Coruja-das-torres (Tyto alba) Vila Franca de Xira (12-08-2021)
Estas belas aves nocturnas, em declínio no nosso país, convivem em relativa proximidade connosco, pelo que todos podemos ajudar a obter conhecimento sobre o número dos seus efectivos. Caso queiram participar no censo, basta seguir as instruções que estão no link que coloquei no início. Para esclarecimento de dúvidas, ou envio dados, podem contactar-me directamente através do endereço danny.bicho.do.mato@gmail.com.
O conhecimento é o primeiro passo para a conservação e a ciência cidadã pode ter uma palavra a dizer neste âmbito.
Para aqueles maluquinhos que fazem da observação de aves o seu hobbie (e às vezes a sua obsessão), as migrações primaveril (pré-nupcial) e outonal (pós-nupcial) apresentam oportunidades únicas de observação, pois trazem de passagem algumas espécies que dificilmente podemos observar noutras alturas do ano. A migração pós-nupcial é especialmente profícua, pois é no fim de verão/início de outono que as aves juvenis, nascidas mais a norte na Europa, empreendem a sua longa jornada a caminho de terras mais quentes... umas seguem para África, outras invernam por cá, na Península Ibérica.
Nesta época do ano, entre meados de agosto e meados de novembro (grosso modo), por todo o país surgem bichos de passagem, a caminho do Sul. É uma altura incrível, onde qualquer ave pode aparecer em qualquer sítio. Mas há um local específico para onde todos parecem convergir, tanto as aves como os observadores que as procuram.
Bem-vindos a Sagres, a capital da observação de aves em Portugal.
Mas o que torna esta região tão atractiva nesta altura do ano?
Bem, é sabido que ninguém nasce ensinado... nem mesmo os animais, por muito bons que sejam os seus instintos. Após a reprodução, com a diminuição de horas de luz do dia, as aves migratórias começam paulatinamente a encetar o seu percurso a caminho de paragens mais meridionais. Umas seguem em bando, outras de forma mais isolada, mas todas elas são empurradas para sul pela sua bússola interna. Sucede que os adultos, tendo já efectuado pelo menos uma migração anteriormente, têm o azimute mais afinado e seguem directos para Gibraltar, o ponto onde irão atravessar o Mediterrâneo.
Já os putos, mais inexperientes e destrambelhados, vão descendo o país um pouco mais "à toa", mais dependentes dos ventos e da orografia do terreno. Só "sabem" que têm que seguir mais ou menos para os lados do sul, mas não sabem a rota, pelo que muitos acabam por aproximar-se da costa oeste e utilizam o mar como rumo. No entanto, entrando na península de Sagres, voltam a dar de caras com o mar na costa sul, ficam baralhados e, muitas vezes, permanecem a circular ali na região vários dias até finalmente se orientarem e seguirem para Gibraltar.
Se há um espectáculo que merece ser visto pelo menos uma vez, por aqueles que têm fraquinho por estes bichos emplumados, é o de dezenas de indivíduos de várias espécies de aves planadoras a circular pelos céus, à procura do caminho para um sítio que nunca viram...
Mais para fins de outubro, é especialmente impressionante observar isto a suceder com bandos de centenas de grifos. Chega a haver milhares destas aves a circular pela região ao mesmo tempo.
Grifo (Gyps fulvus) Sagres (04-11-2021)
Não é, portanto, de estranhar que ali tenha nascido o Festival Observação de Aves & Atividades de Natureza de Sagres, que este ano teve a sua 13ª edição. Todos os anos, geralmente na semana do feriado do 5 de outubro, dezenas de visitantes de várias nacionalidades vão observar de perto a migração e participar nas diversas actividades disponibilizadas pela organização.
Mas as pessoas que se deslocam a Sagres nos inícios de outono não vão apenas à procura de rapinas. Entre aves residentes e migradoras, terrestres e marítimas, já foram observadas mais de 300 espécies na região. Há muito para ver...
Galheta (Gulosus aristotelis) Sagres (07-11-2021)Melro-de-colar (Turdus torquatus) Sagres (07-11-2021)Tordo-zornal (Turdus pilaris) Sagres (25-10-2019)Rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicurus phoenicurus) Sagres (06-10-2017)Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) Sagres (06-10-2017)Casquilho (Oceanites oceanicus) ao largo de Sagres (06-10-2017)Alma-de-mestre (Hydrobates pelagicus) ao largo de Sagres (06-10-2017)Alcatraz (Morus bassanus) ao largo de Sagres (06-10-2017)Toutinegra-de-bigodes (Curruca iberiae) Sagres (05-10-2017)Papa-amoras-comum (Curruca communis) Sagres (05-10-2017)Mocho-galego (Athene noctua) Vila do Bispo (02-10-2016)Trigueirão (Emberiza calandra) Sagres (02-10-2016)Torcicolo (Jynx torquilla) Vila do Bispo (30-09-2016)Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) Vila do Bispo (30-09-2016)Corvo (Corvus corax) Sagres (07-11-2021)Pardela-balear (Puffinus mauretanicus) Sagres (36-10-2019)Melro-azul (Monticola solitarius) Boca do Rio (10-06-2016)Chasco-ruivo (Oenanthe hispanica) Sagres (10-06-2016)
Entre todas estas espécies, há sempre algumas que chamam mais a atenção ou geram mais procura, quer seja por serem especialidades da região, ou por serem aves mais incomuns ou até raras.
Com tantas aves a circular na zona, é inevitável que acabem por interagir connosco e com o nosso modo de vida.
Esta interacção é especialmente preocupante nos parques eólicos da região, que representam um perigo muito real para grandes planadoras, como águias, cegonhas e abutres. As empresas gestoras destes parques contratam, no período mais crítico do ano, consultoras que colocam equipas no terreno, garantindo uma monitorização permanente. Estas equipas dispõem inclusivamente da capacidade de parar os geradores, em caso de perigo eminente. Felizmente, estas medidas de mitigação têm mostrado ser bastante eficientes.
Outras interacções aves/humanos podem parecer mais inócuas, mas nem sempre é bem assim.
Os extra-maluquinhos que se decidam a levantar bem cedo para dar uma volta pela zona, arriscam-se a ter surpresas como dar de caras com um bando de dezenas ou até centenas de abutres a dormitar no chão. Claro que a tentação de nos aproximarmos é bastante difícil de resistir... as fotos que poderíamos conseguir, se chegássemos perto...
No entanto, os resultados disso tendem a ser bastante perniciosos para as aves. O mais provável é que estas se vão assustar e levantar voo mais cedo do que o suposto, acabando por não descansar tanto quanto precisavam. Não esqueçamos que são aves enormes, a meio de uma viagem de milhares de km... toda a energia poupada é preciosa.
E, se os fizermos levantar voo assustados nas imediações de um parque eólico, mais do que meramente pernicioso, o resultado pode ser catastrófico.
Grifos (Gyps fulvus) Sagres (07-11-2021)
De qualquer forma, podemos apreciar à distância e até conseguir algumas fotos sem incomodar os bichos. Basta que tenhamos em mente mais o seu interesse do que o nosso.
As fotos acima foram todas conseguidas a uma distância segura, de dentro do carro, parado na berma de uma estrada alcatroada. Não serão imagens tecnicamente perfeitas, mas são excelentes recordações de um incrível "momento National Geographic", num dia em que decidi dar uma volta à toa, ao nascer do dia, sem percurso nem destino definidos.
Definitivamente, no outono, Sagres é o ponto de encontro dos que não sabem o caminho...
Fundada em 25 de Novembro de 1993, a SPEA começou por ser uma pequena associação dedicada à observação e ao estudo das aves. Desde então cresceu bastante e hoje é uma das maiores organizações não-governamentais de ambiente do país, tendo já dinamizado vários projectos LIFE, entre outros projectos de conservação.
A SPEA, parceiro português da BirdLife International, leva a cabo também vários projectos de monitorização de aves, nomeadamente censos como o CAC - Censo de Aves Comuns, as contagens RAM ou o Atlas de Aves Nidificantes, entre outros.
Tal como para a maioria de nós, este ano e o anterior têm sido especialmente duros para esta organização. Tendo o prazer de conhecer de perto alguns destes projectos e algumas das pessoas que ali trabalham, venho lançar-vos um apelo:
Associem-se a quem tanto faz pela Natureza que nos acolhe a todos e contribuam activamente para um futuro mais sustentável. Caso tenham interesse, podem saber como fazê-lo aqui.
Aqueles que não tenham interesse ou possibilidade de se associar, têm outras formas de contribuir, como a consignação de 0,5% do seu IRS.
Esta forma não tem quaisquer custos para o contribuinte, nem implica uma redução no reembolso do IRS. Simplesmente, 0,5% do IRS devido ao estado é entregue à instituição escolhida por nós. Quem não conhece este procedimento pode tirar dúvidas neste excelente artigo.
CENSO NACIONAL DE PERIQUITO-DE-COLAR (Psittacula krameri)
"O periquito-de-colar ou periquito-rabijunco (Psittacula krameri) é uma espécie originária dos continentes asiático e africano, mas que ocorre atualmente em inúmeras cidades do continente europeu. Estas populações, com origem provável em fugas de cativeiro, encontraram alimento, refúgio e locais adequados para nidificar nas áreas verdes dos grandes centros urbanos. Esta espécie exótica possui algumas das características típicas das espécies invasoras (boa capacidade de adaptação, reprodução rápida, agressividade) e nalguns locais onde já está estabelecida pode mesmo afetar as espécies nativas, ao competir por alimento ou locais de nidificação. É uma espécie gregária e muito social, que nidifica em buracos de árvores e que usa de forma regular dormitórios comunais, que podem reunir desde algumas aves até muitas centenas de indivíduos. De forma relativamente previsível, as aves tendem a retornar ao seu dormitório ao final do dia. Assim, a contagem nos dormitórios é o método habitual de censo da espécie."
Periquito-de-colar (Psittacula krameri) Quinta das Conchas - Lisboa (01-05-2018)
Como o conhecimento é o primeiro passo para a conservação, a SPEA vai realizar um censo destas aves, para que possamos ter a real noção do estado das suas populações e do risco a que estas possam estar a submeter as nossas espécies autóctones.
Vou ser coordenador regional voluntário para os concelhos de Almada e Seixal, portanto, caso queiram participar (em qualquer ponto do país) e tenham dúvidas de como o fazer, estejam à vontade para me questionar através da caixa de comentários ou por e-mail. Terei todo o gosto em esclarecer ou encaminhar as vossas questões.
Embora seja uma ave bastante comum nas nossas águas e muitas vezes avistada a partir da costa, não a encontraremos nas nossas praias ou falésias.
Alcatraz ou Ganso-patola (Morus bassanus) RN Berlengas (21-05-2017)
O alcatraz só poisa em terra firme quando está extremamente debilitado ou quando pretende nidificar. Mas, como esta espécie não nidifica no nosso país, as imagens que mais facilmente conseguiremos reter são o seu poderoso voo ou os seus espectaculares mergulhos quando caem a pique dos céus na tentativa de capturar um peixe mais descuidado.
Alcatraz ou Ganso-patola (Morus bassanus) RN Berlengas (21-05-2017)
Nesta espécie relativamente fácil de reconhecer devido ao seu porte e formato do corpo, os juvenis apresentam um tom pardo malhado ou manchado, ao passo que os adultos são essencialmente brancos com a ponta das asas preta. O seu corpo fusiforme permite-lhe os espantosos mergulhos e, quando visto ao longe, dá-lhe a aparência de ter duas cabeças - "uma para cada lado".
Alcatraz ou Ganso-patola (Morus bassanus) RN Berlengas (21-05-2017)
Numa visita da SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves) à Reserva Natural das Berlengas, tivémos a oportunidade de os ver bem de perto a rondar a embarcação e detectámos mesmo 3 destas belas aves poisadas num rochedo dos Farilhões, coisa que deixou todos a bordo bastante entusiasmados com a possibilidade de que estivessem a tentar nidificar por ali. É algo a tentar verificar no futuro...
Alcatraz ou Ganso-patola (Morus bassanus) RN Berlengas (21-05-2017)