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bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

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Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

23
Nov21

2º Censo Ibérico de Águia-pesqueira Invernante

Em janeiro de 2022 irá ser realizado pela segunda vez um censo ibérico da população invernante de águias-pesqueiras. Iniciativa original do portal avesdeportugal.info, este será o quinto censo desta espécie a ser levado a cabo no nosso país.

2º Censo Ibérico de Águia-pesqueira invernante

Os locais a visitar compreendem as zonas húmidas costeiras (estuários, rias e lagoas), bem como as grandes albufeiras do interior. 

Pandion haliaetusÁguia-pesqueira (Pandion haliaetus) Lezíria Grande de Vila Franca de Xira (23-12-2017)

Para participar autonomamente é necessário apenas possuir um par de binóculos e saber identificar uma águia-pesqueira. Pessoas que não possuam um (ou ambos) destes requisitos e ainda assim desejem participar nesta acção de ciência-cidadã, serão (dentro da medida do possível) colocadas com um observador mais experiente que possa assegurar a contagem.

censo_pandion_2022.JPGRede provisória de pontos de observação no estuário do Tejo - jusante

Pela terceira vez vou estar a coordenar as contagens na área do estuário do Tejo jusante (entre Pancas e o Seixal) e, se desejarem participar nesta área, podem entrar em contacto comigo através da caixa de comentários ou do email disponível no meu perfil. Caso o pretendam fazer noutra zona do país, podem à mesma contactar-me (eu encaminho-vos para o respectivo coordenador regional), ou enviar um email directamente à coordenação nacional através do endereço geral@avesdeportugal.info.

Venham passar uma manhã no campo e contribuir um bocadinho para o conhecimento sobre esta incrível ave de rapina. 

11
Jul21

Os Fenótipos e a Etologia - Patas & Garras

As patas são umas das partes anatómicas das aves que mais variam a nível de tamanho e formato. Se os pequenos passarinhos têm pernas relativamente curtas e finas, bem como dedos também eles finos e delicados, apropriados para se agarrarem aos pastos e ramos, as perdizes e codornizes têm patas mais fortes, adequadas a caminhar no solo, por exemplo. Há uma grande variedade de tipos de patas, pois estas tendem a reflectir com bastante fiabilidade o tipo de interacção que cada ave tem com o seu meio.

A verdade é que, se encontrássemos um destes membros perdido por aí, conseguiríamos provavelmente, com algum grau de certeza, saber a que grupo de aves teria pertencido.

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Uma águia a "surfar" um enorme peixe é uma das visões mais espectaculares que podemos ter nos nossos rios, estuários ou barragens. As patas destas rapinas especializadas na captura de peixes vivos possuem algumas das adaptações mais interessantes entre as aves, apresentando garras especialmente fortes e recurvadas, rugosidades com barbelas na pele e um dedo externo reversível, que lhe permite segurar os peixes com dois dedos para a frente e dois para trás. 

Águia-pesqueira (Pandion haliaetus)Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) Setúbal (26-12-2020)

 

As aves que se deslocam em meio aquático, quer apenas caminhem dentro de água, quer sejam nadadoras de superfície ou até mergulhadoras, desenvolveram também elas incríveis adaptações nos seus membros posteriores.

A maioria das aves nadadoras têm as patas colocadas bem atrás, em relação ao seu centro de gravidade, e possuem membranas interdigitais ou bolbos carnudos nos dedos, que lhes proporcionam uma melhor impulsão no meio aquático. Em terra seca, estes bichos são por norma desajeitados e relativamente lentos.

Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis)Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis) Sesimbra (20-01-2018)

Já as garças e limícolas, que procuram alimento em lodos ou águas rasas, tendem a ter patas compridas, para que possam manter o corpo a seco, e dedos longos, que lhes conferem um maior equilíbrio.

Garça-verde (Butorides virescens)Garça-verde (Butorides virescens) Almada (09-11-2018)

O camão é um caso talvez ainda mais radical de adaptação. Para além das pernas altas, que usa para caminhar dentro de água, os seus dedos são extremamente compridos e permitem-lhe segurar as grandes raízes de caniço das quais se alimentam. Há quem diga que o seu nome deriva mesmo deste facto, sendo uma corruptela da expressão "c'a mão".

Caimão (Porphyrio porphyrio)Caimão (Porphyrio porphyrio) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (27-02-2016)

 

Mas a água não é o único meio que requer uma anatomia adaptada. As aves trepadoras, como os pica-paus e as trepadeiras têm dedos curtos e unhas finas e afiadas que lhes permitem agarrar-se aos troncos das árvores (ou às rochas, no caso da trepadeira-dos-muros). Estas, em conjunto com algumas outras características anatómicas, permitem-lhes subir (ou descer, como é hábito dos passarinhos abaixo) troncos e postes em busca de alimento.

Trepadeira-azul (Sitta europaea)Trepadeira-azul (Sitta europaea) Cercal do Alentejo (14-04-2017)

 

"Armadas" com garras não menos afiadas e dedos mais poderosos, as patas das aves de rapina são sentença de morte para qualquer incauta presa que se deixe apanhar por elas. Com um forte aperto e as garras espetadas profundamente no seu corpo, o fim chega rápido e misericordioso (se é que tal termo pode ser aplicado à natureza).

Açor (Accipiter gentilis)Açor (Accipiter gentilis) Seixal (20-06-2021)

 

Como qualquer eng. mecânico poderia confirmar, ter a forma adequada à função é uma das melhores maneiras de garantir a eficiência dos recursos, minimizando ao máximo o desperdício de energia. Não há realmente engenharia melhor do que a da velha mãe natureza.

05
Mai21

Onde observar: Seixal - Ponta dos Corvos

A Ponta dos Corvos é uma restinga que separa o leito do rio Tejo das águas mais interiores do Sapal de Corroios. Pertencente ao concelho do Seixal, este pedacinho de terra detém bastante importância histórica, pois ali se estabeleceu, em 1947, a chamada Fábrica Atlântica de Seca de Bacalhau. Com uma área de aproximadamente 40 ha e cerca de 600 trabalhadores, esta era a maior fábrica deste tipo na região. Encerrada desde o ínicio dos anos 90, todas as suas infraestruturas, bem como os moinhos de maré nas proximidades, encontram-se hoje completamente entregues ao degredo.

Mas os valores históricos não são os únicos, nem (na minha óptica) os mais importantes valores desta zona. O Sapal de Corroios é um importantíssimo refúgio de vida selvagem, infelizmente também ele completamente ignorado pelo poder autárquico.

Ponta dos CorvosNascer do sol na Ponta dos Corvos (05-12-2015)

 

Apesar de massacrada com a grande quantidade de lixo por ali deixada e com uma perturbação relativamente constante, a biodiversidade deste local ainda é assinalavelmente interessante. Ali podemos encontrar várias espécies de plantas, bastantes insectos, alguns répteis e, claro, muitas aves. Entre estas últimas, sem dúvida que a mais vistosa é o flamingo-rosado.

Flamingo-rosado (Phoenicopterus roseus)Flamingo-rosado (Phoenicopterus roseus) (03-04-2017)

 

Mas a avifauna deste local não é composta apenas pelos pernaltas cor-de-rosa, é muito mais diversa e interessante. No inverno, as aves aquáticas e limícolas dominam a paisagem, pois encontram ali excelentes condições para descansar e procurar alimento. Desde os corvos-marinhos que eu pensava que fossem a razão do nome deste local (informação entretanto corrigida pelo Sr. Manuel da Costa, nos comentários abaixo), passando pelas garças, tarambolas, patos, pilritos, maçaricos, gaivotas, rolas do mar... podemos observar bandos de centenas ou milhares de aves, miríades de pequenos corpos emplumados que se deslocam, ao ritmo das marés, entre os lodos expostos pela baixa-mar e a vegetação que lhes serve de poiso durante a preia-mar.

Ganso-do-egipto (Alopochen aegyptiacus) (03-04-2021)Garça-branca-pequena (Egretta garzetta) (02-04-2021)Pilrito-comum (Calidris alpina) (10-01-2021)Rola-do-mar (Arenaria interpres) (10-01-2021)Perna-vermelha-comum (Tringa totanus) (10-01-2021)Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula) (08-12-2020)Colhereiro (Platalea leucorodia) (28-11-2020)Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola) (21-11-2020)Maçarico-real (Numenius arquata) (21-11-2020)Carraceiro (Bubulcus ibis) (15-11-2020)Tadorna (Tadorna tadorna) (06-05-2020)Gaivota-de-cabeça-preta (Ichthyaetus melanocephalus) (28-09-2019)Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos) (07-01-2018)Pilrito-das-praias (Calidris alba) (01-11-2017)Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus) (01-11-2017)Perna-verde-comum (Tringa nebularia) (14-01-2017)Pernilongo (Himantopus himantopus) (14-05-2016)Maçarico-galego (Numenius phaeopus) (28-04-2016)Pato-real (Anas platyrhynchos) (19-03-2016)Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) (21-02-2016)Garça-real (Ardea cinerea) (21-02-2016)Alfaiate (Recurvirostra avosetta) (05-12-2015)

 

Esporadicamente até por ali aparece alguma ave mais incomum ou mesmo rara. Não fosse a constante presença humana, a localização privilegiada deste local iria possivelmente atrair ainda mais destas aves.

Ganso-de-faces-pretas (Branta bernicla)Ganso-de-faces-pretas (Branta bernicla) (15-11-2020)

 

Outras aves, passeriformes e não só, frequentam as praias, os pastos, as ruínas e a vegetação de sapal. Várias espécies aparecem por ali na migração, como chascos e picanços, outras ficam para o inverno, como as petinhas, as lavercas e o pisco-de-peito-azul. Também há as que ali nidificam, como a poupa, o rabirruivo e o cartaxo. Se olharmos com atenção, podemos encontrar um variado leque de formas, cores e cantos...

Poupa (Upupa epops) (02-04-2021)Laverca (Alauda arvensis) (28-02-2021)Pega-rabuda (Pica pica) (30-11-2020)Petinha-dos-prados (Anthus pratensis) (01-11-2020)Fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) (28-09-2019)Cartaxo-comum (Saxicola rubicola) (01-11-2017)Gralha-preta (Corvus corone) (19-11-2016)Toutinegra-do-mato (Sylvia undata) (19-11-2016)Felosinha (Phylloscopus collybita) (27-10-2016)Cotovia-de-poupa (Galerida cristata) (27-10-2016)Chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe) (27-10-2016)Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) (27-10-2016)Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) (19-10-2016)Papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata) (28-08-2016)Pardal (Passer domesticus) (20-07-2016)Toutinegra-dos-valados (Sylvia melanocephala) (14-05-2016)Picanço-real (Lanius meridionalis) (28-04-2016)Melro-preto (Turdus merula) (23-04-2016)Picanço-barreteiro (Lanius senator) (23-04-2016)Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) (21-02-2016)Torcicolo (Jynx torquilla) (15-11-2020)Perdiz-vermelha (Alectoris rufa) (01-11-2017)
 

Mas estas aves, sejam elas aquáticas ou terrestres, não estão totalmente seguras e protegidas. Várias rapinas frequentam este recanto, em busca de presas. Se algumas se alimentam de insectos e pequenos vertebrados - ou até de peixe - outras tiram partido da fantástica quantidade de presas emplumadas que por ali existem. A águia-d'asa-redonda é comum ali, durante todo o ano, o falcão-peregrino também pode ser visto com frequência, bem como o peneireiro-vulgar. Também a icónica águia-pesqueira passa ali o inverno, usufruindo da abundância de poisos seguros no meio do sapal para devorar os peixes que captura nas águas do Tejo. Estas, entre algumas outras aves de rapina, constituem o topo da cadeia alimentar deste ecossistema.

Falcão-peregrino (Falco peregrinus)Falcão-peregrino (Falco peregrinus brookei) (02-02-2020)

Águia-sapeira (Circus aeruginosus) (02-01-2021)Coruja-do-nabal (Asio flammeus) (13-12-2020)Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus) (01-11-2017)Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) (14-01-2017)Peneireiro-vulgar (Falco tinnunculus) (21-02-2016)Águia-d'asa-redonda (Buteo buteo) (21-02-2016)

 

Mais abaixo, numa posição muito ingrata da cadeia alimentar, podemos observar por ali vários invertebrados, como gafanhotos e borboletas, alguns pequenos répteis e os sempre presentes caranguejos, nas zonas banhadas pelo rio. Pequenos e geralmente bem camuflados, estes bichos requerem a nossa melhor atenção, se os queremos encontrar. Mas vale a pena...

Lagarta de Trifoli (Lasiocampa trifolii) (03-04-2021)Besouro (Scarites cyclops) (03-04-2021)Caranguejo-verde (Carcinus maenas) (15-11-2020)Formiga-leão (Creoleon sp.) (26-05-2020)Mariposa (Diasemiopsis ramburialis) (26-05-2020)Esperança (Platycleis sp.) (26-05-2020)Moscardo (Dasypogon sp.) (26-05-2020)Neuróptero‑das‑duas-penas (Nemoptera bipennis) (26-05-2020)Larva de joaninha-de-sete-pintas (Coccinella septempunctata) (06-05-2020)Percevejo (Calocoris roseomaculatus) (06-05-2020)Mariposa (Idaea ochrata) (06-05-2020)Douradinha-do-arco (Thymelicus acteon) (06-05-2020)Cobra-de-pernas-tridáctila (Chalcides striatus) (06-05-2020)Lagartixa-verde (Podarcis virescens) (08-05-2017)

 

Também o coberto vegetal é interessante e até demasiado variado para os meus parcos conhecimentos. Assim, qualquer pessoa que por ali caminhe certamente encontrará uma ou outra plantinha mais vistosa, nem que sejam apenas aquelas cujas flores coloridas imediatamente nos chamam a atenção.

Cistanche (Cistanche phelypaea) (03-04-2021)Silene (Silene nicaeensis) (03-04-2021)Papoila (Papaver rhoeas) (03-04-2021)Goivo-da-praia (Malcolmia littorea) (02-04-2021)Jacinto-das-searas (Leopoldia comosa) (02-04-2021)Erva-gorda (Arctotheca calendula) (02-04-2021)Erva-vassoura (Phelipanche nana) (02-04-2021)Tremoço-azul (Lupinus angustifolius) (13-03-2021)Tomilho (Thymus sp.) (26-05-2020)Arméria (Armeria pungens) (06-05-2020)Erva-pinheira-enxuta (Petrosedum sediforme) (06-05-2020)Ansarina-dos-campos (Linaria spartea) (06-05-2020)
Alho-pôrro (Allium ampeloprasum) (06-05-2020)Botão-azul (Jasione montana) (06-05-2020)

 

As actividades de veraneio desregradas, a enorme quantidade de lixo deixada pelos mariscadores, a falta de fiscalização às actividades lúdicas como a canoagem ou o stand-up paddle, a falta de civismo em geral das pessoas que usufruem deste fantástico espaço, estão a pôr em perigo aquele que é, provavelmente, o maior valor natural deste concelho. Diz-se até que há planos para dinamizar e modernizar as praias da Ponta dos Corvos... a forma como isto será levado a cabo poderá vir a colocar (ou não) ainda mais pressão humana sobre o sapal.

Urge repensar a forma como vemos e utilizamos os nossos espaços naturais, tal como urge exigir às autarquias que protejam e cuidem destes frágeis paraísos. Isto se quisermos que as crianças do futuro ainda possam deslumbrar-se com a delicadeza dos flamingos e maravilhar-se com o voo rasante de um bando de milhares de limícolas... não num zoo, não num qualquer documentário da BBC, mas sim ali, quase à porta das nossas casas.

26
Mar21

Onde observar: Seixal - Parque Urbano da Quinta da Marialva

O concelho do Seixal tem alguns locais com excelentes condições para a Observação de Natureza, principalmente ao nível da avifauna. Desde que tomei residência no concelho, tenho vindo a explorar alguns destes locais com o intuito de ir registando e inventariando a biodiversidade que por aqui encontro. O resultado dos meus esforços, bem como dos esforços de muitas outras pessoas, pode ser verificado num projecto na plataforma iNaturalist, que já conta com mais de 9000 observações de cerca de 1400 espécies, registadas por mais de 160 observadores:

https://www.inaturalist.org/projects/biodiversidade-do-seixal

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Junto a Santa Marta do Pinhal existe o Parque Urbano da Quinta da Marialva, uma zona de lazer equipada com um circuito de manutenção, um parque geriátrico, um percurso pavimentado, vários relvados, um campo de basquetebol, um campo pelado de futebol, um parque infantil, uma zona de churrascos, um anfiteatro ao ar livre com palco para concertos e um pavilhão multiusos. Aqui ocorrem alguns eventos como a "Mostra de actividades económicas" (vulgo feira) mensal, as Festas de Corroios, ou a Feira Medieval de Corroios. Este parque é utilizado diariamente por dezenas de pessoas para fazer desporto, passear os cães, brincar com as crianças ou simplesmente passear e apanhar sol.

Não se pode dizer que seja um local com grandes valores naturais, uma vez que, tal como a maioria dos jardins no Seixal, é bastante insípido e despido de vegetação, mantendo apenas algumas árvores de médio/grande porte e uns poucos arbustos. Tem, no entanto, uma vala de escoamento de águas pluviais que consegue ser suporte para um ecossistema interessante e variado.

 

Bico-de-lacre (Estrilda astrild)Bico-de-lacre (Estrilda astrild) (13-10-2016)

Ao nível da avifauna, este parque tem 62 espécies registadas, sendo a maioria aves comuns que podem ser encontradas em qualquer outro parque ou jardim. Na vala facilmente encontraremos os exóticos bicos-de-lacre, fuinhas-dos-juncos, uma ocasional carriça, talvez uma alvéola ou duas e até um casal de patos-reais. Nos relvados pululam os melros e as invernantes petinhas-dos-prados, aparece uma cotovia de vez em quando, circulam os inevitáveis pardais e os estridentes estorninhos, em busca de vermes para se alimentarem. As árvores dão abrigo a piscos, pintassilgos, milheirinhas, gaios, trepadeiras, chapins e uma série de outros passeriformes.

Fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) (26-09-2020)Lugre (Spinus spinus) (15-03-2020)Alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea) (04-11-2017)Petinha-dos-prados (Anthus pratensis) (04-11-2017)Alvéola-amarela (Motacilla flava) (21-10-2017)Chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe)(11-10-2017)Papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata) (11-10-2017)Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) (11-10-2017)Gaio (Garrulus glandarius) (18-06-2017)Carriça (Troglodytes troglodytes) (01-04-2017)Andorinha-das-Chaminés (Hirundo rustica) (01-04-2017)Estorninho-preto (Sturnus unicolor) (01-04-2017)Cotovia-de-poupa (Galerida cristata) (01-04-2017)Melro-preto (turdus merula) (28-02-2017)Felosinha (Phylloscopus collybita) (25-02-2017)Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) (29-11-2016)Tentilhão-comum (Fringilla coelebs) (15-11-2016)Toutinegra-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala) (15-11-2016)Pardal (Passer domesticus) (15-11-2016)Milheirinha (Serinus serinus) (15-11-2016)Verdilhão (Carduelis chioris) (15-11-2016)Alvéola-branca (Motacilla alba) (27-10-2016)Gralha-preta (Corvus corone) (19-10-2016)Trepadeira-comum (Certhia brachydactyla) (19-10-2016)

Toutinegras, andorinhas, felosinhas, verdilhões, gralhas, tentilhões, chascos-cinzentos, papa-moscas, taralhões... uns no inverno, uns no verão, alguns apenas de passagem na migração e outros todo o ano. Para quem quiser andar de "olhos abertos", há sempre um espectáculo colorido para ver.

 

Periquito-comum (Melopsittacus undulatus)Periquito-comum (Melopsittacus undulatus) (25-02-2017)

E uma das mais coloridas aves que por ali costumavam andar era esta pequena periquita, escapada de alguma gaiola. Observei-a durante uns dois anos, até que deixei de a ver. Qual terá sido o seu destino?

Outras aves menos exuberantes vivem por ali as suas vidas calmas. A maioria de nós não olha duas vezes para um pombo-doméstico ou para uma rola-turca, mas não deixam de ter a sua beleza...

Rola-turca (Streptopelia decaocto) (15-11-2016)Pombo-das-rochas-doméstico (Columba livia) (19-10-2016)

 

Há no entanto aves que, apesar de comuns, não passam despercebidas. O rabirruivo-preto é uma dessas aves, pelo descaramento com que se aproxima de nós humanos, chegando mesmo a reclamar para si partes das nossas casas... esta ave tem o hábito de se aproveitar de recantos, caixas de estores, buracos nas paredes, ou qualquer zona nas nossas casas que lhe possa servir de suporte para o ninho. O que talvez algumas pessoas não saibam é que este passarinho tem um "primo" que nos visita raras vezes, quando em migração para África. O rabirruivo-de-testa-branca foi uma das maiores surpresas que já encontrei na Marialva.

Rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicurus phoenicurus) (04-11-2017)Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros) (01-04-2017)

 

Mas a maior surpresa foi outra. Duas aves das terras nórdicas que resolveram descer pela Península Ibérica e vir passar uns dias à Quinta da Marialva. Esta foi a única vez que observei esta espécie que é, para mim, o mais bonito dos tordos que ocorrem no nosso território:

Tordo-zornal (Turdus pilaris)

Tordo-zornal (Turdus pilaris)Tordo-zornal (Turdus pilaris) (26-11-2016)

 

Claro que há muito mais do que apenas aves naquele parque. A vegetação que cobre e circunda a vala, bem como algumas plantas por ali espalhadas e até a própria relva abrigam uma quantidade apreciável de pequenas criaturas.

Longicórnio (Cerambyx welensii)

Longicórnio (Cerambyx welensii) (10-06-2017)

 

Entre escaravelhos, caracóis, moscas, abelhas, aranhas, gafanhotos, vespas, cigarras, libelinhas, borboletas e mariposas, muitos outros invertebrados podem ser observados literalmente debaixo dos nossos pés, alguns deles bastante bem camuflados. Tenham cuidado com o que pisam...

Cigarrinha-verde (Cicadella viridis) (01-11-2020)Tira-olhos-menor (Anax parthenope) (26-09-2020)Mosca (Thereva sp.) (15-03-2020)Gorgulho (Lixus pulverulentus) (15-03-2020)Libelinha-anã (Ischnura pumilio) (13-03-2020)Abelhão-terrestre (Bombus terrestris) (13-03-2020)Axadrezada-comum (Carcharodus tripolina) (13-03-2020)Saltão-verde-maior (Tettigonia viridissima) (13-03-2020)Borboleta-da-couve (Pieris brassicae) (13-03-2020)Carochinha (Chrysolina bankii) (13-03-2020)Cigarrinha (Cercopis intermedia) (13-03-2020)Gafanhoto-ocre (Calliptamus barbarus) (04-08-2019)Vespa (Philanthus sp.) (04-08-2019)Cigarra-comum (Cicada orni) (04-08-2019)Libélula-de-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii) (04-08-2019)Iscnura-Ibero-Magrebina (Ischnura graellsii) (21-07-2019)Mosca-das-flores (Paragus quadrifasciatus) (21-07-2019)Percevejo (Eurydema ornata) (21-07-2019)Mosca-das-flores (Eristalinus aeneus) (21-07-2019)Abelha (Halictus scabiosae) (21-07-2019)Mosca-das-flores (Eupeodes corollae) (21-07-2019)Gafanhoto (Calliptamus sp.) (21-07-2019)Mosca-das-flores (Sphaerophoria sp.) (21-07-2019)Vespa-do-papel-europeia (Polistes dominula) (21-07-2019)Mosca (Família Sarcophagidae) (21-07-2019)Mosca (Coenosia tigrina) (21-07-2019)Y-de-prata (Autographa gamma) (15-03-2020)Azul-comum (Polyommatus icarus) (21-07-2019)

 

Obviamente, onde há insectos, há os que se alimentam deles. Não é difícil encontrar por ali alguns répteis e anfíbios, como lagartos, rãs, osgas e até serpentes.

Lagartixa-verde (Podarcis virescens)Lagartixa-verde (Podarcis virescens) (28-02-2017)

Rã-verde (Pelophylax perezi) (26-09-2020)Osga-comum (Tarentola mauritanica) (28-02-2017)

 

Mesmo os locais que entendemos como "nossos" são inevitavelmente refúgio de muitas outras criaturas. Por muito que tenhamos a tendência de nos consideramos o centro do universo, devemos aprender a conviver com elas e a respeitá-las, pois todas têm um papel a cumprir na ordem natural das coisas. Se o conseguirmos, facilmente chegaremos à conclusão que, na verdade, cabemos cá todos...

05
Mar21

Onde observar: Seixal - Santa Marta do Pinhal

O concelho do Seixal tem alguns locais com excelentes condições para a Observação de Natureza, principalmente ao nível da avifauna. Desde que tomei residência no concelho, tenho vindo a explorar alguns destes locais com o intuito de ir registando e inventariando a biodiversidade que por aqui encontro. O resultado dos meus esforços, bem como dos esforços de muitas outras pessoas, pode ser verificado num projecto na plataforma iNaturalist, que já conta com mais de 8000 observações de 1344 espécies, registadas por mais de 150 observadores:

https://www.inaturalist.org/projects/biodiversidade-do-seixal

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Santa Marta do Pinhal pertence à freguesia de Corroios e é um pequeno centro urbano composto maioritariamente por edifícios multi-familiares e por uma zona industrial. É limitado a Norte e a Este pela autoestrada nº 2, a Oeste por Vale Milhaços e a Sul por uma zona de antigos areeiros, hoje colonizados por matos e pinhal.

Vespa (Chrysura rufiventris)Vespa (Chrysura rufiventris) (26-04-2020)

O bairro dispõe de um jardim central relvado (com algumas árvores de médio/grande porte) que, por ser pensado exclusivamente para o lazer humano, é relativamente insípido no que toca a biodiversidade. Ainda assim, como muitos animais já se adaptaram a viver em meios antropogénicos, podemos encontrar vida um pouco por todo lado. Rolas-turcas (Streptopelia decaocto), melros (Turdus merula), rabirruivos-pretos (Phoenicurus ochruros), pintassilgos (Carduelis carduelis) e até os exóticos mainás-de-crista (Acridotheres cristatellus) coexistem por ali com os humanos e as suas barulhentas crias...

Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros)Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros) (11-05-2019)

 

No entanto o maior valor natural desta zona encontra-se na área a sul, onde antes existiam os areeiros. O abandono a que esses locais foram votados permitiu que a natureza se desenvolvesse e por ali podemos encontrar interessantes exemplos de vida animal e vegetal, dependendo da estação do ano.

Apesar do tipo de vegetação não ser exuberante nem propício a uma enorme diversidade de aves, é ainda assim possível observar várias espécies, como o pica-pau-malhado-grande (Dendrocopos major), a águia-d'asa-redonda (Buteo buteo), o abelharuco (Merops apiaster), a milheirinha (Serinus serinus), o verdilhão (Chloris chloris) ou o rouxinol (Luscinia megarhynchos), entre várias outras.

Milheirinha (Serinus serinus) (24-03-2020)Águia-d'asa-redonda (Buteo buteo) Santa Marta (14-02-2021)Alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea) (14-02-2021)Estorninho-preto (Sturnus unicolor) (01-12-2020)Cotovia-de-poupa (Galerida cristata) (02-05-2020)Rouxinol (Luscinia megarhynchos) (25-04-2020)Melro-preto (Turdus merula) (23-04-2020)Chapim-rabilongo (Aegithalos caudatus) (26-03-2020)Juvenil de cartaxo-comum (Saxicola rubicola) (26-03-2020)Bico-de-lacre (Estrilda astrild) (24-03-2020)Fuinha-dos-juncos (Cisticola juncidis) (24-03-2020)Verdilhão (Chloris chloris) (22-03-2020)

 

Entre as espécies vegetais que podemos observar na zona, encontram-se as minhas flores preferidas... orquídeas selvagens. Até hoje encontrei quatro espécies de orquídeas nos arredores de santa Marta: a erva-do-salepo (Anacamptis coriophora fragrans), a erva-língua-constricta (Serapias strictiflora), a erva-língua-menor (Serapias parviflora) e a abelheira (Ophrys apifera). Infelizmente, não deveremos voltar a ver algumas destas plantas, pois o habitat onde floresceram o ano passado foi soterrado pelas movimentações de terras junto ao novo complexo desportivo de Santa Marta. O desenvolvimento urbanístico pode proporcionar-nos comodidades e melhores condições de vida, mas cobra o seu preço...

Erva-do-salepo (Anacamptis coriophora ssp. fragrans)

Erva-do-salepo (Anacamptis coriophora fragrans) (25-04-2020)

Erva-língua-constricta (Serapias strictiflora) (26-04-2020)Erva-língua-menor (Serapias parviflora) (26-04-2020)

Abelheira (Ophrys apifera)Abelheira (Ophrys apifera) (24-04-2020)

 

Para delícia de alguns e arrepios de outros, facilmente encontraremos na zona uma variedade de espécies de répteis e anfíbios. Em Santa Marta já pude observar duas espécies de serpentes, duas espécies de sapos, uma salamandra e cinco espécies de lagartos. Infelizmente não os consegui fotografar a todos...

Sapo-corredor (Epidalea calamita)Sapo-corredor (Epidalea calamita) (30-04-2020)

Ovos de sapo-comum (Bufo spinosus) (13-02-2021)Osga-comum (Tarentola mauritanica) (13-02-2021)Larva de salamandra-de-fogo (Salamandra salamandra) (13-02-2021)Lagartixa-do-mato (Psammodromus algirus) (03-04-2020)Lagartixa-de-dedos-denteados (Acanthodactylus erythrurus) (03-04-2020)Lagartixa-verde (Podarcis virescens) (22-03-2020)

 

Até mamíferos selvagens como o coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) ou o sacarrabos (Herpestes ichneumon) convivem connosco de uma forma muito mais próxima do que imaginamos. Quantas vezes teremos passado por um deles, escondido nas ervas, a poucos metros dos nossos pés?

Coelho-Bravo (Oryctolagus cuniculus)Coelho-Bravo (Oryctolagus cuniculus) (22-03-2020)

 

E mesmo essa vegetação que os protege dos nossos olhos esconde muito mais do uns bichos e umas orquídeas... há surpresas muito agradáveis no coberto vegetal desta zona. É verdadeiramente fantástica a panóplia de cores e a miríade de formas que podemos observar, se caminharmos com atenção.

Cila-de-uma-folha (Scilla monophyllos) (13-02-2021)Papiro (Cyperus sp.) (03-06-2020)Suspiro-roxos-dos-jardins (Sixalix atropurpurea) (03-06-2020)Trevo (Vicia tetrasperma) (01-05-2020)Queiró (Erica umbellata) (01-05-2020)(Sesamoides spathulifolia) (01-05-2020)Tojo (Ulex sp.) (01-05-2020)Giesta-dos-jardins (Spartium junceum) (01-05-2020)Genciana-da-praia (Centaurium maritimum) (01-05-2020)Cebola-abrótea (Asphodelus ramosus) (30-04-2020)Trevo-de-folhas-estreitas (Trifolium angustifolium) (30-04-2020)Unha-de-gata (Ononis sp.) (30-04-2020)Tomilho (Thymus villosus) (26-04-2020)Língua-de-vaca-ondeada (Anchusa undulata) (26-04-2020)Trevo-amarelo (Trifolium campestre) (26-04-2020)Tripa-de-ovelha (Andryala integrifolia) (26-04-2020)Bela-manhã (Convolvulus tricolor tricolor) (25-04-2020)Focinho-de-rato (Misopates orontium) (25-04-2020)Murta (Myrtus communis) (24-04-2020)Ervilha-de-cheiro (Lathyrus odoratus) (24-04-2020)Rúcula (Eruca vesicaria) (24-04-2020)Mostardeira-branca (Sinapis alba) (24-04-2020)Erva-cidreira-brasileira (Lippia alba) (24-04-2020)Ervilhaca-peluda (Vicia villosa) (24-04-2020)Tintureira (Phytolacca heterotepala) (24-04-2020)Erva-toira (Orobanche crenata) (24-04-2020)Trevo-de-flores-reviradas (Trifolium resupinatum) (23-04-2020)Chícharo-bravo (Lathyrus cicera) (23-04-2020)Língua-de-cão (Cynoglossum creticum) (23-04-2020)Centáurea (Centaurium sp.) (23-04-2020)Margarida-do-monte (Bellis sylvestris) (23-04-2020)Calças-de-cuco (Gladiolus italicus) (23-04-2020)Ervilhaca-de-Bengala (Vicia benghalensis) (19-04-2020)Língua-de-ovelha (Plantago lagopus) (19-04-2020)Charuteira (Nicotiana glauca) (19-04-2020)Cornichão (Lotus sp.) (19-04-2020)Trevo-betuminoso (Bituminaria bituminosa) (19-04-2020)Arenária (Spergularia rubra) (19-04-2020)Esteva (Cistus ladanifer) (26-03-2020)Flor-de-ouro (Bellardia trixago) (22-03-2020)Fumária-dos-campos (Fumaria agraria) (22-03-2020)Ervilhaca-dos-campos (Lathyrus ochrus) (22-03-2020)Calcitrapa (Centranthus calcitrapae) (22-03-2020)Borragem (Borago officinalis) (22-03-2020)

 

Entre esta área mais verde e a zona urbanizada propriamente dita podem ser observadas centenas de espécies de invertebrados... até mesmo dentro de casa. Alguns destes animais serão mais agradáveis à vista do que outros, mas todos têm o seu papel nos ecossistemas que nos rodeiam. 

Mosquito (Nephrotoma sp.) (13-02-2021)Besouro-tigre-verde (Cicindela campestris) (13-02-2021)Aranha-tenaz (Dysdera crocata) (13-02-2021)Barata-americana (Periplaneta americana) (09-08-2020)Formiga-carrilheira (Messor barbarus) (01-05-2020)Mosca-abelha (Villa sp.) (01-05-2020)Gafanhoto‑de‑cabeça‑cónica (Pyrgomorpha conica) (01-05-2020)Borboleta-das-sardinheiras (Cacyreus marshalli) (01-05-2020)Mosca (Lomatia sp.) (30-04-2020)Besouro-tigre (Cicindela maroccana) (30-04-2020)Longicórnio (Pseudovadonia livida) (30-04-2020)Gorgulho (Mycterus curculioides) Santa Marta (25-04-2020)Escaravelho (Rhagonycha fulva) (24-04-2020)Mosca (Bombylella atra) (24-04-2020)Aranha (Mangora acalypha) (24-04-2020)Mariposa (Acontia lucida) (24-04-2020)Grilo (Eumodicogryllus bordigalensis) (24-04-2020)Percevejo-do-funcho (Graphosoma italicum) (24-04-2020)
Escaravelho (Hymenoplia sp.) (24-04-2020)Centopeia-castanha (Lithobius forficatus) (24-04-2020)
Escaravelho (Stenopterus mauritanicus) (24-04-2020)Escaravelho (Cardiophorus signatus) (24-04-2020)Saltão-verde-maior (Tettigonia viridissima) (23-04-2020)Mariposa (Coscinia chrysocephala) (23-04-2020)Longicórnio (Calamobius filum) (23-04-2020)Mosca (Empis tessellata) (23-04-2020)Pirilampo-lusitânico (Luciola lusitanica) (23-04-2020)Formiga-carpinteira (Camponotus sp.) (23-04-2020)Besouro-tigre (Lophyra flexuosa flexuosa) (23-04-2020)Caracol (Oestophora barbella) (23-04-2020)Escaravelho (Anthaxia parallela) (23-04-2020)Percevejo (Gonocerus insidiator) (23-04-2020)Bicha-cadela (Forficula auricularia) (20-04-2020)Tatuzinho-comum (Armadillidium vulgare) (20-04-2020)Caracoleta (Cornu aspersum) (20-04-2020)Ralo-das-vinhas (Gryllotalpa vineae) (19-04-2020)Aranha-caranguejo (Xysticus sp.) (19-04-2020)Mosca (Tachina magnicornis) (19-04-2020)Abelha-carpinteira-europeia (Xylocopa violacea) (19-04-2020)Percevejo (Eurygaster austriaca) (19-04-2020)Libélula-de-nervuras-vermelhas (Sympetrum fonscolombii) (18-04-2020)Percevejo (Coreus marginatus) (18-04-2020)Mosca-das-flores (Sphaerophoria scripta) (18-04-2020)Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) (18-04-2020)Douradinha-do-arco (Thymelicus acteon) (18-04-2020)Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) (18-04-2020)Escaravelho (Oedemera simplex) (11-04-2020)Percevejo-da-tília (Pyrrhocoris apterus) (18-04-2020)Milípede-português (Ommatoiulus moreleti) (18-04-2020)Bicho-de-conta (Porcellionides sexfasciatus) (18-04-2020)Percevejo (Closterotomus norwegicus) (18-04-2020)Caracol-das-tascas (Theba pisana) (18-04-2020)Mosca-de-banheiro (Clogmia albipunctata) (13-04-2020)Percevejo (Enoplops scapha) (11-04-2020)Percevejo (Centrocoris variegatus) (11-04-2020)Mosca-das-flores (Sphaerophoria scripta) (11-04-2020)Percevejo-mediterrânico (Carpocoris mediterraneus) (11-04-2020)Mariposa-mede-palmos (Eupithecia centaureata) (11-04-2020)Mosquito (subfamília Dolichopodinae) (11-04-2020)Jaquetão-das-flores-mediterrânico (Oxythyrea funesta) (11-04-2020)Mariposa-pluma (Crombrugghia laetus) (10-04-2020)Mariposa (Udea ferrugalis)(10-04-2020)Longicórnio (Agapanthia suturalis) (10-04-2020)Aranha-lince (Oxyopes sp.) (03-04-2020)Azul-comum (Polyommatus icarus) Santa Marta (03-04-2020)Besouro-do-cesto (Lachnaia tristigma) Santa Marta (03-04-2020)Cramera (Aricia cramera) (03-04-2020)Abelhão-terrestre (Bombus terrestris) (03-04-2020)Semente-de-lima (Oxycarenus lavaterae) (03-04-2020)Mosca-verde (Lucilia sp.) (26-03-2020)Bicho-de-conta (Armadillo officinalis) (26-03-2020)Abelha-melífera-ibérica (Apis mellifera iberiensis) (26-03-2020)Longicórnio (Agapanthia cardui) (22-03-2020)Borboleta-cauda-de-andorinha (Papilio machaon) (24-03-2020)Carochinha (Chrysolina bankii) (24-03-2020)Mariposa-mede-palmos (família Geometridae) (24-03-2020)Lagarta de mariposa (subfamília Arctiinae) (23-03-2020)Rubi (Callophrys rubi) (23-03-2020)Maravilha (Colias croceus) (23-03-2020)Ariana (Pararge aegeria) (22-03-2020)Longicórnio (Agapanthia cardui) (22-03-2020)Y-de-prata (Autographa gamma) (22-03-2020)Escaravelho (Oedemera flavipes) (22-03-2020)Mosca (Chrysotoxum sp.) (22-03-2020)Almirante-vermelho (Vanessa atalanta) (22-03-2020)Gorgulho (Lixus pulverulentus) (22-03-2020)Mosca (Conophorus sp.) (22-03-2020)Processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) (01-09-2019)

 

Até nos sítios mais insuspeitos podemos encontrar pequenas maravilhas, basta andarmos com atenção à natureza que nos rodeia. Da próxima vez que sair para um "passeio higiénico", esteja atento(a). 

13
Nov20

As aves e os seus habitats - Zonas intermarés: o lodo

Um habitat pode ser composto por um conjunto de diferentes biótopos, que não são mais do que áreas geográficas onde as condições ambientais são constantes ou cíclicas. Na verdade, grande parte dos habitats que existem no nosso país estão sujeitos a fenómenos periódicos que, de alguma forma, alteram as suas características.

Entre eles, as zonas intermarés serão, possivelmente, aqueles que apresentam a mais radical alteração de condições, num menor ciclo temporal. Margens ribeirinhas, praias, lagoas costeiras, sapais... consoante a geografia e geologia do terreno, as áreas deixadas a descoberto pela baixa-mar podem apresentar características muito diferentes. No entanto, há algo em comum em todos estes locais: o vai-e-vem regular das marés e o ritmo de vida que elas impõem às aves que ali se alimentam. Hoje vamos falar de um biótopo muito específico: as zonas de lodo.

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) Sado - Gâmbia (25-01-2020) (3).JPG

Pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica) Herdade da Gâmbia, Setúbal (25-01-2020)

 

Quando a maré retrocede, revelando paulatinamente os lodos repletos de pedaços de conchas e algas, as aves começam a mostrar-se, abandonando os locais onde repousam durante a preia-mar. 

Fuselo (Limosa lapponica) Seixal (11-10-2020)

Milherango (Limosa limosa) Lisboa (29-01-2016)

 

Surgem vindas das salinas circundantes, dos pequenos mouchões dos sapais ou da vegetação marginal dos rios e começam a distribuir-se pelas margens crescentes onde se vão alimentar, acompanhando o refluxo das águas.

Perna-verde-comum (Tringa nebularia) Seixal (10-03-2019)Borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula) Barreiro (05-01-2019)
Maçarico-galego (Numenius phaeopus) VN Milfontes (20-10-2018)Pilrito-pequeno (Calidris minuta) Parque Tejo, Lisboa (04-02-2018)

 

Várias espécies de límicolas percorrem os lodos húmidos em busca dos pequenos invertebrados dos quais se alimentam, chegando até a dar origem a bandos mistos com centenas ou mesmo milhares de indivíduos. Garças prospectam as águas rasas em busca de peixes incautos, flamingos filtram o lodo dentro de água, capturando os pequenos crustáceos que lhes dão a sua famosa cor, colhereiros "varrem" em busca de invertebrados e pequenos peixes. Podemos até encontrar passeriformes, como o pisco-de-peito-azul, nas zonas mais próximas da vegetação.

Colhereiro (Platalea leucorodia) Parque Tejo, Lisboa (04-02-2018)Flamingo-rosado (Phoenicopterus roseus) Seixal (03-04-2017)
Garça-branca-pequena (Egretta garzetta) Montijo (18-03-2017)Garça-real (Ardea cinerea) Parque Tejo, Lisboa (12-12-2015)

 

A questão da competição pelo alimento entre estas aves foi resolvida ao longo das eras, pela selecção natural. A diversidade de características físicas e comportamentais permite que coexistam num mesmo espaço.

Pilrito-de-bico-comprido (Calidris ferruginea) Seixal (01-11-2020)Íbis-preta (Plegadis falcinellus) Seixal (28-09-2020)
Frango-d'água (Rallus aquaticus) Sesimbra (13-06-2018)Maçarico-das-rochas (Actitis hypoleucos) Seixal (07-01-2018)
Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola) Amora (22-10-2017)Perna-vermelha-bastardo (Tringa erythropus) Vila Franca de Xira (27-08-2017)
Pilrito-comum (Calidris alpina) Península da Carrasqueira (01-05-2017)Perna-vermelha-comum (Tringa totanus) Seixal (05-02-2017)

 

Algumas possuem bicos longos, para procurar alimento que esteja enterrado mais fundo, outras têm bicos curtos para capturar pequenos animais que existem mais à superfície. Há as que têm patas mais longas e bicos como lanças afiadas, para poderem trespassar os peixes nas águas rasas e há os que desenvolveram bicos poderosos o suficiente para quebrar as cascas dos bivalves. Cada espécie está perfeitamente adaptada à forma como vive e se alimenta.

Guincho-comum (Chroicocephalus ridibundus) Seixal (10-03-2019)Narceja-comum (Gallinago gallinago) Sesimbra (01-11-2016)
Maçarico-real (Numenius arquata) Amora (15-08-2016)Pernilongo (Himantopus himantopus) Seixal (20-03-2016)
Maçarico-bique-bique (Tringa ochropus) Vila Franca de Xira (28-02-2016)Rola-do-mar (Arenaria interpres) Amora (28-01-2016)

 

Embora as espécies límicolas estejam geralmente em larga maioria, podemos também ali encontrar algumas gaivotas, rapinas, garças, patos e gansos. 

Ganso-bravo (Anser anser) Vila Franca de Xira (05-11-2017)Marrequinha (Anas crecca) Vila Franca de Xira (10-04-2016)

 

E de vez em quando, muito de vez em quando, surge uma daquelas aves especiais que todos os observadores gostam de encontrar. Uma raridade vinda de paragens longínquas que encontrou abrigo num qualquer lodaçal deste recanto à beira-mar plantado. Como aquela garça americana que descobriu guarida numa vala algures num sapal algarvio, ou o pequeno maçarico que escolheu o rio Sado para passar o inverno, por exemplo. 

Goraz-coroado (Nyctanassa violacea) Faro (04-06-2020)Maçarico-sovela (Xenus cinereus) Setúbal (09-11-2019)

 

Uma multiplicidade de formas, cores, sons e comportamentos... nestas zonas de aspecto escuro e monótono, mas ricas em alimento, a diversidade biológica é rainha. No entanto, passadas cerca de 6 horas, a maré virou e iniciou o seu avanço inexorável em direcção às margens, empurrando à sua frente esta miríade de aves que novamente ganharão os céus e se dirigirão aos seus locais de repouso. Mais um ciclo que se completa, numa dança interminável, ao ritmo das marés.

25
Out20

Mariposas - os coloridos mistérios nocturnos

A noite sempre foi palco preferencial para lendas e histórias assustadoras. As criaturas que nela vagueiam ainda hoje permanecem, aos nossos olhos, envoltas numa névoa de temor e mistério. Tememos irracionalmente o piar do mocho ou o silvar da coruja-das-torres, sobressaltamo-nos instintivamente com o repentino e silencioso bater de asas do morcego, enojamo-nos com a rastejante salamandra...

Até as borboletas, cujas versões diurnas nos deliciam com as suas cores e delicadeza, ganham uma conotação negativa quando vivem a coberto das trevas. "Traças", chamam-lhes alguns, com um esgar de desprezo.

Mariposa (Lythria sanguinaria) Lagoa de Albufeira - Cabeço da Flauta (19-05-2020) (5).JPGMariposa (Lythria sanguinaria) Lagoa de Albufeira, Sesimbra (19-05-2020)

 

Na verdade, o nome mais correcto a atribuir a estas borboletas noctívagas é o de "mariposas". A designação de "traças" deriva das espécies cujas larvas se alimentam do tecido das nossas roupas... mas, em Portugal, são pouquíssimas as espécies em que isto acontece (talvez meia dúzia), ao passo que as restantes borboletas nocturnas compreendem cerca de 2600 espécies. Ainda assim, provavelmente a sua má reputação deriva do facto de serem bichos pouco coloridos e de aspecto mais soturno, não é?

Mariposa (Acontia lucida) Seixal (03-06-2020)Mariposa (Cleta ramosaria) Cabo Espichel, Sesimbra (19-05-2020)Sangrenta-da-tasna (Tyria jacobaeae) Cercal do Alentejo (17-05-2020)Mariposa (Opisthograptis luteolata) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Mariposa-estriada (Spiris striata) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena, Sesimbra (21-08-2019)Mariposa-pluma (Crombrugghia laetus) Mata dos Medos, Almada (13-07-2019)

 

Não, nem por isso. As mariposas são tão ou mais coloridas do que as borboletas diurnas e são muito mais diversas no seu formato. De facto, entre cores pastel e outras mais garridas, estes animais surpreendem pela fantástica variedade de fenótipos que apresentam.

Mariposa (Watsonalla uncinula) Pancas, Benavente (28-07-2020)Mariposa (Pterostoma palpina) Pancas, Benavente (28-07-2020)Mariposa (Zygaena fausta) Serra da Arrábida (28-06-2020)Mariposa (Chrysocrambus dentuellus) Cabo Espichel (19-05-2020)Mariposa (Hypena obsitalis) Cercal do Alentejo (17-05-2020)Mariposa (Camptogramma bilineata) Fernão Ferro, Seixal (15-05-2020)Mariposa (Udea ferrugalis) Seixal (15-05-2020)Mariposa (Dyspessa ulula) Cabo Espichel (12-05-2020)
 

Talvez como meio de camuflagem, talvez com outro propósito evolucionário que escapa aos meus conhecimentos, a verdade é que esta multiplicidade de formas deu origem a animais lindíssimos que merecem ser observados com atenção.

Mariposa (Euchromius sp.) Pancas, Benavente (28-07-2020)Mariposa (Alucita grammodactyla) Lagoa de Albufeira (19-05-2020)Mariposa (Rhodometra sacraria) Seixal (24-04-2020)Mariposa (Coscinia chrysocephala) Seixal (23-04-2020)Mariposa (Gymnoscelis rufifasciata) Oliveira de Azeméis (14-09-2019)Mariposa (Scopula imitaria) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Mariposa (Cyclophora linearia) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Mariposa (Dysgonia algira) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) Seixal (01-09-2019)Mariposa (Itame vincularia) Quinta do Texugo, Almada (25-08-2019)Mariposa (Mormo maura) Cercal do Alentejo (11-08-2019)Mariposa (Timandra comae) Cercal do Alentejo (11-08-2019)Mariposa-Cigana (Lymantria dispar) Mata da Machada, Barreiro (13-07-2019)Mariposa (Zygaena trifolii) Zambujeira do Mar, Odemira (01-06-2019)Mariposa (Zygaena lavandulae) V.N. Milfontes (19-04-2019)Mariposa (Macrothylacia digramma) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena, Sesimbra (13-04-2019)Mariposa (Eupithecia centaureata) Seixal (11-04-2020)Mariposa (Menophra abruptaria) Oliveira de Azeméis (14-09-2019)
 

Até as suas lagartas são geralmente vistosas e extravagantes, embora algumas sejam tóxicas e perigosas para Homem e animais.

Mariposa-dos-sargaços (Psilogaster loti) Peninha, Sintra (29-09-2020)Mariposa (Ethmia bipunctella) Serra do Louro, Palmela (30-06-2020)Processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) Quinta do Texugo (16-02-2020)Processionária-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) Herdade da Aroeira, Almada (02-02-2020)
 

Pela sua ajuda no controlo de algumas plantas, pela sua contribuição para as cadeias tróficas, pelo seu importante lugar nos ecossistemas, pela sua beleza, estes pequenos bichos nocturnos merecem ser protegidos, acarinhados e apreciados. Afinal de contas, a noite não esconde apenas mistérios sombrios...

08
Jun20

Até os bichinhos gostam

Enquanto os humanos estavam fechados em casa, a sentir os efeitos da pandemia, a natureza lá fora seguia os seus timmings... a primavera chegou em força, os bichos saíram dos seus confinamentos invernantes e as feromonas libertaram-se no ar.

Besouro-tigre (Lophyra flexuosa ssp. flexuosa) Santa Marta (25-04-2020) (14).JPG

Besouro-tigre (Lophyra flexuosa ssp. flexuosa) Seixal (25-04-2020)

 

Primavera. É nesta altura do ano que grande parte dos animais se dedica a cumprir o seu maior propósito de vida: a propagação da espécie. Quaisquer locais, sejam eles matos, árvores, flores, ervas, caminhos, pedras ou até o próprio ar, podem ser palco de "tórridas" cenas de acasalamento que fariam corar a maioria dos humanos. 

Besouro-capuchinho (Heliotaurus ruficollis) Santa Marta (26-04-2020) (2).JPG

Escaravelho (Stenopterus mauritanicus) Santa Marta (24-04-2020) (4).JPG

Besouro-capuchinho (Heliotaurus ruficollis) Seixal (26-04-2020)Escaravelho (Stenopterus mauritanicus) Seixal (24-04-2020)

Borboleta-pequena‑da‑couve (Pieris rapae) Santa Marta (18-04-2020) (2).JPG

Percevejo (Enoplops scapha) Santa Marta (11-04-2020) (3).JPG

Borboleta-pequena‑da‑couve (Pieris rapae) Seixal (18-04-2020) Percevejo (Enoplops scapha) Seixal (11-04-2020)

Mosca-das-flores (Sphaerophoria scripta) Santa Marta (11-04-2020) (2).JPG

Jaquetão-das-Flores-Mediterrânico (Oxythyrea funesta) Santa Marta (11-04-2020) (3).JPG

Mosca-das-flores (Sphaerophoria scripta) Seixal (11-04-2020)Jaquetão-mediterrânico (Oxythyrea funesta) Seixal (11-04-2020)

Semente-de-lima (Oxycarenus lavaterae) Santa Marta (03-04-2020).JPG

Gorgulho (Lixus pulverulentus) Marialva (15-03-2020) (4).JPG

Percevejo-das-malvas (Oxycarenus lavaterae) Seixal (03-04-2020)Gorgulho (Lixus pulverulentus) Seixal (15-03-2020)

Gafanhoto-egípcio (Anacridium aegyptium) Fadagosa (08-06-2019) (3).JPG

Lagartixa-verde (Podarcis virescens) Marialva (25-04-2018) (3).JPG

Gafanhoto-egípcio (Anacridium aegyptium) Fadagosa (08-06-2019)Lagartixa-verde (Podarcis virescens) Seixal (25-04-2018)

 

Todo este espectáculo natural pode ser apreciado por qualquer pessoa que vá dar um passeio no campo ou até num qualquer parque ou jardim urbano, pois o pudor e a vergonha são construções sociais exclusivas da Humanidade que, ao longo do tempo, têm moldado a nossa percepção de um tema central na vida da maioria dos animais: o sexo. Tema este que tem sido alvo de livros, poemas, filmes, perseguições, tabus e até atrocidades. No entanto, é algo tão natural e essencial como respirar ou comer. Afinal... até os bichinhos gostam. 

05
Mai20

Bichos do mato: Aranhas - pesadelos de oito patas

Os invertebrados são dos animais menos conhecidos do público em geral. Embora estejamos constantemente rodeados deles, o seu tamanho e os seus hábitos fazem com que tantas vezes nem reparemos na sua presença.

Tecedeira-de-cruz-cosmopolita (Araneus diadematus) Oliveira de Azeméis (14-09-2019) (2).JPG

Tecedeira-de-cruz-cosmopolita (Araneus diadematus) Oliveira de Azeméis (14-09-2019)

 

Quando os descobrimos por perto, a nossa reacção automática é de matá-los, ignorando os grandes serviços que nos prestam, seja como polinizadores (e.g. abelhas e moscas) ou como controladores de pragas (e.g. aranhas e joaninhas). Como infelizmente tememos aquilo que não conhecemos bem, os insectos e aranhas tendem a gerar em nós reacções de medo e repulsa. 

Aranha-lince (Oxyopes lineatus) Serra de S. Mamede (08-06-2019).JPG

Aranha-lince (Oxyopes lineatus) Serra de S. Mamede (08-06-2019)

 

Mas... as aranhas não são insectos? 

Não. Os insetos (classe Insecta) têm o corpo dividido em três partes: cabeça, tórax e abdómen. Possuem três pares de patas, apresentam um par de antenas e têm um desenvolvimento indireto. Já os aracnídeos (classe Arachnida) apresentam o corpo dividido em duas partes: abdómen e cefalotórax. Possuem quatro pares de patas, quelíceras, não apresentam antenas e podem ter um desenvolvimento direto ou indireto.

Aranha-de-funil (Eratigena sp.) Oliveira de Azeméis (13-09-2019).JPG

Aranha-lobo-radiada (Hogna radiata) Cercal (12-08-2019) (4).JPG

Aranha-de-funil (Eratigena sp.) Oliveira de Azeméis (13-09-2019)Aranha-lobo-radiada (Hogna radiata) Cercal do Alentejo (12-08-2019)

 

Como é que estas exímias predadoras caçam? Bem, existem variadas técnicas nas quais cada espécie se especializa. Algumas tecem teias extremamente resistentes e impregnadas de uma substância adesiva em locais estratégicos, aguardando que algum insecto lá caia. Assim que tal acontece, atacam de forma fulminante, injectando-lhe veneno e embrulhando-o em seda para ser depois consumido. Outras espécies perseguem activamente as suas presas, muitas vezes saltando para as capturar. Há também aquelas que fazem emboscadas escondidas em fendas, buracos ou até mesmo camufladas nas flores das quais os insectos se alimentam.

Aranha-vespa (Argiope bruennichi) Serra da Freita (14-09-2019) (3).JPG

Aranha-tigre-lobada (Argiope lobata) EILP (21-08-2019) (6).JPG

Aranha-vespa (Argiope bruennichi) Serra da Freita (14-09-2019) Aranha-tigre-lobada (Argiope lobata) Espaço Interpretativo da Lagoa Pequena (21-08-2019)

 

Após capturarem as suas presas, as aranhas expelem um fluido digestivo para cima das mesmas começando assim o processo de digestão ainda fora do seu organismo. Após triturarem os pequenos animais com as quelíceras, reabsorvem os fluidos libertados, juntamente com a "carne". Deste processo sobra apenas uma pequena bola de resíduos, contendo as partes da quitina que a aranha é incapaz de digerir. Algumas espécies, como as aranhas caranguejo, injectam os fluidos digestivos no interior corpo das suas presas que são dissolvidas por dentro e sugadas de forma a que apenas resta uma carapaça vazia, ainda com a forma original do insecto.

Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Santa Marta (18-04-2020) (8).JPG

Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Santa Marta (10-04-2020) (2).JPG

Aranha-caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Seixal (18-04-2020)Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Seixal (10-04-2020)

Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Parque Luso (18-03-2020) (8).JPG

Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Cercal (11-08-2019) (5) (1).JPG

Aranha-caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Seixal (18-03-2020) Aranha-florícola-de-tubérculos (Thomisus onustus) Cercal do Alentejo (11-08-2019) 

As suas oito patas, o seu abdómen proeminente, os seus olhos (a maioria das aranhas tem quatro pares de olhos), os seus hábitos e até a forma como se movem constroem um aspecto geral repulsivo aos nossos olhos. Ainda assim, se conseguirmos observá-las de perto, podemos constatar que têm uma beleza muito própria, com formatos exóticos, cores garridas e padrões muito diversos consoante as espécies (e até por vezes com bastante variação individual).

Aranha (Mangora acalypha) Santa Marta (24-04-2020) (3).JPG

Aranha (Anelosimus sp.) Parque Luso (15-03-2020) (3).JPG

Aranha (Mangora acalypha) Seixal (24-04-2020) Aranha (Anelosimus sp.) Seixal (15-03-2020)

Aranha-Caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Santiago do Cacém (09-08-2019) (2).JPG

Solífugo (Gluvia dorsalis) Tejo Int. - Segura (17-06-2017) (2).JPG

Aranha-caranguejo-de-Napoleão (Synema globosum) Santiago do Cacém (09-08-2019) Solífugo ou Aranha-camelo (Gluvia dorsalis) Segura, Idanha-a-nova (17-06-2017)

 

Enquanto espécie, temos evoluído no sentido de tentarmos viver em ambientes cada vez mais estéreis, sem a presença de outros seres ao nosso redor. Esta tentativa pseudo-divina de nos distanciarmos fisicamente dos restantes animais resulta bastas vezes em autênticas barbaridades... por medo irracional destruímos criaturas que nos são inofensivas e úteis. Acarinhem as vossas aranhas, bem como as osgas, cobras e outros bichos que vos assustam, pois muitas vezes são eles quem nos protege de ameaças bem mais reais...

02
Mar20

Uma andorinha não faz a primavera

A origem do ditado que dá nome a este 'poste' - em latim "una hirundo non facit ver" - remonta a Aristóteles (348 a.C. - 322 a.C.) e tem como base uma simples, mas importante lição de vida: nunca devemos tomar o todo por uma das suas partes.

No que diz respeito às andorinhas, é óbvio que a observação de uma destas pequenas aves em janeiro ou fevereiro não significa que chegou a estação das flores. Mas... e se observarmos várias? Não é suposto chegarem apenas na primavera? "São as alterações climáticas", é a resposta mais provável nos dia que correm. A verdade é que, independentemente da ocorrência destas alterações, é normal que as andorinhas comecem a chegar em janeiro. Algumas espécies até passam todo o inverno por cá, em certas regiões do país. 

Mas, afinal as andorinhas não são todas iguais? Que espécies ocorrem em Portugal?

 

Andorinha-dáurica (Cecropis daurica) Cercal do Alentejo (25-03-2016) (3).JPGAndorinha-dáurica (Cecropis daurica) Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém (25-03-2016)

Em expansão desde há uns anos, a bonita andorinha-daurica tem-se tornado cada vez mais comum no nosso país, sendo geralmente observada por cá entre março e outubro. Nidifica principalmente debaixo de pontes e viadutos, construindo o ninho em forma de taça fechada, com um longo túnel de acesso. As partes inferiores e o uropígio de cor arruivada permitem distingui-la com alguma facilidade das restantes andorinhas.

 

Andorinha-das-barreiras (Riparia riparia) Corroios (03-04-2017) (12).JPGAndorinha-das-barreiras (Riparia riparia) Corroios, Seixal (03-04-2017)

Tal como o seu nome indicia, as andorinhas-das-barreiras constroem as suas colónias de nidificação em barreiras arenosas, onde escavam os pequenos buracos que lhes vão servir de ninho. Castanha nas partes superiores, apresenta o ventre e garganta de um branco sujo, com uma banda castanha a atravessar o peito. Podem ser observadas geralmente desde meados de fevereiro até setembro, altura em que migram para regiões mais austrais. 

 

Andorinha-das-Chaminés (Hirundo rustica) Marialva (01-04-2017).JPGAndorinha-das-Chaminés (Hirundo rustica) Corroios, Seixal (01-04-2017)

Esta é uma das espécies de andorinhas mais comuns em Portugal e provavelmente a mais emblemática. Sendo uma ave bastante urbana, é natural que seja também uma das mais facilmente reconhecíveis, com a sua barriga clara, a mancha avermelhada na garganta e a sua típica "cauda de andorinha" com as longas rectrizes externas. Os seus ninhos em forma de taça aberta, podem ser avistados isolados ou em pequenas colónias nas fachadas dos nossos prédios e casas, permitindo-nos muitas vezes observar os rituais diários da criação dos pequenos juvenis. A andorinha-das-chaminés é das primeiras aves estivais a regressar ao nosso país - sendo geralmente possível observar os primeiros indivíduos logo no início de janeiro - regressando a África nos finais de outubro. 

 

Andorinha-das-rochas (Ptyonoprogne rupestris) Alegrete (08-06-2019) (5).JPGAndorinha-das-rochas (Ptyonoprogne rupestris) Alegrete, Portalegre (08-06-2019)

Sem ser abundante a nível nacional, a andorinha-das-rochas é bastante mais comum no interior do país, na época de nidificação. Chegado o inverno, é também possível encontrar dormitórios de várias dezenas de indivíduos nalgumas falésias costeiras e até em edifícios, na metade sul do território. É totalmente castanha, com um tom mais claro na zona inferior do corpo. Apresenta uma cauda quadrada que, quando aberta, revela algumas pintas brancas conspícuas.

Os seus ninhos encontram-se geralmente isolados ou em colónias de pequenas dimensões e apresentam um formato de taça aberta, semelhante aos das andorinhas-das-chaminés, mas são construídos em anfractuosidades rochosas. Em certas regiões, é possível observá-las a nidificar também em zonas urbanas, sob as varandas das edificações.

 

Andorinha-dos-beirais (Delichon urbicum) Parque Bem-saúde (13-05-2017) (2).JPGAndorinha-dos-beirais (Delichon urbicum) Parque Bem-saúde, Lisboa (13-05-2017)

É a mais urbana das nossas andorinhas. A distribuição da andorinha-dos-beirais abrange a maioria do território, com especial incidência nas zonas de maior ocupação humana. Tem a cauda ligeiramente bifurcada, o dorso e asas escuros e a zona inferior totalmente branca (o que, em algumas regiões, lhe granjeou o nome de papalvo). Geralmente forma colónias de nidificação que podem atingir dimensões bastante consideráveis, construindo estruturas que podem chegar a ter vários níveis de ninhos. Estes ninhos apresentam um formato de taça fechada, apenas com um pequeno buraco como entrada. O maior número de efectivos chega a partir de fevereiro e permanecem no nosso território até finais do verão, altura em que é possível observar bandos de grandes dimensões, quando se preparam para migrar. 

---

A chamada 'sabedoria popular' é desenvolvida e propagada entre gerações numa base de conhecimento empírico, reconhecendo-se-lhe quase sempre um fundo de verdade subjacente. Ainda assim, é a visão científica que tantas vezes vem trazer luz sobre as situações descritas nos provérbios, explicando a sua  razão de ser. E, embora a ciência já tenha negado por completo alguns destes ditados, tal facto não invalida todo o restante conhecimento popular... afinal, "não é por morrer uma andorinha que acaba a primavera".

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