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bicho do mato

Aqui fala-se de natureza, aves, bichos em geral e do que mais me passar pela cabeça

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24
Jun19

Visitantes transatlânticos

Todos os anos milhares de turistas visitam Portugal, vindos das mais diversas proveniências. Chegam em busca da nossa gastronomia, das belas e diversificadas paisagens, da história e cultura, das praias, do clima e claro, dos preços (ainda) bastante comportáveis para os habitantes da maioria dos países desenvolvidos. Em 2018 foram os ingleses que em maior número nos visitaram, seguidos por franceses, alemães e espanhóis. Apesar de andarem longe dos lugares cimeiros, o INE indicou que a afluência de visitantes transatlânticos tem vindo a aumentar (principalmente americanos e canadianos). No entanto, os humanos não são os únicos a cruzar o grande oceano que nos separa das Américas...  outros animais também vão aparecendo por cá.

 

Se alguns destes visitantes chegam ao nosso território por meios antropogénicos e bastas vezes permanecem, dando origem a populações invasoras mais ou menos auto-sustentáveis, há os que o fazem por meios próprios e que tendem a desaparecer tão rapidamente como apareceram.

Garça-verde (Butorides virescens) Aroeira (09-11-2018) (45).JPGGarça-verde (Butorides virescens) Herdade da Aroeira - Almada (09-11-2018)

Apesar de não existirem registos desta ave no nosso país até 2018, muitos já conheciam a garça-verde através da divulgação de vídeos onde é vista a utilizar pedaços de pão como isco para capturar peixes. Cerca de dez dias após a tempestade Leslie atingir Portugal (13-10-2018), foi registada uma destas garças na Quinta do Lago (Loulé) e mais dez dias passados foi descoberta uma segunda ave na Herdade da Aroeira (Almada). Possivelmente terão chegado à nossa costa empurradas pela tempestade e imediatamente procuraram habitats favoráveis. A ave de Almada foi observada pela última vez no início de novembro do mesmo ano e a algarvia teve a última observação registada dia 08-04-2019. Que destino terão? Podemos apenas especular...

Falsa-tartaruga-de-mapa (Graptemys pseudogeographica)Falsa-tartaruga-de-mapa (Graptemys pseudogeographica) Herdade da Aroeira - Almada (01-05-2019)

O comércio de animais exóticos tem crescido nas últimas décadas, levando a que múltiplas espécies de "animais de estimação" existam hoje no nosso país, geralmente confinados a gaiolas, terrários ou aquários. Mas, quando um destes animais deixa de ser desejado (seja porque cresceu mais do que se esperava, porque dá muito trabalho, porque come muito, ou por qualquer outra razão), muitas vezes acabam por ser "libertados" na natureza. Estes são autênticos crimes ambientais que podem acarretar consequências devastadoras para a nossa biodiversidade autóctone.

Tartaruga-da-Flórida (Trachemys scripta elegans) Parque da Paz (07-04-2016) (3).JPGTartaruga-da-florida (Trachemys scripta elegans) Parque da Paz - Almada (07-04-2016)

Um caso paradigmático é o da libertação de várias espécies de tartarugas exóticas nos nossos cursos de água. Estes animais crescem mais e mais depressa que os nossos cágados-mediterrânicos (Mauremys leprosa) e cágados-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis), atingem a maturidade sexual mais cedo e procriam em maior quantidade. Todas estas vantagens competitivas estão a ter um impacto negativo nas espécies autóctones. 

Borboleta-monarca (Danaus plexippus) Vila Nova de Milfontes (25-06-2016) (2).JPGBorboleta-monarca (Danaus plexippus) Vila Nova de Milfontes (25-06-2016)

Muitos conhecidas pela espectacular migração que protagonizam na América do Norte, desconhece-se como é que as monarcas chegaram ao nosso país. Há quem afirme que podem ter voado até cá desde os arquipélagos da Madeira ou dos Açores (há muito que existem colónias nas regiões autónomas), outros insinuam que terão sido introduzidas pela mão humana. Tendo a sua presença começado a ser estudada apenas no início da década de 2000 no Algarve, o  certo é que aproveitando-se da existência de uma planta também ela exótica (Gomphocarpus fruticosus - pertencente à mesma família das plantas das quais as suas lagartas se alimentam no continente americano, a Asclepia curassavica), esta vistosa borboleta tem vindo a formar colónias mais para norte. Até onde poderá chegar? Trará com ela consequências para as nossas espécies autóctones? É algo a descobrir nos próximos anos.

Mergulhão-caçador (Podilymbus podiceps) Sesimbra Natura Park (20-01-2018) (11).JPGMergulhão-caçador (Podilymbus podiceps) Sesimbra (20-01-2018)

Já este caçador de pequenas dimensões foi avistado por cá apenas três vezes... aparentemente aves que chegaram a nós pelos seus próprios meios, tendo atravessado o atlântico para chegarem a uma terra onde se instalaram sós, apenas para desaparecerem ao fim de algum tempo sem que seja conhecido o seu destino. Terão partido? Terão fenecido? Ainda estarão entre nós, escondidos nalguma barragem no interior do país? Como sempre, muitas perguntas, poucas respostas...

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