritão-marmorado (Triturus marmoratus) Leomil - Moimenta da Beira (27-04-2019)
Na sua fase terreste, o tritão-marmorado é essencialmente nocturno e pode ser encontrado em prados, lameiros, florestas e até jardins, enquanto que, na fase aquática, habita lagos, tanques e cursos de água. Alimenta-se de larvas de outros anfíbios e invertebrados como lesmas, caracóis, minhocas e larvas de insectos.
É um anfíbio de dimensões razoáveis, de cor esverdeada com manchas escuras. Ocorre na Península Ibérica e no oeste de França, sendo que em Portugal pode ser encontrado a norte do rio Tejo.
Tritão-de-ventre-laranja (Lissotriton boscai) Oliveira de Azeméis (21-02-2020)
O tritão-de-ventre-laranja é um pequeno animal de ventre alaranjado, pontilhado de negro. O seu dorso é de cor variável, tedencialmente esverdeado. É crepuscular e nocturno e alimenta-se de invertebrados aquáticos, lesmas e minhocas. Pode ser encontrado em zonas rurais e parques urbanos.
Endémico da Península Ibérica, distribui-se por todo o território nacional e zona oeste de Espanha.
Tritão-palmado (Lissotriton helveticus) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)
Este bicho de coloração variável, com manchas escuras ao longo do corpo, é o tritão mais pequeno dos que ocorrem em Portugal. De hábitos crepusculares e nocturnos, pode ser encontrado (geralmente na primavera e no outono) em florestas e áreas agrícolas, escondido debaixo de troncos ou pedras. A sua fase aquática é passada em lagos ou tanques.
Ocorre na zona oeste da Europa, chegando até à Alemanha. Por cá, é frequente a norte do Douro e muito localizado a sul deste rio.
Larva de Salamandra-de-fogo (Salamandra salamandra) Seixal (13-02-2021)Larva de Salamandra-de-fogo (Salamandra salamandra) Leomil - Moimenta da Beira (27-04-2019)
Quando era puto, no Alentejo, via-as com frequência nas noites chuvosas. Eram chamadas de "salamanteigas" e consideradas venenosas... de facto, a sua coloração negra, manchada de um amarelo forte, denuncia a neuro-toxina que este animal esconde sob a sua pele lisa. No entanto, apesar de me dedicar à observação da natureza há já uns anos, nunca mais vi uma adulta (provavelmente devido aos seus hábitos)... ainda assim, tenho observado as suas larvas às dezenas, nas poças temporárias criadas pela chuva.
A salamandra-de-pintas-amarelas ou salamandra-de-fogo é, tal como os anteriores, um anfíbio crepuscular e nocturno. Mas, ao contrário dos tritões, esta salamandra é estritamente terrestre (em adulta), indo à água apenas para depositar as suas larvas. Esta espécie é vivípara (dá à luz as crias que se desenvolveram no interior do seu corpo).
Alimenta-se de uma grande variedade de invertebrados e ocorre na maioria do território europeu.
Tão fascinantes para uns como repulsivos para outros, estes répteis e anfíbios de aspecto pré-histórico não deixam ninguém indiferente. Mas são dos animais mais sensiveis às alterações climáticas e à poluição, e devem ser protegidos, pois, como todos os outros seres autóctones, eles são extremamente importantes para a manutenção dos nossos ecossistemas saudáveis.
Pessoalmente, ainda tenho muito a percorrer, mas hei de conseguir observar todas as espécies presentes no nosso país... nesta minha caça aos falsos dinossauros modernos.
Por várias vezes fui incitado a iniciar um blogue e há cerca de dois anos atrás decidi fazer a vontade a quem o sugeriu.
Depois de uma experiência pouco sucedida no blogger, uma amiga com mais experiência nestas andanças recomendou-me o SAPO, explicou-me o funcionamento básico e, assim que o bicho do mato ficou online, teve a simpatia de o "anunciar" à blogosfera no seu Ler por aí, insinuando que um dia talvez também eu começasse a falar de livros. Bem, hoje vou fazer-lhe a vontade (à minha maneira, obviamente).
Para quem gosta de observar a natureza mas quer ir mais além na aquisição de conhecimentos, não basta passar muitas horas no campo... para compreender verdadeiramente aquilo que vemos, é preciso estudar um pouco. Felizmente, nos dias de hoje existem no mercado guias de campo que ajudam a identificar as espécies dos mais diversos grupos, em vários formatos e línguas. Existem também atlas com informação bio-geográfica, bem como livros que compilam as mais variadas informações sobre os animais e os seus comportamentos.
Sendo as aves o grupo de animais pelo qual nutro maior interesse, foi nele que fiz o maior investimento, tendo adquirido 3 guias de campo e vários outros livros ao longo dos últimos anos. Aos poucos, com a expansão do meu interesse aos répteis, invertebrados e mamíferos, tenho começado também a procurar literatura sobre estes grupos.
Hoje vou falar um pouco sobre alguns guias de campo que tenho na minha biblioteca.
Aves de Portugal, Helder Costa et al. - Lynx, 2ª edição (2018)
Dedicado exclusivamente ao território português, este é o guia que recomendo aos que desejam iniciar-se na observação de aves. Com tamanho e peso reduzidos, ilustrações esclarecedoras, descrições sumárias das características diagnosticantes de cada espécie e mapas de distribuição muito interessantes, este guia cumpre a sua função sem se tornar assustador aos olhos dos iniciados.
Guia de Aves, Lars Svenson et al. - Assírio e Alvim, 2ª edição (2012)
Como o próprio nome indica, este é o guia de aves para Portugal e para a Europa. Com mais de 3500 ilustrações bastante precisas, ilustra as várias plumagens que podem ser apresentadas por cada espécie. As notas e descrições complementares chamam a atenção para os detalhes da fisionomia e/ou do comportamento que ajudam o observador a chegar a uma identificação.
Pode intimidar os iniciantes, devido ao grande volume de informação, mas é um guia imprescindível para aqueles que desejem embrenhar-se de forma mais séria no mundo da observação de aves.
A 3ª edição encontra-se à venda por 33€ na Wook, na Fnac ou em qualquer uma das grandes livrarias do país, podendo também ser adquirido nas instalações da SPEA ou no seu site:
Flight Identification of Raptors of Europe, North Africa and the Middle East, Dick Forsman - Bloomsbury Natural History (2016)
Dos meus guias de aves, este é o único que apresenta fotografias ao invés de ilustrações e é também o único em língua inglesa. Ainda assim, este fantástico livro do ornitólogo finlandês Dick Forsman é possivelmente o melhor guia para identificação de rapinas em voo. As excelentes fotografias mostram os diferentes detalhes de plumagem que podem ser apresentados pelas diversas espécies, bem como várias posições de voo em que podemos observar as aves no campo. Isto, em conjunto com as detalhadas descrições de pormenores fisionómicos e comportamentos, tornam este livro um "must have" para quem tenha um interesse específico em aves de rapina.
À venda na wook por pouco mais de 50€, é um investimento que vale a pena fazer:
Anfíbios e Répteis de Portugal, Ernestino Maravalhas & Albano Soares - Booky (2017)
Sem ser um guia de campo puro, mas apresentando alguns elementos de atlas, esta acaba por ser a publicação mais actualizada relativamente à taxonomia, bem como à distribuição deste grupo de animais no nosso país.
Pode ser adquirido por cerca de 20€ na loja virtual da Quercus ou na Naturfun:
Guia das Borboletas Comuns de Portugal Continental, Patrícia Garcia-Pereira et al. - Tagis (2019)
Este pequeno guia foi publicado no âmbito do projecto ABLE - Avaliar as Borboletas na Europa e compila as espécies de borboletas mais comuns no nosso país. Nele é explicado o projecto, bem como as metodologias utilizadas nas contagens. São também apresentadas, para cada espécie de borboletas, fotografias de asas abertas e em repouso, bem como de machos e fêmeas para os casos em que o dimorfismo sexual é relevante.
Ao que me é dado a conhecer, a publicação não se encontra à venda, mas o download pode ser efectuado gratuitamente no site da Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal:
Todos os anos milhares de turistas visitam Portugal, vindos das mais diversas proveniências. Chegam em busca da nossa gastronomia, das belas e diversificadas paisagens, da história e cultura, das praias, do clima e claro, dos preços (ainda) bastante comportáveis para os habitantes da maioria dos países desenvolvidos. Em 2018 foram os ingleses que em maior número nos visitaram, seguidos por franceses, alemães e espanhóis. Apesar de andarem longe dos lugares cimeiros, o INE indicou que a afluência de visitantes transatlânticos tem vindo a aumentar (principalmente americanos e canadianos). No entanto, os humanos não são os únicos a cruzar o grande oceano que nos separa das Américas... outros animais também vão aparecendo por cá.
Se alguns destes visitantes chegam ao nosso território por meios antropogénicos e bastas vezes permanecem, dando origem a populações invasoras mais ou menos auto-sustentáveis, há os que o fazem por meios próprios e que tendem a desaparecer tão rapidamente como apareceram.
Garça-verde (Butorides virescens) Herdade da Aroeira - Almada (09-11-2018)
Apesar de não existirem registos desta ave no nosso país até 2018, muitos já conheciam a garça-verde através da divulgação de vídeos onde é vista a utilizar pedaços de pão como isco para capturar peixes. Cerca de dez dias após a tempestade Leslie atingir Portugal (13-10-2018), foi registada uma destas garças na Quinta do Lago (Loulé) e mais dez dias passados foi descoberta uma segunda ave na Herdade da Aroeira (Almada). Possivelmente terão chegado à nossa costa empurradas pela tempestade e imediatamente procuraram habitats favoráveis. A ave de Almada foi observada pela última vez no início de novembro do mesmo ano e a algarvia teve a última observação registada dia 08-04-2019. Que destino terão? Podemos apenas especular...
Falsa-tartaruga-de-mapa (Graptemys pseudogeographica) Herdade da Aroeira - Almada (01-05-2019)
O comércio de animais exóticos tem crescido nas últimas décadas, levando a que múltiplas espécies de "animais de estimação" existam hoje no nosso país, geralmente confinados a gaiolas, terrários ou aquários. Mas, quando um destes animais deixa de ser desejado (seja porque cresceu mais do que se esperava, porque dá muito trabalho, porque come muito, ou por qualquer outra razão), muitas vezes acabam por ser "libertados" na natureza. Estes são autênticos crimes ambientais que podem acarretar consequências devastadoras para a nossa biodiversidade autóctone.
Tartaruga-da-florida (Trachemys scripta elegans) Parque da Paz - Almada (07-04-2016)
Um caso paradigmático é o da libertação de várias espécies de tartarugas exóticas nos nossos cursos de água. Estes animais crescem mais e mais depressa que os nossos cágados-mediterrânicos (Mauremys leprosa) e cágados-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), atingem a maturidade sexual mais cedo e procriam em maior quantidade. Todas estas vantagens competitivas estão a ter um impacto negativo nas espécies autóctones.
Borboleta-monarca (Danaus plexippus) Vila Nova de Milfontes (25-06-2016)
Muitos conhecidas pela espectacular migração que protagonizam na América do Norte, desconhece-se como é que as monarcas chegaram ao nosso país. Há quem afirme que podem ter voado até cá desde os arquipélagos da Madeira ou dos Açores (há muito que existem colónias nas regiões autónomas), outros insinuam que terão sido introduzidas pela mão humana. Tendo a sua presença começado a ser estudada apenas no início da década de 2000 no Algarve, o certo é que aproveitando-se da existência de uma planta também ela exótica (Gomphocarpus fruticosus - pertencente à mesma família das plantas das quais as suas lagartas se alimentam no continente americano, a Asclepia curassavica), esta vistosa borboleta tem vindo a formar colónias mais para norte. Até onde poderá chegar? Trará com ela consequências para as nossas espécies autóctones? É algo a descobrir nos próximos anos.
Já este caçador de pequenas dimensões foi avistado por cá apenas três vezes... aparentemente aves que chegaram a nós pelos seus próprios meios, tendo atravessado o atlântico para chegarem a uma terra onde se instalaram sós, apenas para desaparecerem ao fim de algum tempo sem que seja conhecido o seu destino. Terão partido? Terão fenecido? Ainda estarão entre nós, escondidos nalguma barragem no interior do país? Como sempre, muitas perguntas, poucas respostas...
Pedras, rochas e Calhaus. A mera menção destas palavras transporta-nos mentalmente para ambientes áridos e estéreis onde a sobrevivência é improvável... Nada mais falso. Os diversos habitats rochosos que podem ser encontrados no nosso país estão repletos de vida e cor.
Nos esporões pedregosos das praias da frente atlântica de Almada, podemos encontrar várias espécies de aves, entre elas a rola-do-mar. Estas belas aves percorrem as pedras deixadas a descoberto pela baixa-mar em busca de invertebrados e pequenos caranguejos.
Rola-do-mar (Arenaria interpres) Cova do Vapor - Almada (02-11-2019)
Aves, mamíferos, répteis, insectos, plantas... alguns utilizam as pedras como casa, outros como território de caça, zona de repouso ou meio de protecção. Seja como for, a vida adapta-se a todos os ambientes e encontra forma de prosperar. Até um calhau nu e molhado pode ser um precioso aliado para algum réptil em processo de termorregulação (os répteis são ectotérmicos, ou seja, necessitam de uma fonte externa de calor para regularem a sua temperatura corporal).
Embora os seus números aparentem estar a diminuir em favor da proliferação das exóticas tartarugas-da-florida, ainda vamos podendo encontrar, pelos nosso cursos de água, alguns cágados-mediterrânicos a tomar plácidos banhos de sol em cima de alguma pedra que se projecte um pouco fora do elemento líquido.
Alguns animais especializam-se nestes habitats, onde passam toda a sua vida, chegando a um ponto em que isso os define e lhes confere identidade.
Este pequeníssimo passeriforme ocorre em escarpas e grandes paredes rochosas, tornando bastante difícil a sua localização. É nestas fragas que se alimenta, repousa e procria, o que lhe granjeou o nome de trepadeira-dos-muros ou trepa-fragas.
Trepa-fragas ou Trepadeira-dos-muros (Tichodroma muraria) Cabo Sardão - Odemira (31-03-2018)
E, se alguns bichos dominam por completo estes ambientes, calcorreando cada centímetro de pedra, investigando cada irregularidade, explorando cada anfractuosidade, outros há que apenas os conhecem superficialmente, utilizando estas estruturas como mero auxiliar para os seus afazeres do dia-a-dia.
Em cima de uma rocha saliente num dos muitos ribeiros de águas frias e límpidas que ainda hidratam o norte do país, encontramos vigilante um ser delicado, de cor iridescente. No centro do seu território, o macho de donzelinha aguarda a passagem de uma fêmea enquanto defende ameaçadoramente as suas fronteiras dos seus potenciais rivais. Em cima daquelas pedras desenrola-se o terrível - ainda que belo - jogo da vida.
Donzelinha (Calopteryx virgo) Rio Caima - Vale de Cambra (08-09-2018)
Alguns animais há que, sem serem fiéis a estes biótopos, usufruem deles quando as circunstâncias assim o ditam.
Os pilritos-das-praias são mais conhecidos por serem observados a correr freneticamente pela areia, junto à linha de espuma do mar. O seu vai e vem quase pendular reflecte a cadência das ondas e marca o ritmo segundo o qual estas pequenas aves procuram na areia molhada os minúsculos invertebrados dos quais se alimentam. No entanto, na maré cheia podemos vê-los a repousar em grupo nos rochedos fora do alcance das águas. Da mesma forma, não é incomum vê-los a procurar alimento entre mesmas rochas na maré vazante. Na vida há que saber aproveitar as oportunidades e estes pequenos não deixam os seus créditos por mãos alheias...
Pilrito-das-praias (Calidris alba) Cova do Vapor - Almada (28-01-2016)
Bastas vezes confundido com uma cobra, o licranço é na verdade um lagarto desprovido de patas. Podendo crescer até aos 50cm, estes animais gozam de uma longevidade pouco comum entre os lagartos, chegando a viver até aos 30 anos.
Sendo uma espécie ovovivípara, o embrião desenvolve-se dentro de um ovo no interior do corpo da fêmea, que dá à luz crias já totalmente desenvolvidas. A sua pele composta por escamas (não sobrepostas) lisas e brilhantes valeu-lhe a alcunha de cobra-de-vidro mas, tal como nos restantes lagartos, a sua muda de pele ocorre por farrapos e não toda de uma vez. Possuem também a faculdade da autotomia, ou seja, podem perder parte da sua cauda como medida de protecção contra predadores.
Ao contrário da crença popular que deu origem ao ditado “mordedura de licranço dá sete dias sem descanso”, este bicho não possui qualquer tipo de veneno, sendo por isso perfeitamente inofensivo e até muito útil, pois alimenta-se de lagartas, lesmas e outros invertebrados que podem causar danos às culturas.
Apesar disto, o licranço continua a ser temido pelo povo e morto quase sempre que lhe alguém consegue deitar a mão. Quem sabe ainda acabe por dar origem a outro ditado: "quem não quer ser cobra, não lhe veste a pele".
Este simpático réptil é uma das duas espécies de geckos que ocorrem no território continental português e, ao contrário da crença popular, não são venenosos ou peçonhentos, nem provocam qualquer doença dermatológica. Por se alimentarem de várias espécies de artrópodes como moscas, mosquitos, traças e aranhas, as osgas são até bastante benéficas ao ser humano.
Nas noites quentes de verão é fácil encontrá-las a patrulhar muros ou paredes banhadas por algum tipo de luz artificial que atraia os insectos e, com alguma paciência, conseguimos aproximar-nos o suficiente para que possamos apreciá-las sem que as perturbemos. Embora muitas pessoas as considerem repugnantes, um olhar atento facilmente perceberá os pormenores que fazem delas um dos répteis mais bonitos que existem no nosso país.
O animal da foto era um juvenil com cerca de 5 cm e foi extremamente tolerante à minha aproximação.